Imagine a seguinte situação: um empresário trabalha por meses, ou até anos, para conseguir abrir seu primeiro negócio. Pouco tempo depois, o sistema de gerenciamento online do estabelecimento é invadido por hackers, que podem desde tirar a empresa do ar – impedindo a comercialização online dos produtos, por exemplo – a roubar dados bancários e gerar um prejuízo incalculável.
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O cenário acima é tão desesperador quanto possível. Como em quase todo tipo de crime, a vítima do ataque cibernético sempre acredita no “isso nunca vai acontecer comigo”, até que acontece e não há mais o que fazer.
A 18ª edição da Pesquisa Global de Segurança da Informação, lançada em 2015 pela PwC, mostrou que o número de ataques cresceu 38% no mundo e 274% no Brasil. Muitas empresas acreditam que programas de antivírus bastam para proteger o patrimônio desse tipo de crime, mas esquecem que o próprio usuário pode contribuir com a ação dos hackers e “abrir as portas” de computadores e softwares para vírus e outros sistemas nocivos.
Considerando que a sofisticação dos hackers avança na mesma velocidade em que as tecnologias se modernizam, a solução para minimizar danos e prejuízos pode ser o seguro cibernético.
O professor e especialista em internet Ruslan Queiroz é quem faz o alerta. “Os funcionários não estão preparados”, diz. “Se um funcionário recebe um e-mail em um computador da empresa dizendo ‘você está sendo traído, veja fotos’, ele não vai se preocupar, vai clicar no anexo mesmo sabendo que não deve”, explica Ruslan. A partir daí, a porta já foi aberta para o criminoso ter acesso à rede da empresa. “Você trouxe o código virótico para o seu computador, e o código desperta sozinho. A informação não trabalha ‘por hora’, ela já está ali.”
Segundo o especialista, há ainda a despreocupação com a proteção dos smartphones. “É uma situação que precisa ser colocada para o pequeno e médio empresário, porque eles estão sendo alvos fáceis. É através do celular que eles recebem, por exemplo, a autenticação da senha do cartão de crédito que ele perdeu”, lembra.
Restaurantes, por exemplo, são alvos bem comuns. Mas qualquer estabelecimento que tenha um computador conectado à internet está vulnerável. “As lojas de conveniência dos postos de combustíveis costumam ter sistemas mais protegidos, justamente por não ter acesso à internet”, afirma Ruslan.
Essas lojas possuem apenas uma conexão dedicada, que só acessa um endereço, para compras no cartão. “Mas quando a máquina é um computador que vira caixa, o cuidado tem que ser maior”, relata. “Quando olhamos para o setor de comércio, ficamos sabendo de coisas que nos deixam com vontade de nem frequentar mais o local”, alerta.
Soluções frágeis x aumento do número de ataques
As pequenas e médias empresas, de uma forma geral, não estão preparadas para lidar com este tipo de crime em ascensão. Para Ruslan, os empresários têm recorrido a “soluções caseiras” para se proteger quando o assunto é informática e tecnologia. “Um empresário, quando tem seu estabelecimento invadido em um ataque cibernético, recorre a um sobrinho, um neto, alguém que, para ele, é um ‘especialista em segurança da informação’, e que vai resolver. Essa é a solução caseira que os pequenos e médios empresários estão tomando”, diz.
Especialista em internet, Ruslan Queiroz alerta para os perigos da web (Foto: Reprodução/TV Pajuçara)
Uma das formas de proteção recomendadas pelo especialista em internet é o seguro contra ataques cibernéticos. “É uma tendência. O seguro protege o parque computacional da empresa, para que se evitem essas vulnerabilidades. As seguradoras contratam um profissional da área de informática, mensuram o seu risco e sugerem um relatório de medidas a serem tomadas”, aponta. Segundo ele, o comércio é o setor ideal para este tipo de seguro. “Principalmente no final do ano, a partir de novembro, quando há um aumento de ataques. Esse setor deveria se preocupar mais com a segurança.”
No entanto, a quantidade de empresas que se preocupam com este tipo de perigo é muito baixa. De acordo com Djaildo Almeida, diretor do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização, Previdência Privada e de Saúde no Estado de Alagoas (Sincor-AL), a situação é preocupante. “Nós visitamos as empresas, apresentando seguros com várias coberturas, com valores até pequenos, que não apertam muito no orçamento, mas a mentalidade é sempre a de que não vai acontecer com eles”, ressalta. Em Alagoas, não há praticamente nenhum segurado nesta modalidade, segundo Almeida. “Algumas empresas não fazem nem o básico, que é o seguro de vida para funcionários e o de responsabilidade civil, imagine o ‘extra’”, completa.
A falta de preocupação, no entanto não acontece só com o empresariado alagoano. O Relatório Global de Impacto Cibernético 2015, feito pela consultoria e corretora de seguros Aon, mostrou que somente 19% das empresas do mundo inteiro contratam o seguro cibernético. No Brasil, o caso é ainda pior: menos de 1% delas adquire esse produto.
Fontes: 18ª Pesquisa Global de Segurança da Informação/Relatório Global de Impacto Cibernético 2015
E se, para alguns, a justificativa é de que o valor pode parecer alto, não ter o seguro pode sair ainda mais caro. “O prejuízo causado por este tipo de ataque pode ser inimaginável, porque hoje em dia, as pessoas não querem apenas acessar a informação, elas querem destruí-la”, alerta Ruslan. “Hoje, temos o ataque chamado ransomware, que criptografa sua máquina e pede um ‘resgate’ por ela. É aterrorizante, pois você não tem mais acesso ao seu próprio computador, só se você pagar. E ninguém está se preparando para este tipo de coisa”, explica o especialista em internet.
Mas se o ambiente parece ser uma “terra sem lei”, a tendência é de que mudanças ocorram, e que as empresas passem a se preocupar mais com a segurança tecnológica. “Eu acredito”, diz Ruslan. “É um seguro que vai se popularizar, até porque é necessário. Porque para você contratar e receber esse seguro, os procedimentos e mecanismos da empresa vão mudar. Isso deixa o empresário mais confortável, longe de um ambiente nebuloso, achando que está fazendo a coisa certa”, pondera. Para ele, este é um mercado que está vindo para ficar. “Vai normatizar as coisas. Os empresários estão muito soltos, achando que isso nunca vai acontecer com eles. E os prejuízos, como em qualquer situação de despreparo, são grandes.”
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