Bolsonaro diz que Moro se ocupou mais com Marielle que facada e mirava STF

Publicado em 24/04/2020, às 17h52
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Por Uol

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje, em coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, após a saída do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, e da exoneração do diretor-geral da PF (Polícia Federal) Maurício Leite Valeixo, que Moro só pensa no próprio ego e não se importa com o bem dos brasileiros e do país.

O presidente fez várias acusações contra a dupla e disse que a PF se preocupou mais em investigar a morte da vereadora Marielle Franco (Psol) do que a facada que ele sofreu na campanha eleitoral de 2018.

Ele ainda afirmou que Moro pediu a ele uma indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que "não são verdadeiras as declarações [de Moro] de que eu gostaria de saber de investigações [da PF] em andamento".

Uma coisa é admirar uma pessoa, outra é conviver com ela. Hoje pela manhã, tomando café com alguns parlamentares, eu lhes disse: hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem o compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil. O que eu tenho ao meu lado é o povo brasileiro
presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Hoje mais cedo, Moro deixou o cargo e fez várias acusações contra Bolsonaro. O ex-juiz declarou que o mandatário trocou o comando da PF para ter acesso a investigações e relatórios da entidade, o que é proibido pela legislação. Também declarou que Bolsonaro estava preocupado com inquéritos que correm atualmente no STF (Supremo Tribunal Federal). O anúncio foi feito no final da manhã na sede da pasta, em Brasília.

No pronunciamento desta tarde, Bolsonaro defendeu a exoneração de Valeixo. 'Se eu posso trocar o ministro, por que não posso trocar o diretor da PF? Eu não tenho que pedir autorização a ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do poder Executivo."

Valeixo foi exonerado pelo presidente na manhã de hoje. O decreto oficializando a mudança, publicado no Diário Oficial da União (DOU), veio assinado eletronicamente tanto pelo presidente quanto por Moro — que negou ter assinado o documento. No decreto, consta que a exoneração ocorreu "a pedido". O agora ex-ministro, no entanto, disse que Valeixo não pediu para ser demitido e que a Secretaria de Comunicação do governo federal havia mentido.

Bolsonaro fez o pronunciamento rodeado de apoiadores, entre eles o vice-presidente Hamilton Mourão, os ministros Nelson Teich (Saúde, empossado na semana passada após a demissão de Luiz Henrique Mandetta, Paulo Guedes (Economia), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Abraham Weintraub (Educação), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Augusto Heleno (Defesa).

Também estavam presentes os deputados Carla Zambelli (PSL-SP), Hélio Lopes (PSL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), terceiro filho de Jair Bolsonaro. Das mais de vinte pessoas que acompanharam o presidente durante o discurso, apenas o ministro Paulo Guedes usava máscara de proteção contra o coronavírus, medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde para evitar a propagação do vírus.

Bolsonaro diz que PF se preocupou mais com Marielle

Durante o pronunciamento, Bolsonaro se queixou da lentidão da PF, sob comando de Valeixo e de Moro, na apuração do inquérito sobre a facada sofrida pelo então candidato à presidência na campanha eleitoral de 2018.

"É intervenção pedir a Sergio Moro, quase implorar, que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro?", disse o presidente. A PF de Sergio Moro se preocupou mais com quem matou Marielle (Franco, ex-vereadora do Rio) do que com quem tentou matar seu chefe supremo. Cobrei muito deles isso daí, não interferi", disse o presidente Jair Bolsonaro.

"Acho que todas as pessoas de bem no Brasil querem saber. Entendo, me desculpe senhor ex-ministro: entre meu caso e o da Marielle, o meu está muito menos difícil de solucionar. Afinal, o autor foi preso em flagrante de delito", apontou ainda o presidente.

Moro exigiu indicação ao STF, diz Bolsonaro

O presidente afirmou ainda durante a coletiva que o ex-ministro da Justiça pediu para ser indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) antes que Valeixo fosse exonerado da direção da PF.

"O senhor pode exonerar em novembro, depois que me indicar para o Supremo Tribunal Federal", relembrou Bolsonaro sobre conversa que teve com Moro.

1º contato com Moro em 2017 foi decepcionante

Bolsonaro relatou ter conhecido Moro em março de 2017 e, num primeiro contato, foi ignorado pelo então juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba ao abordá-lo no aeroporto de Brasília.

"Ele praticamente me ignorou. A imprensa toda noticiou isso, dando descrédito à minha pessoa. Confesso que fiquei triste porque era um ídolo para mim. Eu era apenas um deputado, um humilde deputado", afirmou Bolsonaro.

O presidente também declarou ter se decepcionado: "Não vou dizer que chorei porque estaria mentindo, mas fiquei muito triste. Para minha surpresa, alguns dias depois, eu estava em Parnamirim e recebi um telefonema dele, onde obviamente, sua consciência tocou e ele conversou comigo sobre o episódio. Dei por encerrado o assunto. Me senti de certa forma reconfortado."

Controle de gastos

O presidente afirmou que "busca dar exemplo" quando o assunto é controle de gastos e que nunca pediu para ser "blindado" por Moro e pela PF.

"Nos últimos dois anos como deputado, gastei menos da metade do que poderia gastar da cota parlamentar com passagem aérea, com despesa de combustível, com alimentação, com aluguéis. Na vida de presidente da República, tenho três cartões corporativos: dois são usados para despesas, as mais variadas possíveis, afinal de contas mais de 100 pessoas trabalham na minha segurança diariamente; e um terceiro cartão, que eu posso sacar R$ 24 mil por mês sem prestar conta", declarou.

Bolsonaro continuou, dizendo que nunca usou a cota de R$ 24 mil e que abriu mão de regalias como o aquecimento da piscina do Palácio da Alvorada, sua residência oficial em Brasília.

"Quanto eu usei dessa verba desde janeiro do ano passado? Zero. Desliguei o aquecedor da piscina olímpica do Alvorada, modificamos o cardápio, mas isso não tem nada a ver, é obrigação da minha parte. Eu tenho preocupação com a coisa pública e busco dar exemplo", disse.

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