Astrônomos da Universidade de Warwick, no Reino Unido, descobriram um sistema binário compacto, extremamente raro e de alta massa, a aproximadamente 150 anos-luz da Terra. Formado por estrelas em rota de colisão, espera-se que elas explodam no futuro distante como uma supernova do tipo 1a, que pode aparecer no céu como um astro 10 vezes mais brilhante do que a Lua.
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Consideradas uma classe especial de explosões cósmicas, as supernovas do tipo 1a são usadas como “velas padrão”, objetos astronômicos de luminosidade conhecida, para medir distâncias entre a Terra e suas galáxias hospedeiras. Elas costumam ocorrer quando uma anã branca acumula massa demais, é incapaz de suportar sua própria gravidade e explode.
Há muito tempo é teoricamente previsto que duas anãs brancas em órbita são a causa da maioria das explosões de supernovas do tipo 1a. Isso porque, quando em uma órbita próxima, a anã branca mais pesada do par gradualmente acumula material de sua parceira, o que leva à explosão daquela estrela (ou de ambas as estrelas). Mas isso nunca tinha sido observado na prática – pelo menos, até agora.
O estudo da equipe de Warwick não só encontrou um sistema nesses moldes pela primeira vez, mas também o identificou justamente em um par compacto de anãs brancas bem na “porta” na Via Láctea. Os resultados encontrados foram detalhados em um artigo publicado nesta sexta-feira (4) em um artigo na revista Nature Astronomy.
Achado identificado no meio do processo de explosão
“Durante anos, uma binária anã branca dupla, local e massiva, foi antecipada, então, quando avistei pela primeira vez esse sistema com uma massa total muito alta na nossa porta Galáctica, fiquei imediatamente animado”, afirma James Munday, autor do projeto, em comunicado. “Perseguimos esse sistema em alguns dos maiores telescópios ópticos do mundo para determinar quão compacto ele é”.
Ao verificar que as duas estrelas estão separadas por apenas 1/60 da distância existente entre a Terra e o Sol, os especialistas ficaram confiantes de que tinham descoberto o primeiro binário de anã branca dupla. A partir daí, não houve dúvidas de que o sistema evoluiria eventualmente a uma supernova do tipo 1a.
Significativamente, o novo sistema é o mais pesado de seu tipo já confirmado, com uma massa combinada de 1,56 vezes a do Sol. Isso significa que, não importa o que aconteça, as estrelas estão destinadas a explodir. Porém, tal explosão só é esperada daqui a 23 bilhões de anos.
Até lá, as anãs brancas seguirão vagarosamente girando em espiral uma em torno da outra em uma órbita de 14 horas. Com o passar do tempo, a radiação da onda gravitacional fará com que as duas estrelas se inspirem e se encurte o processo de translação.
Próximo da supernova, estima-se que elas estarão se movendo tão rápido que completarão uma órbita em meros 30 a 40 segundos.
Na supernova, a massa será transferida de uma anã para a outra, resultando em uma explosão rara. A superfície da anã que ganha massa detona onde está acumulando material primeiro, fazendo seu núcleo explodir em segundo. Isso ejetará material em todas as direções, colidindo com a outra anã branca, fazendo com que o processo se repita para uma terceira e quarta detonação.
As explosões destruirão completamente todo o sistema, com níveis de energia mil trilhões de trilhões de vezes maiores que os de uma bomba nuclear poderosa. Vale salientar que, mesmo relativamente próxima do Sistema Solar, essa supernova não colocará em perigo a vida no nosso planeta.
Bilhões de anos no futuro, esse corpo celeste aparecerá como um ponto de luz muito intenso no céu noturno. Ela fará com que alguns dos objetos mais brilhantes pareçam tênues em comparação, aparentando, inclusive, uma iluminação até dez vezes maior do que a Lua e 200 mil vezes mais intensa que Júpiter.
Implicações da descoberta
“Esta é uma descoberta muito significativa”, pondera Ingrid Pelisoli, coautora do estudo. “Encontrar tal sistema na nossa porta galáctica é uma indicação de que eles devem ser relativamente comuns, caso contrário, teríamos que olhar muito mais longe, procurando um volume maior da nossa galáxia, para encontrá-los”.
Mas achar esse sistema está longe de ser o objetivo final da equipe, que pretende dar prosseguimento à sua busca por progenitores de supernovas 1a. Pouco a pouco, os especialistas esperam chegar mais perto de resolver o mistério da origem das explosões desse tipo.
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