O Brasil parece ter perdido a hegemonia na Libertadores dos últimos anos. Assim como em 2014, quando o San Lorenzo ergue a taça, em 2015 outro argentino sagrou-se campeão e os brasileiros decepcionaram mais uma vez. ORiver Plate se reergueu dos tombos que tombou em 2011, quando foi rebaixado no Campeonato Argentino e, com muita raça, tradição e experiência, voltou a mostrar sua força e foi campeão da Copa Libertadores em 2015 após 19 anos.
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O clube, que se intitula "O Más Grande" da Argentina, provou que não deixou de ser gigante mesmo com os tropeços recentes, e além de fatura o Campeonato Argentino em 2013 e a Copa Sul-Americana no ano seguinte, também foi soberano na principal competição do continente ao eliminar tecnicamente melhores, como o Tigres, do México, adversário da final.
Quem não teve muito o que comemorar foram os times brasileiros. O Corinthians foi surpreendido pelos paraguaios do Guarani nas oitavas, o São Paulo também parou nas oitavas, mas para o Cruzeiro, que, por sua vez, foi eliminado pelo campeão River nas quartas. Outro que parou nas oitavas foi o Atlético-MG. Em outro duelo brasileiro, o clube mineiro não foi páreo para o Internacional, que, inclusive, foi a equipe brasileira que chegou mais longe: até as semifinais, fase em que foi eliminado para o Tigres, do México.
PAULISTAS DECEPCIONAM
Quando se trata de Libertadores, o torcedor do São Paulo se enche de alegria e fica eufórico, já que o clube, ao lado do Santos, é o maior vencedor brasileiro da competição. No entanto, assim como em 2014, o São Paulo passou sufoco para se classificar no chamado "grupo da morte", com Corinthians, o então atual campeão San Lorenzo e Danúbio, e decepcionou na fase de mata-mata.
Depois de perder uma na estreia e vencer outra diante do rival Corinthians, golear o fraco Danúbio, derrotar o San Lorenzo por 1 a 0 no Morumbi, ver o time argentino devolver o placar em Almagro, na Argentina e vencer o Danúbio de virada no Uruguai, o Tricolor conseguiu, com muito suor, avançar às oitavas, fase em que encarou o Cruzeiro.
Ceni brilhou na cobrança de pênaltis mas viu seus companheiros fracassarem e o São Paulo caiu para o Cruzeiro nas oitavas
Na fase de mata-mata, venceu o time celeste por 1 a 0 no primeiro jogo e viu o adversário devolver a derrota no jogo de volta, em Belo Horizonte. Assim, a decisão foi para os pênaltis e o Tricolor não teve competência. Perdeu três cobranças, enquanto os mineiros desperdiçaram duas e colocaram fim ao sonho do tetra do São Paulo.
O Corinthians, por sua vez, também caiu na mesma fase em que o rival São Paulo e a queda foi ainda mais sentida, já que não era esperada, levando em conta a ótima campanha na primeira fase e o adversário a ser enfrentado, o Guarani, que surpreendeu ainda mais e se notabilizou por ser a zebra da competição ao chegar até as semifinais.
Clamado por alguns como o melhor do time do Brasil nos primeiros meses do ano, o Timão, que também amargou eliminação no Paulista para o rival Palmeiras, teve uma trajetória quase que impecável na primeira fase. Foram quatro vitórias, contra São Paulo, Danúbio (duas vezes) e San Lorenzo, um empate (São Lorenzo) e uma derrota para o São Paulo no último jogo da fase inicial, quando o time de Tite já estava classificado.
O futebol da primeira fase, no entanto, não se repetiu nas oitavas de final e a defesa forte, o padrão de jogo exemplar e o contra-ataque letal do Guarani superaram a arrogância e soberba corintiana - o diretor do Corinthians, Sergio Janikian, deu graças a Deus por ter pego o Guaraní nas oitavas de final.
Eliminação para o modesto Guarani, do Paraguai, rendeu piadas dos rivais ao Corinthians
A eleição da nova diretoria em 7 de fevereiro, o ambiente político conturbado, o atraso nos salários/direitos de imagem com o que mais incomoda os jogadores e chatearia qualquer um: a promessa de pagamento protelada, adiada e depois "sem previsão" influenciaram diretamente no desempenho dos jogadores dentro de campo. Apático, o time do técnico Tite, tão elogiado na primeira fase, foi derrotado na partida de ida por 2 a 0, com direito a frango de Cássio e também perdeu o jogo de volta no Itaquerão lotado por 1 a 0, dando adeus à competição e motivo para os rivais fazerem piada com a eliminação inesperada e, até certo ponto, humilhante.
O ARTILHEIRO
Nem Pato, Luis Fabiano, Guerrero, Pratto, Nilmar, Damião ou Osvaldo - do Boca Júniors - o artilheiro da 56º edição da Copa Libertadores foi o centroavante Gustavo Bou, do Racing, que balançou a rede oito vezes em 10 jogos na competição. Seus gols, no entanto, não foram suficientes para evitar a eliminação do seu time nas quartas de final para o Guarani do Paraguai, algoz do Corinthians nas oitavas.
