O advogado de defesa de Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, fez um pronunciamento emocionado nesta terça-feira (29), na sessão de julgamento da presidente afastada. Ele afirmou que, se Dilma vier a ser condenada e perder o mandato de presidente da República, o país deverá no futuro pedir desculpas a ela pela injustiça cometida.
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Ele falou aos senadores durante uma hora, na fase de debates orais na sessão de julgamento da presidente afastada, momento dedicado às manifestações da acusação e da defesa.
Cardozo afirmou aos senadores que eles podem evitar que Dilma Rousseff seja vítima de mais uma injustiça, lembrando que ela já carrega as marcas por ter sido presa e torturada pelo regime militar.
— Julguem pela justiça, pelo Estado de Direito, pela democracia. Não aceitem que o nosso país sofra um golpe parlamentar, que uma pessoa honesta, correta, íntegra, tenha a pena de morte política, para que no futuro alguém tenha que pedir desculpas a Dilma Rousseff, pelo que a ditadura fez a ela e pelo que a nossa democracia também fez — apelou Cardozo.
Pretextos
José Eduardo Cardozo disse aos senadores que as acusações contra Dilma Rousseff são pretextos urdidos em uma aliança entre aqueles que perderam a eleição presidencial em 2014 e os que temem a Operação Lava Jato e não conseguiram que ela agisse para frear as investigações.
— Os pretextos ficarão nos autos, no pó do tempo, como ficaram hoje as acusações formais que foram dirigidas contra Dilma Rousseff [pelo regime militar] — lamentou.
O advogado citou tentativas frustradas de impugnação da eleição de 2014, pelos que perderam o pleito, que lançaram acusações de adulteração das urnas eletrônicas e impugnação das contas de campanha.
— Diante da impossibilidade de deslegitimar a eleição, iniciou-se a caça ao fato do impeachment — afirmou.
A esse intento, disse, se associou o deputado Eduardo Cunha, quando não obteve apoio de Dilma Rousseff para fazer com que a bancada do Partido dos Trabalhadores ajudasse a barrar o processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
É nesse contexto, recordou Cardozo, que Eduardo Cunha aceitou as denúncias contra Dilma Rousseff, resumidas agora a duas acusações: edição de três decretos de crédito suplementar, sem autorização legislativa, e subvenções do Plano Safra. Em nenhuma, afirmou, há provas de que a presidente afastada tenha cometido crime de responsabilidade.
— São pretextos irrelevantes, pretextos que são utilizados retoricamente, porque apenas se quer afastar uma mulher que incomodou as elites, que incomodou ao ganhar a eleição, que incomodou ao não permitir que a Lava Jato fosse obstada, uma mulher que incomoda, uma mulher — disse.
As teses que embasam a acusação, afirmou, foram construídas pelo procurador Júlio Marcelo de Oliveira, que não foi aceito como testemunha de acusação no processo de impeachment por suspeição, devido a sua militância contra o governo petista. São teses alteradas ao longo do processo, como observou, e desmontadas pelas testemunhas ouvidas no Senado.
Discriminação
José Eduardo Cardozo desafiou os senadores que foram ministros do governo de Dilma Rousseff a apontar algum ato ou proposta de corrupção ou de desvio por parte da presidente afastada.
— Bastava Dilma Rousseff cheirar algum equívoco, ela ligava e ia, como lembra a [então] ministra Gleisi Hoffmann, ‘na jugular’ dos seus ministros — afirmou.
Por esse comportamento, afirmou o advogado, Dilma Rousseff ficou com a fama de “autoritária e muito dura”.
— Mulheres, quando são corretas, íntegras e sabem enfrentar situações da vida como essa, são duras. Mulheres quando se equiparam nas suas disputas aos homens, são autoritárias. É difícil não perceber o quanto vocês são discriminadas e é impossível não perceber como Dilma Rousseff foi profundamente discriminada por ser mulher — completou.
Em sua apresentação aos senadores, Cardozo também se mostrou indignado com as ofensas dirigidas à presidente afastada.
— Não é justo falar o que falaram aqui de Dilma Rousseff. Não enxovalhem a honra de uma mulher digna. Podem acusá-la de ter se equivocado, porque todos nós nos equivocamos. Podem acusar de ter cometido erros e todos nós erramos, mas, por favor, para justificar uma situação como essa, não atinjam a honra de uma mulher digna — apelou.
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