Maria Elenilda Vieira da Silva, de 28 anos, registrou no último dia 3 de julho um boletim de ocorrência na Central de Flagrantes, no bairro do Pinheiro, parte alta de Maceió. Ela relatou às autoridades como vinha sofrendo com ciúmes, perseguição e ameaças feitas pelo marido Cláudio Jackson Barbosa dos Santos, de 36 anos. Ela foi encontrada morta com ferimentos de nove tiros de arma de fogo 11 dias depois, dentro de casa, no Pontal da Barra. Ao lado dela estava o cadáver do esposo, que morreu com um disparo na boca.
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O programa Fique Alerta, da TV Pajuçara/Record TV, exibiu nesta terça-feira, 19, o boletim de ocorrência feito por Elen. Aos policiais, ela contou que conheceu Cláudio no trabalho em 2012 e que no início não notou nenhum comportamento agressivo ou dominador no companheiro.
"A partir do momento em que fui trabalhar em uma obra, em Pilar, ele passou a observar. Evitava brincadeiras e sorrisos para não confundirem com algum tipo de liberdade e pedia a ele para não se envolver no trabalho, pois sabia se comportar. Ele aparentemente me apoiou em tudo que fiz, sempre trabalhei, estudei e nunca saí muito. Ao certo, não sei quando tudo mudou. Porém, me recordo de algumas vezes em que fui ao médico e tive que fazer chamadas de vídeos ou ligar o tempo todo para provar onde eu estava".
Foto: Reprodução / TV Pajuçara |
Ciúmes e perseguições começaram em 2021 - Foi no primeiro semestre do ano passado que Cláudio começou a ter medidas mais perigosas, segundo depoimento de Elen à Polícia Civil.
"Em abril de 2021, o mesmo me deixou em um consultório médico no Farol e ficou aguardando escondido. Em ligação, Cláudio disse que estava na Barra, pois iria jogar bola com os amigos. Ao fazer um exame e ser encaminhada para a finalização dos demais em outra clínica, saí do consultório, logo avistei o carro e me direcionei até o mesmo. Quando me aproximei, ele logo questionou que palhaçada era aquela, quem eu tinha ido encontrar ali. Eu desconsiderei e pedi que o mesmo me levasse em outro consultório. Quando chegamos em casa, eu pedi para me separar, pois não aprovava aquela atitude e já não estávamos bem".
De acordo com Elen, Cláudio disse que não tinha motivo para separação e que poderiam tentar, que aquilo não mais aconteceria. "Eu não concordei, pois o mesmo vivia dizendo que eu o estava traindo. Então, sugerindo que ou nos separasse ou fôssemos na psicóloga, ele concordou".
"Transtorno de Personalidade de Paranoide" - Ao começar as sessões na terapia, Cláudio aparentemente havia apresentado melhora, pelo menos nas consultas diante da profissional.
"Iniciamos, fomos em algumas sessões e nada mudou. Nas sessões ele falava o que a psicóloga e eu gostaríamos de ouvir, mas quando saía de lá, tudo voltava ao normal. Eram perguntas e mais perguntas. Diante de tudo que expomos, a psicóloga disse que ele tinha transtorno de paranoide. A partir daí, ele não quis mais ir", disse Elen no B.O.
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Celular espionado - Ele continua a descrição citando que depois desse período passou a não ter mais privacidade até mesmo com próprio aparelho celular.
"Mais ou menos a partir dessa época, eu já não saía mais sozinha. Ele estava monitorando meu celular por um aplicativo que monitorava som ambiente, mensagens de texto, Whatsapp, Instagram e tudo que fazia pelo celular. Pediu para eu sair do trabalho, pois só a partir disso podíamos iniciar uma nova vida. Assim eu fiz, nada mudou. As brigas não pararam, na rua eu não podia olhar para o lado, tudo que acontecia à minha volta é culpa minha, ninguém pode me olhar. Em casa, já não consigo dormir direito. Estou sempre com medo de alguma coisa acontecer".
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Lágrimas e pedido de reconciliação - "Fui à Defensoria Pública e deixei agendado o dia para realizar a dissolução. Nesse momento, ele disse que não queria nada, pediu apenas que eu passasse o carro para o nome dele. Passei para que pudesse ocorrer tudo sem problemas. Ele vendeu o carro, saiu do trabalho, comprou outro carro e ficou somente fazendo alguns serviços como contador. Um dia antes do dia agendado (na Defensoria Pública), ele chorou rios e me convenceu de que devíamos tentar novamente", recordou a esposa.
Foto: Reprodução / TV Pajuçara |
Ameaças e invasão de privacidade pioraram - Apesar de acreditar na possível melhora do marido, Elen revelou que o comportamento agressivo e invasor voltou ainda pior logo depois.
"Hoje verifica todos os meus passos. Quando eu chego do trabalho, o mesmo pede para eu soprar para que ele possa sentir o cheiro. Verifica toda a minha roupa e depois que tiro, o meu corpo. Ele mexe nas minhas coisas e fica questionando tudo. Sempre que por descuido eu reajo, as ameaças aumentam. Ele deixa claro que vai fazer algo, só está vendo quando. No guarda roupa, reservou um espaço onde mantém uma fita adesiva cinza, um saco com enforca gato e uma caixa metálica com senha de segredo. Por todo o cenário e conversas descritas, tenho o receito que a finalidade seja me imobilizar e me fazer algum mal".
Foto: Reprodução / TV Pajuçara |
Fim trágico - O trecho final do boletim de ocorrência é com Elen pedindo socorro. "Me sinto atordoada, perseguida e sufocada. Me sinto sozinha e sem saber o que fazer para fugir dessa vida. Desejo solicitar o pedido de medidas protetivas para que possa afastá-lo do lar".
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Após 11 dias, Elen foi encontrada morta com nove ferimentos provocados por disparo de arma de fogo em várias partes do corpo. A Polícia Civil trata o caso como feminicídio.
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