Texto de Nuno Vasconcellos, articulista do portal “IG”:
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“… Pelo menos no que diz respeito à reação às críticas que o Brasil recebe em relação ao meio ambiente, Lula e Bolsonaro falam a mesma língua. Assim como o antecessor, o atual presidente sempre devolve as cobranças dos países desenvolvidos em relação à exploração da Amazônia. Para eles, os Estados Unidos e os países desenvolvidos da Europa e da Ásia construíram sua riqueza sem o mínimo respeito ao meio ambiente e precisam se lembrar disso antes de criticar o Brasil.
Na ONU, Lula voltou a lembrar que “os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima”. Sendo assim, eles não têm autoridade para impor ao Brasil sua forma de lidar com essa questão. Bolsonaro, por sua vez, sempre reagiu às críticas em relação à Amazônia como se ouvisse uma ofensa.
Quando a Alemanha, em 2019, suspendeu a contribuição de mais de US$ 80 milhões por ano ao Fundo Amazônia, destinado a bancar ações de preservação na região, o então presidente reagiu como se aquilo não fizesse falta. E mandou um recado mal criado à então chanceler Angela Merkel: “Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok? Lá estão precisando mais do que aqui”, disse o presidente na ocasião.
Lula, ao contrário, devolve aos países ricos as cobranças que recebe. “O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si”, disse o presidente na ONU, referindo-se ao esforço liderado pelo Brasil para unir os países sul-americanos cobertos pela floresta em torno de uma agenda capaz de definir políticas de preservação para a região. Em agosto passado, o Brasil reuniu em Belém, no Pará, líderes dos oitos países signatários do Tratado de Cooperação Amazônica para discutir políticas de preservação e exploração responsável da região.
Lula parece feliz quando cumpre o papel de lembrar os outros de suas responsabilidades — e faz isso com maestria. Na ONU, ele foi absolutamente fiel a esse estilo e, por essa razão, não faltaram em seu discurso aqueles pontos que, dependendo da forma com que são olhados, causam mais constrangimentos do que trazem benefícios aos interesses do Brasil.
A viagem que o levou a Nova York, onde fica a sede da ONU, depois de passar por Havana, em Cuba, foi a 14ª que ele fez em nove meses de governo. Nelas, visitou um total de 19 países e manteve conversas bilaterais com cerca de 30 chefes de Estado. Em seus discursos e entrevistas, Lula sempre exige respeito do mundo às decisões internas de outros países.
Na ONU, Lula chamou de “ilegal” o bloqueio comercial que o Congresso dos Estados Unidos impôs a Cuba. Ele pode até criticar a medida, mas, por uma questão de coerência, ao chamá-la de “ilegal” ele está interferindo numa decisão democrática de outro país. No discurso, o presidente se queixou das medidas “unilaterais” que “causam grandes prejuízos às populações dos países afetados”. Se esqueceu, porém, de mencionar que a invasão da Ucrânia foi um ato unilateral de agressão da Rússia contra um país vizinho. Por mais que ele queira dividir a culpa entre os dois países em guerra, seu ponto de vista sobre esse assunto é uma defesa do regime ditatorial de Vladimir Putin, que é condenado pelo mundo inteiro.”
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