Cineastas discutem se o pop deve ser categoria do Oscar

Publicado em 13/08/2018, às 19h31
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Por Folhapress

O que merece mais um Oscar: o Pantera Negra, herói que evoca a justiça racial, ou a Mulher-Maravilha, que propaga o poder feminino?
A pergunta não é mero devaneio de fórum geek. Ela irá martelar a cabeça dos mais de 6.000 membros da Academia. A entidade, responsável pela entrega da maior premiação do cinema hollywoodiano, quer criar a nova categoria de melhor filme popular.

A decisão, anunciada na semana passada, não esclarece os parâmetros que serão considerados para definir o que faz um longa ser popular. Afinal, já não é popular toda a produção que chega ao Oscar?
"Seria mais importante um longa popular entrar na categoria de melhor filme do que abrir uma nova categoria", opina o produtor brasileiro Rodrigo Teixeira, membro da Academia e indicado ao Oscar deste ano pelo drama "Me Chame pelo Seu Nome".

A linha é tênue, diz, ao elencar "Titanic", "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" e "Forrest Gump" entre os filmes ganhadores do Oscar que podem ser considerados pop.
Para a paulista Anna Muylaert, também convidada a fazer parte da Academia, popular é eufemismo para blockbuster.

"Os vencedores tradicionais têm algo a dizer, ainda que seja algo clichê", diz a diretora de "Que Horas Ela Volta?". "Já os blockbusters são pura diversão. Como avaliá-los? Pelo aspecto técnico?", questiona.
Segundo ela, "é natural a decisão de premiar os filmes que trazem dinheiro ao páreo". A diretora só não consegue citar em que filmes blockbuster votaria na categoria. "Não assisto, não indicaria nada."
Roberto Santucci, diretor de filmes que são o que há de mais próximo em termos de blockbuster no Brasil, louva a nova decisão da Academia.

"Filme pop é o que tem identificação com o grande público, de bilheteria arrasadora", diz o responsável pelas franquias "De Pernas pro Ar" e "Até que a Sorte nos Separe".
Indicado ao Oscar de filme estrangeiro por "O Que É Isso, Companheiro?", o carioca Bruno Barreto também elogia a criação da nova categoria.

"São os filmes que hoje em dia permanecem nos cinemas. Alguns são obras de arte. George Lucas, que criou 'Star Wars', é um artista. E acho 'Senhor dos Anéis' admirável."
Um dos renovadores da linguagem da TV e diretor de "Lavoura Arcaica", Luiz Fernando Carvalho acha que a novidade é "chover no molhado".

"O Oscar já contempla a eficiência, a larga escala, o industrial. O perigo é fortalecer um olhar hegemônico", diz. "A Academia devia pensar no extremo oposto, nos filmes que propõem olhares alternativos, novas estéticas."

Se o critério para eleger filme popular for bilheteria, "isso será um equívoco enorme". "Audiência não dignifica nada. A bilheteria é induzida por publicidade", afirma Carvalho.
Uma questão que se impõe com o novo anúncio é a de propor uma diferenciação entre baixa cultura e alta cultura.

"Esse já é um tema superado", diz a diretora Gabriela Amaral Almeida, do filme "O Animal Cordial", em cartaz. "Cinema é arte de massa por definição. Hitchcock não seria um cineasta popular?"
Para além de questões culturais, a Academia se bate com crises de representatividade. A audiência da cerimônia na TV caiu 19% em relação a 2017, o que também obrigou a entidade a estipular que a próxima edição será limitada a três horas de duração e que parte das categorias serão anunciadas nos intervalos.

Houve, de fato, críticas nas redes sociais quanto à ausência de "Mulher-Maravilha" entre os indicados deste ano.
A justificativa por si só não convence o produtor Rodrigo Teixeira, invocando a audiência, menor, das premiações People's Choice Awards e MTV Movie Awards, que só concedem estatuetas a produções eleitas pelo público.

A mesma relação foi traçada pelo jornalista Scott Feinberg, especialista em premiações, no site da revista The Hollywood Reporter.
"Mais do que a duração da transmissão ou o apresentador, a audiência do Oscar tem relação com a popularidade dos filmes indicados", escreveu. "E o abismo entre o que o público vê e o que Academia premia nunca foi tão grande."

Outro abismo é o que há entre os mundos representados nos filmes e os mercados onde essas produções são escoadas. Países como a China são hoje determinantes para o êxito de um blockbuster, por exemplo.
Fulminada em edições passadas por pouca representatividade étnica e de gênero entre os indicados, a Academia pôs mudanças em marcha. Dos novos 928 convidados a integrar a entidade, 49% são mulheres e 38% são não brancos.

Maiores bilheterias da história nos EUA
9 entre 10 foram indicadas a melhor filme no Oscar

1. ...E o Vento Levou (1939)
US$ 1,87 bilhão (R$ 7,2 bi)

2. Guerra nas Estrelas (1977)
US$ 1,65 bilhão (R$ 6,35 bi)
perdeu o Oscar para 'Noivo Neurótico, Noiva Nervosa'

3. A Noviça Rebelde (1965)
US$ 1,32 bilhão (R$ 5,08 bi)

4. E.T.: O Extraterrestre (1982)
US$ 1,31 bilhão (R$ 5,04 bi)
perdeu o prêmio para 'Gandhi'

5. Titanic (1997)
US$ 1,26 bilhão (R$ 4,83 bi)

6. Os Dez Mandamentos (1956)
US$ 1,21 bilhão (R$ 4,67 bi)
perdeu para 'A Volta ao Mundo em 80 Dias'

7. Tubarão (1975)
US$ 1,19 bilhão (R$ 4,57 bi)
perdeu para o filme 'Um Estranho no Ninho'

8. Doutor Jivago (1965)
US$ 1,15 bilhão (R$ 4,43bi)
perdeu para 'A Noviça Rebelde'

9. O Exorcista (1973)
US$ 1,03 bilhão (R$ 3,94 bi)
perdeu para 'Golpe de Mestre'

10. Branca de Neve e os Sete Anões (1937)
US$ 1,01 bilhão (R$ 3,89 bi)
não foi indicado a melhor filme, mas Disney ganhou um Oscar honorário pela obra

Fonte: Box Office Mojo; valores corrigidos pela inflação

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