Estreou nesta quinta-feira, 28, o programa Kid+, novo quadro do canal de YouTube Irmãos Neto, estrelado por apresentadores mirins. A proposta é que as crianças, de cinco a treze anos, falem e brinquem com temas relacionados à diversidade. Entre os protagonistas estão um cadeirante e uma portadora de síndrome de Down.
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Juntos, os jovens entrevistarão convidados com histórias de superação, como um deficiente visual medalhista paralímpico e um tatuador que possui somente um braço. O principal objetivo da série é, por meio do ponto de vista dos mais novos, discutir a discriminação originada pelo preconceito e como incentivar a inclusão na sociedade.
Cada episódio contará com um grupo de cerca de oito (entre um total de 25) crianças selecionadas pela produção do canal. Além deles, a apresentadora Bruna Gomes – já uma celebridade entre o público infantil na internet – fará parte do elenco. De início, serão, ao todo, doze episódios, que vão ao ar às quintas-feiras e foram todos gravados em um espaço fornecido pelo próprio YouTube no Rio de Janeiro.
O programa pretende debater esses assuntos de uma forma dinâmica e diferente, ao conceder a crianças que não se sentiam representadas no YouTube e em outras mídias a oportunidade de serem ouvidas. A importância de abrir espaço de fala a minorias — sejam elas numéricas ou políticas– é enorme.
De acordo com um estudo realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), era raro retratar negros em livros didáticos de escolas brasileiras de ensino básico na década de 80 e, quando havia representação, normalmente a imagem os tratava como simplórios, dentre outros atributos equivocados. Isso estimulava o reforço de estereótipos racistas, enfraquecendo as raízes culturais e os valores históricos da etnia.
Como forma de combater esse tipo de erro, a pesquisa sugere a identificação de textos e imagens discriminatórias nos livros durante atividades elaboradas entre os professores e os alunos. Assim, quando os estudantes aprenderem a compreender quando um livro está sendo preconceituoso, tornaria-se menos provável que eles adquirissem atitudes racistas, ainda segundo o teorizado pelo estudo.
Além dos efeitos sociais, as consequências de uma maior representatividade podem ser políticas. Um estudo da Universidade Harvard (EUA), de 2004, concluiu que quando vereadores, senadores, deputados e governadores representam seus eleitores por compartilharem seu gênero ou etnia, ou até mesmo por serem originários da mesma região, aqueles que elegeram o político tendem a ter maior contato com os eleitos e, portanto, saberão mais sobre as propostas que eles defendem.
De forma análoga, a presença das crianças com deficiência física e síndrome de Down em um canal com quase treze milhões de inscritos poderá servir de inspiração para outros jovens, que antes não se identificavam com a maioria dos youtubers famosos – que na maior parte é composta de indivíduos de pele branca, cabelo liso, proveniente de classes privilegiadas etc. Agora eles poderiam se ver espelhados em figuras como eles, e de renome. Em efeito contínuo, as crianças que se encaixam em tais minorias acabam por se sentir valorizadas.
Para Esther Henrique, de 7 anos, negra, uma das apresentadoras do Kid+, a parte mais interessante do projeto é a de poder conversar com pessoas diferentes e aprender sobre a vida de cada uma. Ela, aliás, conta que antes não se sentia representada por quem assistia no YouTube: “Nunca tinha visto alguém parecido comigo”. Esther agora se sente mais confiante e sonha com novas possibilidades para a vida: “Quero muito viajar para Nova York. Sempre vejo a cidade em filmes e me parece muito divertida!”.
Para o futuro, a menina enxerga ainda mais espaço nas mídias digitais. Esther, inclusive, pretende investir na carreira de youtuber. “No meu canal quero entrevistar várias pessoas e mostrar que, mesmo sendo diferentes, somos todos iguais”, conta.
Já Heitor Azeredo, cadeirante de 6 anos e também participante da série, explicou que se envolveu muito com alguns entrevistados ao longo das gravações. “Teve um dia em que trouxeram um cachorro que anda com um tipo de cadeira de rodas”, lembra. “Eu fiquei muito emocionado’, ainda comenta, com a adição de que chegou em casa naquele dia ansioso para compartilhar toda a experiência com a mãe.
Apesar dos recentes esforços para aumentar a diversidade no meio do entretenimento, as mídias continuam sendo muito excludentes. Uma pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia revelou que, entre os personagens que possuem falas nos cem filmes mais assistidos de 2016, apenas 31,4% eram mulheres e 29,1% não eram brancos. Ou seja, medidas para equilibrar a balança são mais do que bem-vindas.
A empreitada de famosos (no caso, os Irmãos Neto, Felipe e Lucas, que hoje figuram dentre as maiores celebridades dentre a juventude brasileira) em tentar solucionar esse tipo de questão não é uma tendência iniciada agora. Desde 1949, por exemplo, acontece nos Estados Unidos a anual Telethon (versão americana da nossa Teleton), que conta com a ajuda de atores e músicos para arrecadar recursos em nome de causas sociais. Algumas edições brasileiras já contaram com futebol de sabão entre estrelas de novela e atividades na piscina entre personalidades do entretenimento.
A onda de generosidade não deixou para trás os youtubers. Afinal, não seria mais que natural que, após alcançarem o sucesso, uma parcela desse novo tipo de celebridade do século XXI começasse a compreender, como diria o super-herói Homem-Aranha (ou, para ser mais exato, seu tio Ben), que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Ou, numa adaptação da máxima, que “com fama e riqueza vêm grandes responsabilidades”.
O brasileiro Luba, por exemplo, possui um projeto social que ajuda a reunir doações destinadas ao custeio de tratamentos médicos e equipamentos relacionados à reabilitação na área da saúde. Já Hank e John Green, do canal norte-americano VlogBrothers, criaram um movimento que ajuda na divulgação de diversas instituições de caridade, auxiliando na arrecadação de fundos para as mesmas.
Iniciativas como o Kid+ podem se tornar essenciais para incentivar a representatividade de minorias em uma plataforma pouquíssimo diversa, o YouTube. Quem sabe, em um futuro próximo, jovens se identificarão cada vez mais com suas celebridades favoritas, inclusive com os apresentadores do programa, e os terão como modelos de quem querem e/ou podem se tornar.
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