As 7 lições dos clássicos de autoajuda para executivos

Publicado em 09/07/2018, às 17h54

Por Redação


Autoajuda para executivos sempre vende bem, mas o sucesso é maior em épocas de rápida mudança.
A revolução digital segue eliminando cadeias de trabalho e abalando a confiança de líderes em escala planetária.
Nesse momento fluido, livros que misturam lições básicas sobre empreendedorismo a um sentimento quase religioso de autoconfiança vendem como pão quente (até que algum aplicativo torne obsoleto também o pão quente).
Mas qual executivo sério tem tempo para ler tudo isso?
Nenhum, especialmente neste ambiente corporativo cada vez mais cheio de metas e mais vazio de prazos.
Por isso, seguem aqui os resumos comentados das lições essenciais que recheiam sete dos livros considerados fundamentais dentro desse subgênero literário.
Alguns deles não são exatamente "literatura para executivos", como "O Segredo" e "A Arte da Guerra", mas frequentam as mesmas estantes e, por isso, também conseguiram um lugar na lista.
Como tempo é dinheiro e ninguém tem tempo para nada, vamos ao que interessa.

O Monge e o Executivo
James C. Hunter, Ed. Sextante, R$ 29,90, 144 págs.
Lição 1: Influência e liderança funcionam melhor do que o poder para alcançar seus objetivos. Liderar é influenciar pessoas para que elas façam o que você quer. Esse é o verdadeiro poder.
Pronto. Você não precisa mais ler o best-seller "O Monge e o Executivo" (Editora Sextante), do americano James C. Hunter, consultor-chefe da empresa de treinamento J.D. Associados.
O livro já vendeu 4 milhões de cópias no Brasil e no mundo graças ao recurso narrativo da "fábula moral que passa importantes lições de vida", mesmo estratagema que fez a fama e a fortuna do brasileiro Paulo Coelho.
Hunter conta a história de John Daily, rico executivo americano que, muito estressado, vai passar uns tempos num mosteiro beneditino próximo ao lago Michigan.
Lá, encontra o monge Simeão que, na verdade, também é um ex-executivo chamado Leonard Hoffman. Pois é, a trama é ridícula, mas não importa.
O fundamental aqui é que Simeão é uma espécie de mestre jedi da administração de empresas e passa toda sua sabedoria para o nosso amigo John Daily. Em síntese: o poder nasce da liderança e não o contrário.
"O livro é bem menos impactante do que esse resumo", comenta Elaine Saad, da Associação Brasileira de Recursos Humanos, ABRH. "De fato, influenciar e agir é muito mais importante do que ter o poder."
Mas o truque aqui, explica ela, é que não existe uma receita pronta de como ser influente, pois isso varia de pessoa para pessoa e também de empresa para empresa.
"O profissional precisa descobrir qual é a sua maneira de influenciar a organização em um determinado contexto", acrescenta Saad, "pois as situações também mudam".
Em resumo, pratique a influência desde sempre, jovem padawan, e o poder será a consequência desse movimento

Seja Foda!
Caio Carneiro, Ed. Buzz, R$ 39,90, 208 págs.
Lição 2: Para conseguir 100% de sucesso, você precisa dar 100% de si.
Esse é o ensinamento essencial de "Seja Foda!" (Editora Buzz), best-seller de Caio Carneiro. A orelha do livro conta que o autor fez seu primeiro milhão antes dos 25 anos (uau!) trabalhando com marketing de relacionamento, que é apenas um nome chique para uma lição ancestral: "trate bem o cliente e ele retornará".
O uso do palavrão no título faz com que o livro se destaque nas lojas, embora seja derivativo, já que sua evidente inspiração é "A Sutil Arte de Ligar o Foda-se", de Mark Manson (veja ao lado), publicado nos Estados Unidos em 2016.
A essência do ensinamento de Caio Carneiro é que determinação e esforço fazem toda a diferença num mercado cada vez mais competitivo. Mas só isso basta?
Paula Traldi, fundadora da Blosson Treinamento e Desenvolvimento e membro do conselho consultivo da Camargo Correa S.A., entre outras empresas, concorda em termos.
"Muitas vezes, nem 100% é o bastante, é preciso dar 150% de si. Para isso, é essencial que o executivo trabalhe com aquilo que gosta e o faz se sentir realizado. Desta forma, dar 100% ou 150% de si para o progresso da empresa será sempre um prazer", diz.
Elaine Saad, presidente da ABRH, acrescenta: "Dar 100% de si é ótimo, desde que o profissional esteja de acordo com os valores e os propósitos da organização na qual está inserido. Esses precisam coincidir com os dele, ou o esforço será inútil".

