Contextualizando

O caso da ministra Simone Tebet e de tantos outros: “Vale tudo para estar no governo?”

Em 10 de Agosto de 2023 às 17:50

Texto de Nuno Vasconcelos, no portal “IG”:

“A dois meses de se completar um ano do primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 — o que acontecerá no dia 2 de outubro —, a ex-senadora e atual ministra do Planejamento Simone Tebet (MDB-MS), que ficou em terceiro lugar naquela disputa, vê escorrer entre os dedos o capital político que conquistou por seu desempenho nas urnas. Com apenas 53 anos e uma carreira inteira pela frente, Simone parece ter virado as costas para a própria trajetória ao esquecer as críticas que, no passado, fez ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva e aceitar de bom grado o convite para apoiá-lo no segundo turno em troca de um posto no ministério.

Os termos do acordo que a instalou na Esplanada dos Ministérios, como não poderia deixar de ser, foram negociados antes da realização do segundo turno. Isso era fundamental para que os 4.915.423 eleitores que confiaram em Simone — e foram responsáveis por 4,16% do total de votos válidos naquele pleito — se sentissem motivados para dar seu apoio ao petista na reta final da disputa.

É impossível saber quantos desses eleitores a acompanharam e ajudaram Lula a conquistar a vitória no segundo turno. O certo, porém, é que o efeito positivo da atitude de Simone parece ter sido maior para o candidato que apoiou do que para a sua própria carreira. A atitude foi mal recebida por um grupo de eleitores que tinham votado nela justamente por ser uma alternativa a Lula e Bolsonaro e que não ficaram satisfeitos quando ela decidiu utilizar o cacife eleitoral conquistado com a ajuda desse grupo para pedir votos para o petista no segundo turno.

Recordar esse fato e as discussões em torno da chamada terceira via nas eleições passadas é importante — até porque, pelo andar da caravana, o tema deverá voltar ao debate em 2026. A questão é: até que ponto é certo (ou ético) um candidato se dirigir ao eleitor com um determinado tipo de discurso, atrai-lo com a promessa de uma determinada postura e, na sequência, usar o prestígio conquistado nas urnas para fazer o oposto do que esse eleitor esperava que fizesse?

O caso se Simone Tebet é emblemático. E ganha um peso especial neste momento em que Lula assume a intenção de fazer alterações no ministério e abrir espaço em sua equipe para políticos que apoiaram seu adversário no primeiro e no segundo turnos da eleição passada. O objetivo é garantir a governabilidade e o presidente tem todo o direito de agir dessa maneira. Ele tem autoridade para definir os critérios que utiliza para preencher os cargos de confiança em seu governo.

O problema, portanto, não é de Lula, mas do político que aceita uma vaga no governo de um presidente que criticava de forma virulenta menos de um ano atrás. Um político que era xingado de todos os nomes pelos políticos dos mesmos partidos que, hoje, fazem tudo o que podem para conseguir um lugarzinho na Esplanada. Este é o ponto que interessa.

O caso de Simone Tebet é exemplar. Na pasta do Planejamento, ao invés de ganhar projeção, ela parece ter se encolhido e perdido o brilho conquistado no primeiro turno das eleições passadas. E se havia alguma dúvida em relação à sua a de falta de prestígio na equipe, ela foi eliminada no episódio da nomeação do economista Marcos Pochmann para a presidência do IBGE. O cargo, como se sabe, é subordinado ao ministério de Simone Tebet. Mas ela só foi informada da nomeação depois do nome do economista ter sido anunciado pelo ministro das Comunicações, Paulo Pimenta.

Petista de longa data, amigo pessoal de Lula e professor da Universidade de Campinas, Pochmann é um economista identificado com as ideias mais retrógradas da esquerda. Ele chegou, por exemplo, a criticar o Pix, o mecanismo de movimentação financeira criado pelo Banco Central em 2020, que agilizou e reduziu o custo dos serviços bancários de transferências e de pagamentos no país. Para Pochmann, que também já defendeu a adoção de uma alíquota do Imposto de Renda dede 60%, o Pix era ‘mais um passo na via neocolonial’, que visava a favorecer o ‘protetorado dos EUA’.

No segundo governo Lula e durante boa parte do primeiro governo de Dilma, ele presidiu o IPEA e ficou conhecido por perseguir técnicos que não seguiam ao pé da letra a cartilha da esquerda…”

Gostou? Compartilhe