Guido Carrillo (Estudiantes de La Plata), com sete gols, Federico Santander (Guarani) e Miller Bolaños (Emelec), com seis tentos, vieram logo atrás. Valdivia, do Internacional, marcou cinco gols e foi o brasileiro mais bem posicionado na lista de artilheiros da competição intercontinental.
Racing caiu nas quartas mas teve o artilheiro da competição: Gustavo Bou, com oito gols
QUE FEIO
Dentro de campo, a Libertadores foi muito equilibrada e disputada como sempre, mas, fora de campo, ficou manchada por um incidente envolvendo a torcida do Boca Júniors. Um torcedor da torcida xeneize atirou spray com gás de pimenta nos jogadores do River Plate durante o intervalo do Superclássico com o Boca Juniors, no jogo de volta das oitavas de final, em La Bombonera.
No momento do tumulto, o placar estava 0 a 0, resultado que favorecia ao River, já que Los Milionários haviam vencido a partida de ida por 1 a 0 no Monumental de Nuñez. Tratado como um dos episódios mais vergonhosos da história do futebol continental, a imprensa internacional condenou duramente o ocorrido e a Conmebol, pressionada, se apoiou no regulamento da o Código Disciplinar da competição para eliminar o Boca Júniors e garantir o River Plate classificado às quartas de final.
"A Confederação Sul-Americana de Futebol condena categoricamente o vandalismo ocorrido em Boca e River. A Conmebol emitirá um comunicado de imprensa com a resolução definitiva de Boca e River. Lamentamos o ocorrido", se pronunciou a Conmebol na ocasião, no Twitter. Jogadores do River jogaram água no rosto para aliviar efeito do gás de pimenta atirado por um torcedor do Boca Júniors
Além da eliminação, o Boca Júniors foi condenado a atuar em quatro jogos com portões fechados quando for seu mando de campo e a outros quatro, quando jogar fora, sem a presença de sua torcida em competições organizadas pela Conmebol. Além disso o clube terá que pagar uma multa de US$ 200 mil.
A TRAJETÓRIA DO CAMPEÃO
Rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Argentino na temporada 2011/12, o River Plate, que voltou a ser campeão argentino em maio de 2014, 35 meses após o seu rebaixamento e faturou também a Sul-Americana em 2014, não teve vida fácil para conquistar a América. Muito pelo contrário. Para se ter ideia, Los Milionários fizeram a pior de todas as campanhas da fase de grupos.
O time, comandado pelo técnico Marcelo Gallardo, só se garantiu nas oitavas de final graças à vitória do líder do grupo Tigres sobre o Juan Aurich, na última rodada. A campanha foi tão fraca que o time argentino somou apenas sete pontos. Foram duas vitórias e um empate na fase inicial. Assim, como o time de pior campanha enfrenta o melhor da primeira fase, a Libertadores colocou Boca Júniors e River Plate frente à frente nas oitavas de final para protagonizarem um dos maiores clássicos do futebol mundial.
Nas oitavas, entretanto, o futebol deu lugar a um incidente lamentável. Um torcedor do Boca Júniors disparou spray de pimenta no vestiário do River durante o intervalo da segunda partida, que estava empatada em 0 a 0 e, assim, o Boca, que havia perdido o jogo de ida por 1 a 0 no Monumental de Núñez, foi excluído da competição pela Conmebol em um dos escândalos mais lamentáveis da história do futebol.
Na fase seguinte, os comandados de Gallardo não conseguiram impor seu jogo na partida de ida, em casa, diante do Cruzeiro. Desperdiçaram algumas chances e viram o time brasileiro marcar no final com Marquinhos. Os gols perdidos no primeiro jogos, porém, não fizeram falta no final. Na segunda partida, no Mineirão, o River Plate foi responsável por protagonizar outro "Minerazzo". Liderados pelo uruguaio Pato Sánchez, o time argentino desbancou um dos favoritos ao título ao derrota a equipe celeste por 3 a 0.
A semifinal também não foi tão complicada para os argentinos. Desta vez, no jogo de ida, novamente no Monumental de Núñez, o River conseguiu se impor e venceu o Guarani, algoz do Corinthians e maior zebra da competição, por 2 a 0. Na volta, no Paraguai, o time argentino não sucumbiu à pressão ao empatar por 1 a 1 e assegurou a vaga na final.
Na grande final, a camisa pesou sobre o melhor time tecnicamente e o River Plate não deu chances para o Tigres. No primeiro confronto, jogo sem graça e empate sem gols. Na partida derradeira, a torcida e a tradição do time argentino fizeram a diferença. No último minuto do primeiro tempo, na primeira boa jogada da etapa, Vangioni passou por dois rivais e cruzou na cabeça de Alario, que abriu o placar.
No segundo tempo, o Tigres se expôs mais, buscando o empate, mas a marcação do River foi implacável. E, em contragolpes, os argentinos mataram a partida. Primeiro, Sánchez foi derrubado na área aos 29 minutos e sofreu pênalti, que ele mesmo converteu. Pouco depois, aos 33, Funes Mori, de cabeça em cobrança de escanteio, definiu o placar e sacramentou o tricampeonato do River Plate.
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