A Arte da Guerra
Sun Tzu, Ed. Martins Fontes, R$ 59,90, 360 págs.
Lição 3: Hierarquia, disciplina e determinação são o caminho para a vitória. Conhecer o adversário e antecipar as reações dele também ajudam bastante.
Essa é a essência de "A Arte da Guerra" (várias edições), um tratado de estratégia militar escrito pelo general chinês Sun Tzu no século 5 a.C.
Não é exatamente um livro de negócios, mas virou leitura obrigatória entre executivos desde que foi citado pelo personagem Gordon Gekko (Michael Douglas) no filme "Wall Street - Poder e Cobiça" (1987), de Oliver Stone. O fato de Gekko ser um picareta e escroque nunca abalou a fama do livro e talvez até a tenha aumentado.
"A Arte da Guerra" tem linguagem poética e é uma leitura leve e agradável, embora muitas lições sejam impraticáveis na vida empresarial, a menos que você esteja planejando sitiar uma cidade murada. Nunca se sabe.
Composto de aforismos e pequenas histórias, o manual de Sun Tzu é uma ode ao poder rígido e centralizado, sempre pronto a defender suas posições e rechaçar ameaças antes mesmo que elas se apresentem.
Paula Traldi, da Blosson Treinamento e Desenvolvimento, lembra de um chefe que costumava repetir que "só os paranoicos sobrevivem", mas acrescenta que o problema dessa maneira de pensar é enxergar fantasmas onde não existe nada.
"A gente nem deveria ter inimigos dentro de uma organização", afirma Elaine Saad, da ABRH. "O risco aqui é transformar colegas em adversários e se descuidar do desafio externo, que é cada vez maior", diz ela.
Paula Traldi complementa: "O mundo hoje é descrito como Vuca, sigla para "Volatile, Uncertain, Complex, Ambiguous (volátil, incerto, complexo e ambíguo). Tudo o que nós não precisamos num momento como este é de mais paranoia".

Mindset - A Nova Psicologia do Sucesso
Carol S. Dweck, Ed. Objetiva, R$ 47,90, 312 págs.
Lição 4: Você vai cair muitas vezes na vida, mas o importante é conseguir se levantar e, mais do que isso, analisar atentamente o obstáculo que o levou a tropeçar.
Essa é a lição mais importante do livro "Mindset - A Nova Psicologia do Sucesso" (editora Objetiva), da psicóloga americana Carol S. Dweck.
Basicamente, o que a autora propõe é que pessoas bem sucedidas têm um "mindset de crescimento" -elas nunca se rendem, nunca duvidam das suas capacidades e enxergam os inevitáveis tropeços como etapas necessárias para alcançar a glória e a fortuna.
O livro é autoajuda aplicada ao mundo dos negócios e há uma certa religiosidade de fundo, do tipo "Deus nos dá dificuldades de acordo com nossa capacidade de superá-las". Mas com esse mambo-jambo previsível, Carol S. Dweck já vendeu mais de 1,7 milhão de cópias, então provavelmente ela está certa.
Paula Traldi tem, contudo, uma receita mais sucinta e eficaz: "Autoconfiança e autoconhecimento são tudo na vida. Quem tem essas duas coisas, nunca enxerga obstáculos".
E Elaine Saad adverte que no momento de fazer uma análise do que deu errado é necessário buscar outras opiniões. "O feedback dos colegas é importante para que o diagnóstico do "tropeço" seja mais acurado, senão você corre o risco de não aprender nada e até voltar a repetir o erro."

