Beber muito álcool causa arritmia mesmo horas após consumo, diz estudo

Publicado em 02/11/2024, às 08h31
Foto: Ilustrativa/Freepik
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Por CNN Brasil

Os efeitos do álcool no coração já são bem conhecidos. Diversos trabalhos já mostraram que o consumo excessivo da bebida pode levar, ao longo do tempo, à insuficiência cardíaca e aumentar o risco de infartos. Agora, um estudo recente mostra que beber muito álcool pode desencadear arritmias cardíacas, mesmo após ter encerrado o consumo.

O trabalho, publicado em outubro na revista European Heart Journal, aponta que mais de 5% dos participantes apresentaram alterações preocupantes no ritmo cardíaco, principalmente durante a fase de recuperação, ou seja, quando os efeitos do álcool continuam sendo processados pelo corpo.

Para realizar o estudo, a equipe de pesquisadores levou monitores de eletrocardiograma (ECG) portáteis a festas frequentadas por jovens que consumiam grandes quantidades de álcool. Eles acompanharam o ritmo cardíaco dos participantes por 48 horas, dividindo o período de monitoramento em diferentes fases: início, consumo, recuperação e períodos de controle.

Os pesquisadores observaram que, durante o consumo, o coração apresentava batimentos acelerados, muitas vezes ultrapassando 100 batimentos por minuto. Já na fase de recuperação, as arritmias tornaram-se mais frequentes, mostrando que o efeito do álcool no coração persiste mesmo após o término da ingestão.

Na visão de Flávio Cure, cardiologista clínico e Coordenador do Centro de Estudos do CopaStar, o estudo mostra que o impacto do álcool no coração pode ser duradouro e relevante, exigindo mais atenção de quem costuma exagerar na bebida.

“Esses resultados levantam preocupações sobre o efeito a longo prazo do álcool na saúde cardíaca, embora o estudo tenha se concentrado nos efeitos imediatos. As arritmias recorrentes podem, com o tempo, levar a problemas cardíacos mais graves. Por isso, o consumo moderado de álcool é recomendado para evitar complicações que podem não ser visíveis de imediato, mas que podem deixar marcas duradouras no coração”, explica o médico, que não esteve envolvido no estudo, à CNN.

O que são arritmias cardíacas?

Arritmias cardíacas se caracterizam por irregularidade no ritmo e na frequência dos batimentos cardíacos, podendo resultar em batimentos cardíacos muito rápidos (taquicardia), muito lentos (bradicardia) ou irregulares, segundo Cure.

“Geralmente, [as arritmias] são causadas por problemas de saúde físicos, como cardiopatias, hábitos de vida, origem genética ou pelo desequilíbrio do próprio órgão”, explica o cardiologista.

Em matéria sobre arritmia publicada anteriormente na CNN, Dr. Roberto Kalil, médico cardiologista e apresentador do CNN Sinais Vitais, esclareceu, ainda, que a arritmia pode ocorrer em qualquer idade, mas existem diferentes tipos e causas.

“Nós temos as arritmias benignas, que não levam a risco de vida, e as arritmias malignas, de uma maneira bem didática, que podem levar a risco de vida, risco de uma parada cardíaca, da chamada morte súbita”, explicou o especialista.

Geralmente, a morte súbita é causada por doenças estruturais do coração, segundo Kalil. Isso inclui infartos, alterações nas válvulas cardíacas ou problemas no músculo cardíaco.

Arritmia cardíaca e álcool: qual a relação?

Segundo Cure, o consumo de álcool pode irritar diretamente o músculo cardíaco ou desequilibrar os sais do sangue, provocando irregularidades na contração do coração.

“Quando há o consumo de álcool em excesso, no período inicial, que corresponde ao período agudo do consumo de álcool, acontece uma liberação adrenérgica sobre o coração. Desse modo, surgem mais extrassístoles ventriculares, que são batidas cardíacas extras que ocorrem nos ventrículos do coração”, explica o especialista.

“No período de recuperação, quando o indivíduo não está mais bebendo, existe uma liberação parassimpática. Então nesse período surgem mais arritmias supraventriculares”, completa.

Segundo o cardiologista, tanto o período agudo, quanto o de recuperação, podem ser complicados para o coração. “Se surge mais arritmia supraventricular no período de recuperação, a fibrilação atrial, por exemplo — que é uma arritmia temida — surge imediatamente após a fase aguda do consumo de álcool”, afirma.

A longo prazo, arritmias persistentes podem comprometer a capacidade do coração de se contrair adequadamente, levando à dilatação e disfunção cardiovascular significativa. Isso aumenta o risco de acidente vascular cerebral (AVC) e de morte súbita, de acordo com Cure. “Por isso, é importante o tratamento urgente, pois a situação pode ser reversível caso a pessoa seja atendida rapidamente”, ressalta.

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