Amor Confesso: em produção no Agreste alagoano, filme traz história de um padre que se apaixona por jovem

Publicado em 29/01/2025, às 10h42
Imagem Amor Confesso: em produção no Agreste alagoano, filme traz história de um padre que se apaixona por jovem

Por Divulgação

Naquele tempo, havia no ar uma certa cumplicidade silenciosa. Década de 1980. Pecados ocultos. O Agreste alagoano, entre as grossas paredes da igreja e os olhares desconfiados dos fiéis, seguia seu ritmo rumo à pujança econômica que caracterizou seu destaque no cenário nacional. Arapiraca já era a Capital do Fumo. Uma história já conhecida.

Outra história que não se sabia era a que se escondia atrás da batina. Um amor. Uma paixão que avassalou toda a comunidade religiosa e a não religiosa. Ainal, o púlpito onde os sermões ocorriam e o confessionário eram territórios não mais neutros, onde a santidade e o pecado caminhavam de mãos entrelaçadas, lado a lado.

O padre vai pecar. Mas é pecado seguir o próprio coração?

É nesse cenário que mergulha “Amor Confesso", longa-metragem de ficção roteirizado e dirigido por Vitor Sousa, baiano radicado em Arapiraca, com apoio do mentor criativo e codiretor carioca Igor Verde, que tem ampla experiência em melodramas e atualmente é um dos diretores da novela global Mania de Você.

A trama trata de uma história de fé, desejo, culpa e poder, ambientada em um povoado fictício da região agrestina, escavando os dilemas de um jovem padre que abandona o celibato e as vestes sacerdotais para viver um amor proibido com uma jovem grávida, enquanto enfrenta a perseguição de um bispo obcecado e os julgamentos de uma sociedade regida por valores religiosos inflexíveis — para dizer o mínimo. Mas esse fundamentalismo se choca em um segredo incontido do bispo, que acoberta em seu peito uma antiga paixão.

É nesse solo aparentemente infértil que um surpreendente triângulo amoroso surge, junto com segredos, mortes e traições, germinando um amor confesso que desafia os limites da fé.

O projeto ficcional foi financiado pelo edital da Lei Paulo Gustavo, da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude de Arapiraca, e, a partir dos recursos repassados, ele já está em fase de reescrita do roteiro, com previsão de captação de recursos e desenvolvimento em breve. A história foi selecionada para participar dos Grupos de Roteiro do Projeto Marieta (São Paulo) e do Laboratório Farol Lab (Maceió), onde, neste último, contou com a orientação de nomes de peso no cinema brasileiro, com a consultoria de Nina Kopko, Armando Praça e Aleksei Abib.

Como parte do impacto comunitário, em contrapartida, o projeto oferecerá gratuitamente a oficina “Por Dentro das Narrativas Negras", voltada para estudantes da rede pública de ensino em Arapiraca, promovendo inclusão e devida formação audiovisual.

DESCONFORTO - Mais do que um drama sobre amores impossíveis, "Amor Confesso" se propõe a provocar um debate sobre abuso de poder e fanatismo religioso. A narrativa, inspirada em eventos reais do Sertão e Agreste alagoanos com pitadas ficcionais, reflete um Brasil profundo onde a fé é frequentemente utilizada como instrumento de controle. Controle dos corpos, das emoções, dos sentimentos em movimento.

“Esta ficção nasceu da necessidade de dar voz a histórias abafadas pelo tempo e pelo medo. É uma oportunidade de levar às telas uma reflexão sensível e necessária sobre os efeitos do fundamentalismo e do abuso em nossas vidas”, diz o roteirista e diretor Vitor Sousa.

Referências literárias como "O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz, e audiovisuais como ”Dúvida”, de John Patrick Shanley, ajudam a situar o tom do filme a ser dirigido aqui do Agreste alagoano, apostando no melodrama e na tensão psicológica para construir seu fio narrativo.

O resultado será uma obra que dialoga com o presente ao revisitar um passado marcado por segredos e hipocrisia.

“O ‘Amor Confesso’ é a proposta perfeita para aquele realizador que deseja provocar um belo e poderoso desconforto — tão criativo, quanto instigante — ao tocar temas contemporâneos poderosos, como fé, paternidade e relações amorosas. Essa história é o instrumento perfeito para criação de uma narrativa audiovisual potente e capaz de atravessar um grande número de pessoas (não só em Alagoas), tocando suas emoções, ao mesmo tempo que cria um diálogo inquieto com os seus inconscientes”, pontua o mentor criativo e codiretor Igor Verde.

A referida obra fílmica ainda não tem data de lançamento, mas já desperta interesse pelo seu potencial de trazer à tona discussões urgentes sobre abuso e silenciamento.

Em um Estado onde casos de abuso clerical foram historicamente abafados, a escolha do Agreste alagoano como cenário não é apenas um detalhe geográfico. É um gesto político e um convite ao incômodo. Porque algumas histórias precisam ser contadas — e vistas.

Gostou? Compartilhe