Os Segredos da Mente Milionária
T. Hary Eker, Ed. Sextante, R$ 29,90, 176 págs.
Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes
Stephen R. Covey, Ed. Best Seller, R$ 57,90, 462 págs.
Lição 5: Ficar rico dá muito trabalho, mas existe um truque: quem quer enriquecer acredita que cria as oportunidades, enquanto as pessoas de mentalidade pobre enxergam apenas obstáculos.
Esse é o ensinamento que se extrai de dois best-sellers distintos, "Os Segredos da Mente Milionária" (editora Sextante), do canadense T. Harv Eker, e "Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes" (editora Best Seller), do americano Stephen Covey.
E, como você percebeu, é apenas uma reelaboração da lição anterior. Há mais uma dezena de títulos sobre empreendedorismo que pregam exatamente a mesma coisa: o obstáculo só está lá para que você encontre uma maneira de superá-lo.
Outro conselho repetido à exaustão é que é preciso ficar atento aos custos e mantê-los em patamares baixos. Além disso, deve-se buscar a associação com pessoas cujos talentos complementem o seu, para que o empreendimento cresça com mais rapidez. Digamos que você faça um excelente cachorro-quente e seu vizinho tenha uma Kombi na garagem. Juntando os dois você tem um food truck. É isso.
Elaine Saad, no entanto, diz que essas receitas são simplificadoras. "O ser humano não é tão previsível e nem todo mundo quer ficar milionário", diz ela. "É mais importante buscar prazer no que se faz do que só correr atrás da riqueza. O que todos precisamos é de um montante de dinheiro que nos pareça adequado e nos faça feliz".

O Segredo
Rhonda Byrne, Ed. Sextante, R$ 49,90, 216 págs.
Lição 6: O universo é movido pela lei da atração. Pense positivo e a vida será positiva. Pense negativo e a vida vai tratá-lo muito mal.
Este é o grande segredo de "O Segredo", o best-seller mundial da australiana Rhonda Byrne. Existe também um documentário de mesmo título no Netflix que resume toda a filosofia da autora.
Embora não seja exatamente um livro para executivos, pois a tal lei da atração supostamente opera milagres em todas as áreas da vida, "O Segredo" é um produto que também frequenta a estante dos livros de negócios.
Rhonda Byrne esclarece, no entanto, que não basta apenas "pensar positivo" e desejar ardentemente o que se quer: é preciso visualizar e vivenciar a sensação de já ter conseguido para que o "universo decida presenteá-lo" com aquilo.
O livro sugere que você faça a lista do que realmente deseja e estipule até mesmo o tempo para alcançá-lo.
Elaine Saad não descarta totalmente o sentido quase religioso de "O Segredo", mas faz ponderações. "Acreditar sempre funciona, é claro", diz ela, "mas o executivo precisa saber o que quer e entender o que está acontecendo com ele, pois é muito difícil controlar o pensamento."

A Sutil Arte de Ligar o Foda-se
Mark Manson, Ed. Intrínseca, R$ 29,90, 224 págs.
Lição 7: Você não é nada especial, mas suas escolhas são. Tenha a coragem de abandonar o ego e se engajar em um "projeto" que seja maior do que você.
Segundo o livro "A Sutil Arte de Ligar o Foda-se" (editora Intrínseca), do blogueiro Mark Manson, a verdadeira felicidade só é alcançada quando cai a ficha de que você é um zé-ninguém e de que as suas ideias e os seus sonhos de grandeza também são.
Manson faz uma salada de existencialismo francês com budismo tibetano para formular um tipo de autoajuda que aposta no "negativo", na ideia de que você não vai "chegar lá", mas que isso não importa.
Segundo o autor, o que dá sentido à existência é a formulação de um projeto de imortalidade que deve ser sua herança e seu legado para o mundo. Você é apenas um parafuso útil no mecanismo, mas isso é ok, desde que você concorde com os objetivos do mecanismo.
O que Mark Manson defende é que a ideia de vencer sempre é um conceito "da moda", mas não é real. A felicidade está em conquistas prosaicas e simples, desde que imbuídas de sentido para você.
Elaine Saad concorda. "O importante é entender o que o realiza e isso é muito diferente para cada um", diz. "Não existe uma "grande felicidade", mas sim a soma de "pequenas felicidades" que dão prazer e sentido ao seu dia a dia."
O mesmo pensa Paula Traldi: "Os novos gurus de comportamento empresarial dizem isso, mas o conselho funciona mais para países desenvolvidos, onde problemas como o de desemprego são menores. Quando se pode escolher onde trabalhar, o executivo vai em busca de um propósito, ele quer fazer parte de empresas cujos valores coincidam com os dele. Essa é uma ideia que vai crescer muito nesse mundo novo."
Como se vê, todos os livros de autoajuda para executivos vendem fórmulas mágicas, mas elas de fato não existem.
Sobram, porém, algumas regrinhas básicas que fazem bastante sentido: conheça a si mesmo, conheça o contexto, exerça influência e tenha fé. Fé em você, é claro. No mais, é só seguir a dica do grande filósofo Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar, vida leva eu..."


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