Artesanato alagoano une gerações e se reinventa entre mestres e novos talentos

Publicado em 19/03/2020, às 11h28
Foto: Marta Maria/Kaio Fragoso
Foto: Marta Maria/Kaio Fragoso

Por Assessoria

Artesanato é a concretização de uma história, um trabalho de gerações. Ser artesão é registrar e mergulhar em memórias, se sentir parte da própria arte. Comemorar o Dia do Artesão nesta quinta-feira (19) é evidenciar os mestres do estado, as tipologias e a história de uma Alagoas contada pelas mãos de talentosos artistas, que têm transmitido a responsabilidade aos filhos, netos e aprendizes da arte popular. 

A nova geração do artesanato surge para renovar os olhos lapidados dos mais de 30 mestres e mestras do estado, como: Dona Irinéia, Antônio de Dedé, Nelson da Rabeca, Marinalva, Maria Severiano, Pedrocas e Arlindo Monteiro. As novas peças podem mudar de forma, trazer poesia, trabalhar com cipó, madeira, mas não perdem a essência regional.

Júlia Ferreira, proprietária da marca Flor de Caroá, transforma suas redes sociais em uma vitrine virtual para quem quer conhecer o forte regionalismo vindo de Batalha traduzido na cabaça.

Há três anos trabalhando aperfeiçoando as etapas que vão desde a criação até a satisfação do cliente, a jovem artesã tem como inspiração as histórias contadas pela família, os costumes e o folclore. Hoje, ela conta com quatro pontos de venda - em Maceió, Batalha e Piranhas - e se faz presentes em feiras e eventos que acontecem no estado.

“A Flor de Caroá é a concretização da minha história. Ser artesã é muito mais que criar ou apenas ter facilidade com trabalhos manuais. Ser artesã pra mim é um dom, é um presente que o universo nos dá. É como se fosse uma missão, sabe? É um prazer inenarrável.  Desejo chegar na velhice com uma vasta bagagem de conhecimentos para poder passar adiante”, pontua Júlia.

Assim como ela, Tati Barros leva as cores vibrantes que refletem sua paixão aos acessórios. Natural de Palmeira dos Índios, no Agreste, ela já era artista plástica, mas foi em 2006 que começou a usar fios de algodão para produzir adornos com um toque étnico intuitivo. Sua inspiração vem das cores, formas e texturas da natureza que convive desde criança.

“Ser artesã é viver daquilo que  nasci pra ser, eu amo o meu trabalho. É minha essência, o que me move, é paixão, vida. É uma missão de levar alegria para as pessoas com o que é feito com as mãos e a alma”, expõe Tati. 

Sangue artesão

Em Capela, as ideias do Mestre João das Alagoas, autor de peças como O Boi, são transmitidas para as peças de seu filho, João Carlos da Silva Júnior, que vê a arte como uma forma de perpetuar a personalidade do pai.

“É como se nenhum de nós fosse morrer. Há nove anos me propus várias modalidades dentro do ofício. Talvez a herança seja deixada para outra época futura que vai se apropriar da nossa história. Nossa prática significa fazer parte da própria arte. É como o artista vê e se representa nas suas obras. Querer ser vivo dentro delas. Significa vida ser a continuidade de outro, e ser para outros, o mesmo”, expõe João Carlos.

Assim como ele, no calor do sertão da Ilha do Ferro, em Pão de Açúcar, Mestre Valmir Lessa, habilidoso com a madeira, transmite para a filha, Camille Lessa, os ensinamentos que deram forma, há três anos atrás, aos seus primeiros bancos em miniaturas, mesas, cadeiras, bonecos e tantos outros objetos. Mas, entre esses, suas peças preferidas são os bancos de cactos sereias e lustres. 

“Esse é um trabalho passado de geração a geração. Tenho o maior amor e orgulho de continuar essa herança que já foi passada do meu avô para o meu pai. É um trabalho que nunca vamos deixar acabar. Estaremos sempre passando para as crianças que vêm ao nosso ateliê, para que elas também passem”, explica Camille. 

O Alagoas Feita à Mão

Desde 2015, o programa Alagoas Feita à Mão, desenvolvido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur) promove o segmento e cria para o profissional oportunidades de entrar em um novo mercado através de feiras e eventos nacionais, divulgação do catálogo comercial do artesanato alagoano e mapeamento e identificação das oficinas dos artesãos.

Foi com essa iniciativa, o trabalho e as peças de cada artesão que o artesanato alagoano bateu um recorde de vendas e encerrou 2019 com R$1,2 milhões de produtos comercializados. A soma corresponde a quatro feiras nacionais:  Salão do Artesanato, em Brasília, Feira Nacional de Negócios e Artesanato (Fenearte), em Pernambuco, Salão do Artesanato, em São Paulo, e 30ª Feira Nacional do Artesanato, em Belo Horizonte.

Além das feiras e eventos, o programa permite que a produção alagoana ganhe, cada vez mais, novos mercados. Em 2019, a arte popular de Alagoas foi destaque no Design Weekend, um dos maiores festivais de design de São Paulo, com a instalação Vento Nordeste e a exposição Amostrada, reafirmando o potencial artístico dos artesãos e mestres de Alagoas.

 “Nosso trabalho é fazer com que a história da nossa Alagoas possa ser contada através das peças desses artistas, artesãos tão talentosos e alguns são considerados mestres e patrimônio vivo do estado. Esperamos consolidar nossa marca e continuar tendo a oportunidade de trabalhar juntos, apoiando a comercialização valorizando a atividade artesanal através do Programa Alagoas Feita à Mão, fazendo com que a produção seja a fonte de renda dos artesãos”, pontua Daniela Vasconcelos, gerente de Design e Artesanato da Sedetur. 

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