O presidente Jair Bolsonaro (PSL) mostrou otimismo nesta quinta-feira (24) com os últimos desdobramentos na Venezuela e a decisão de Brasil, Estados Unidos e outros 12 países reconhecerem Juan Guaidó como presidente interino.
LEIA TAMBÉM
"Venezuela está indo bem", disse ele em Davos ao sair de um almoço com chefes de organismos multilaterais e de outros governos oferecido pelo Fórum Econômico Mundial para tratar de globalização.
O Brasil está acompanhando com atenção a evolução da situação, especialmente o comportamento dos militares, disse um integrante do governo à reportagem. Segundo essa pessoa, as próximas horas serão cruciais para definir o encaminhamento da situação.
Na manhã desta quinta, a União Europeia pediu eleições livres no país, enquanto a Rússia advertiu os países que reconheceram o governo interino que pode haver um "banho de sangue" caso falte comedimento.
O governo brasileiro tem dificuldade para avaliar a posição dos militares venezuelanos, já que nos últimos anos a cooperação passou de pouca para nenhuma entre as Forças Armadas dos dois países. Há a percepção, porém, de que existem rachaduras na base de apoio a Maduro.
Sob Hugo Chávez (1954-2013), que era militar, e depois sob Maduro, o número de generais na Venezuela se multiplicou -hoje superam 2.000, mais do que os 900 que têm os EUA, segundo contabilizou a revista Economist.
Os militares também ocuparam postos e funções importantes no governo e nas empresas estatais, o que o integrante do governo brasileiro ouvido pela reportagem definiu como algo "absurdo".
O professor Ricardo Hausmann, que dirige na Universidade Harvard o Centro para Desenvolvimento Internacional e tem sido um crítico proeminente do regime de sua Venezuela natal, lembrou à reportagem que, em outras ocasiões em que houve protestos de rua maciços em Caracas, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, e seus oficiais se apressaram em se alinhar com Maduro diante de uma câmera e manifestar apoio.
Desta vez, isso não ocorreu. "Isso já é um sinal importante", disse Hausmann, que acompanhou a decisão do Grupo de Lima (exceto México) de reconhecer Guaidó presidente.
O Brasil também espera as reações internacionais vindas de outras regiões, mas encara como lastro os protestos populares.
Os próximos passos do governo estão sendo calibrados. A ala militar é frontalmente contra o envio de tropas brasileiras. Mas essa não é uma posição consensual de todo o governo nem de todos os conselheiros do presidente, apurou a reportagem.
Na noite de quarta (23), quando fizeram seu pronunciamento a respeito da decisão de reconhecer Guaidó, Bolsonaro, o colombiano Iván Duque, a vice-presidente peruana Mercedes Aráoz e a chanceler canadense, Chrystia Freeland, prometeram mais detalhes dos próximos passos no comunicado do Grupo de Lima, o que não ocorreu -o comunicado é sucinto.
Também o presidente do Equador, Lenín Moreno, participou da reunião de quarta, reconheceu Guaidó, e ainda assim preferiu não participar da declaração conjunta nem aparecer nas fotos e vídeos do momento.
Ambas as coisas são indícios de que, embora todos eles concordem que Nicolás Maduro precisa deixar o poder, não há unanimidade sobre quais passos tomar a partir daqui.
O próprio Guaidó, um deputado de 35 anos ligado ao partido Vontade Popular, considerado radical por muitos analistas, não é unanimidade entre a fragmentada oposição venezuelana. O governo brasileiro não está 100% convicto de suas capacidades e intenções, mas no momento o avalia como alternativa melhor do que Maduro ao menos até a condução de novas eleições. Por isso também é importante observar o comportamento dos militares venezuelanos e sua adesão.
Essas dúvidas devem ser sanadas nas próximas horas ou no máximo dias, disse Hausmann, que acompanha de perto a oposição venezuelana. Para ele, "a determinante será se os militares ouviram os protestos nas ruas ou se se aferrarão ao regime".
+Lidas