ChatGPT imita Chico Buarque, mas explica mal como funciona; saiba como usá-lo

Publicado em 06/02/2023, às 15h49
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Por Pedro Teixeira/Folhapress

O transformer que gerou burburinho neste começo de ano não foi um carro que se transforma em robô de guerra, e sim o site ChatGPT. Em segundos, ele transforma um pedido para escrever uma música com o estilo de Chico Buarque sobre saúde sexual numa letra com 24 versos. O refrão, porém, soou sem ginga, como se fosse máquina: "Porque a saúde mental é tão importante/ Assim como a saúde sexual/ E precisamos falar sobre isso/ Para vivermos de forma saudável."

A sigla GPT dá pistas de como isso foi feito, significa Generative Pre Trainer Transformer: um modelo computacional treinado previamente com textos de toda a internet para tornar uma pergunta ou pedido em uma resposta coerente e natural. Generativo porque dá impressão de que algo novo foi criado.
O próprio robô falha em explicar muito bem como funciona. Questionado pela reportagem, deixou a resposta abaixo.

"ChatGPT usa técnicas de aprendizado de máquina para aprender a gerar texto de forma autônoma. Ele é baseado em algoritmos de redes neurais, especificamente no modelo GPT, que é treinado com grandes conjuntos de dados de texto para aprender a reconhecer padrões e gerar texto coerente e natural. Ele é capaz de produzir respostas para perguntas e tarefas de geração de texto sem ser explicitamente programado para isso".

Em suma, o treinamento com textos de toda a internet fez o tal modelo GPT criar 175 bilhões de regras. O robô recebe um texto e entrega a resposta mais provável com base nessa miríade de condições, muitas delas só compreensíveis por máquinas.

"É uma caixa preta", diz o professor de computação da USP de São Carlos André Carlos Ponce de Leon. Mas o ChatGPT funciona e tem conquistado adeptos ao redor do mundo. Sam Altman, CEO da OpenAI, dona do robô, disse que em cinco dias de funcionamento conseguiu um milhão de usuários. No fim de janeiro, já somava 100 milhões, segundo o banco de investimento UBS.

Qualquer pessoa pode acessar, no site da OpenAI, a versão beta robô conversador, embora a imensa demanda faça o ChatGPT responder, com frequência, que está ocupado. A startup anunciou nesta quarta-feira (1º) uma versão 'plus' do chatbot por US$ 20 —R$ 101, na cotação atual— que promete funcionamento 24 horas por dia, mas o serviço, por enquanto, está disponível só nos Estados Unidos.

Na ocasião em que o teste foi possível, foi permitido à reportagem fazer dez perguntas por hora. Elas serviram para testar se o robô realmente não reproduz preconceitos e discurso de ódio, como a OpenAI havia prometido em comunicado. Seu predecessor, o GPT-3 perdeu credibilidade ao reproduzir até ideias nazistas.

A Folha perguntou ao ChatGPT onde encontrar pornografia. A resposta foi: "Eu não vou fornecer informações sobre conteúdo adulto ou ilegal. Se você precisa de ajuda para lidar com problemas relacionados a conteúdo adulto, recomendo procurar ajuda profissional".

A reportagem aproveitou para comprovar se o robô consegue retomar trechos prévios da conversa e pediu a composição com estilo de Chico Buarque sobre o tema. Funcionou.

Para facilitar a redação de scripts de computação, programadores também relatam nas redes sociais ter recorrido ao ChatGPT, que desempenha melhor nessa atividade do que em criações artíticas.

Com a ajuda do ChatGPT, o professor de estatística da USP Alexandre Patriota diz ter conseguido programar uma rede neural convolucional com linguagem R. Precisou apenas fazer pequenas correções. O caso está gravado no YouTube.

Patriota afirma que o robô é um assistente virtual eficiente para profissionais de qualquer área do conhecimento. Quem utilizar a tecnologia, entretanto, precisa se responsabilizar pela produção e corrigir eventuais falhas. De acordo com a revista Nature, o ChatGPT já foi listado como coautor em ao menos quatro artigos científicos.

Há temores que estudantes usem a tecnologia para entregar ensaios sem se esforçar, ou que a ferramenta vire uma máquina de produção de plágio ou até de desinformação. A ferramenta, aliás, pode inventar referências acadêmicas, misturando diferentes textos que processou no treinamento.

O CEO da OpenAI, Sam Altman, disse em entrevista ao StrictlyVC, veículo digital que cobre inovação no Vale do Silício, que sua equipe fará ajustes no curto prazo. Nesta quarta, a startup lançou uma ferramenta para identificar textos gerados por inteligência artificial, mas a própria companhia reconhece que a tecnologia é muito imprecisa quando aplicada em textos com menos de 1.000 caracteres.

"Pode haver algumas formas de nós ajudarmos professores a serem capazes de reconhecer respostas dadas pelo ChatGPT. Nós nos adaptamos a calculadoras e mudamos o que era testado nas disciplinas de matemática. Essa é uma versão mais extrema disso, sem dúvida. Mas os benefícios disso também são mais extremos", afirmou.

O ChatGPT também não tem acesso a informações referentes a fatos posteriores a 2021. Não consegue responder, por exemplo, quem é o presidente do Brasil.

Saiba como conversar com o robô inteligente - O ChatGPT está disponível para teste gratuito no site da OpenAI e pode ser acessado neste link.
Para conversar com o chatbot pela primeira vez, é necessário criar uma conta na OpenAI, clicando na opção "Register".

A plataforma pede apenas a criação de uma senha de acesso e a informação de um email, para o qual é enviada uma mensagem de confirmação. A verificação exige que o usuário clique no link indicado no corpo do email.

Após a confirmação, basta selecionar a opção "Login" e inserir as informações de acesso. A OpenAI, então, pede o nome do usuário e, se houver, a organização da qual ele faz parte. Depois, um número de telefone, a ser verificado por SMS.

A criadora do ChatGPT oferece, então, acesso ao robô. Cada usuário pode fazer 10 perguntas por hora no chat da plataforma. A tecnologia processa com precisão apenas pedidos com menos de 2.048 com caracteres, contando espaços.

A conta na OpenAI também garante acesso ao Dall-E, plataforma de inteligência artificial que gera imagens com base em texto.

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