Três anos já passaram e a família do servente de pedreiro Jonas Seixas da Silva ainda aguarda o julgamento dos cinco policiais militares acusados de sequestro, tortura, homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Jonas desapareceu no dia 9 de outubro de 2020, na Grota do Cigano, em Maceió, após uma abordagem policial quando, na ocasião, os PMs teriam dito que o levariam até a Central de Flagrantes. No entanto, o servente de pedreiro não foi mais visto pelos familiares e o corpo dele não foi encontrado.
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A mãe de Jonas, dona Claudineide, conversou com o TNH1 nesta segunda-feira, 9, e comentou sobre a aflição pela espera do julgamento, assim como a dor em não saber o que aconteceu com o filho. A mulher destacou que ainda sonha com Jonas e que a condenação dos cinco réus "acalmaria o coração" dos familiares, mesmo sem trazê-lo de volta.
"Desde que ele sumiu, eu não fui mais a mesma. Tenho até medo quando vejo um carro da polícia passando, por isso fico até mais em casa. O julgamento desses policiais acalmaria mais o meu coração. Eu vejo ele chegando na porta, eu ouço ele falando, eu sonho com ele. Como não encontraram nenhum corpo, eu prefiro acreditar que meu filho ainda está vivo e que vai voltar. Eu espero ver ele chegar a qualquer momento", disse a mãe.
Claudineide afirmou ainda que a família atualmente passa por dificuldades financeiras e que Jonas era um trabalhador que colocava recursos dentro de casa. "Cadê a ordem de prisão que não apareceu até hoje? Por que fizeram isso com o meu filho? Por que tiraram ele da nossa casa, da nossa família? A gente está passando por dificuldades, e os filhos dele, duas crianças, falam que se o pai estivesse aqui, a gente não estaria passando por isso".
Também em contato com o TNH1, o advogado da família, Arthur Lira, disse que o processo foi complexo do ponto de vista das provas processuais. "Houve toda uma investigação criminal, que necessitou de um tempo a mais, porque teve quebra de sigilo telefônico, quebra de GPS das viaturas da Polícia Militar. Então houve a instrução processual, com cinco audiências, pois foram cinco réus, testemunhas de acusação, de defesa, e aí todo mundo foi ouvido", iniciou.
"Em março de 2022, houve a decisão de pronúncia, no juízo da 7ª Vara Criminal, que é aquela decisão que os réus precisam ir ao júri popular. A defesa apresentou recurso ao Tribunal de Justiça, e ele foi julgado em agosto de 2022, e o TJ manteve a decisão de pronúncia. Só houve o detalhe de que, na ocasião, o TJ concedeu a liberdade a eles, pois até então, eles estavam presos. Como passou a instrução criminal, o Judiciário entendeu que seria necessária a troca da prisão preventiva por medidas cautelares", continuou.
Lira informou que a defesa dos policiais apresentou recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e que ele ainda não foi julgado. "Também em agosto de 2022, a defesa apresentou recurso especial ao STJ, e ainda está nesse trâmite. Certamente com a manutenção da decisão, o processo volta para a 7ª Vara Criminal e aí fica apto para a marcação para o tribunal do júri. Então encontra-se em grau de recurso. Mantendo a decisão, vai à júri popular. Acredito que nesse semestre, ou no mais tardar, no primeiro semestre de 2024", acrescentou.
O advogado da família acredita na condenação dos réus. "Confiamos na Justiça, a decisão do juiz de 1º grau foi muito substancial, com muito capricho, do ponto de vista técnico, e das provas que foram obtidas no processo. Posteriormente a isso, a decisão do TJ em manter a decisão corrobora a ideia que nós trabalhamos. E acredito que o STJ vai manter a decisão de pronúncia. Com isso, o caso vai a júri popular e esperamos que o corpo de jurados identificados em período oportuno condene os réus nos crimes previstos na denúncia, por tortura, homicídio, sequestro e ocultação de cadáver".
O caso - Jonas Seixas desapareceu no dia 09 de outubro de 2020, quando foi visto pela última vez ao ser abordado por policiais militares, na comunidade Grota do Cigano, no bairro Jacintinho. Durante a abordagem, segundo informações, a polícia informou que levaria Jonas Seixas até a Central de Flagrantes, no bairro do Pinheiro. No entanto, o servente de pedreiro não foi mais visto pelos familiares.
Após a investigação apontar envolvimento dos militares, a Corregedoria da Polícia Militar (PM) decidiu pelo indiciamento dos envolvidos no desaparecimento. Foi identificado indícios suficientes para afirmar que o terceiro sargento Fabiano Pituba Pereira, o cabo Tiago Asevedo Lima, o soldado Jardson Chaves Costa, o soldado João Victor Caminha Martins de Almeida e o soldado Filipe Nunes da Silva cometeram os crimes de sequestro qualificado, tortura, homicídio qualificado e ocultação de cadáver.