Os americanos interagem com a polícia mais de 60 milhões de vezes ao ano. E, para o ativista e engenheiro Brandon Anderson, pouca gente entende como essas interações podem impactar a vida das pessoas, até ser tarde demais. Como foi o seu caso ao perder o namorado, morto por um policial numa blitz de rotina.
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Anderson ficou sabendo mais tarde que o policial assassino tinha histórico de ser violento naquela comunidade, mas nunca ninguém havia registrado queixa. Descobriu também que poucos casos de violência policial são reportados e, quando são, não existe uma base de dados organizada, única ou pública.
Dez anos depois, em 2017, Anderson começou a trabalhar no aplicativo Raheem, apresentado na segunda-feira (15) no TED, evento que mistura palestras sobre novas tecnologias, entretenimento e design, durante uma semana em Vancouver.
O objetivo de Raheem é servir como plataforma independente de registro anônimo e rápido para interações com policiais, sejam elas boas ou ruins. Em três meses de testes em San Francisco, o aplicativo coletou mil interações, o dobro de dados que a cidade na Califórnia coleta em um ano.
"Sessenta por cento das interações registradas no piloto foram positivas. A maioria era de homens brancos em bairros de propriedades de alto valor", disse Anderson à reportagem após sua apresentação. "Você pode imaginar como foram as outras. Interações com negros, morenos e latinos tendem a ser negativas, ainda que nos mesmos bairros."
"Esses dados podem nos ensinar como comunidades são tratadas pela polícia. E também ajudar comunidades a criar e implementar políticas e procedimentos para que possamos acabar com violência policial."
O objetivo é que a base de dados coletada seja usada por duas fontes: conselhos independentes que fiscalizam forças policiais e criam políticas para as necessidades das comunidades; e promotores, que possam usar os dados para desacreditar policiais violentos em casos no tribunal.
O aplicativo também ajuda o usuário a entender suas opções no caso de uma interação abusiva. "Vamos conectar essa pessoa a um advogado e ela vai poder abrir um processo civil ou abrir uma reclamação formal. Queremos ajudar com o próximo passo", explica.
Atualmente, o aplicativo funciona em oito cidades da região da Bay Area, na Califórnia. Até o final de 2020, Anderson quer atingir as principais cidades do estado e, no futuro, dos EUA. Anderson tem interesses em levar a tecnologia para outros países, como Brasil, onde passou férias em 2018.
"É meu lugar favorito do mundo, mas ouvi histórias terríveis sobre violência policial", disse. "Para levar Raheem ao Brasil, seria necessário um grupo de pessoas que entendam o problema e saibam como tirar vantagem dessa tecnologia. Estamos abertos a conversas."
Quando perdeu o parceiro, seu primeiro amor desde a época da escola, Anderson era engenheiro do Exército e ajudava na construção de satélites para coleta de dados no Iraque. Viu em primeira mão o impacto de uma base de dados nas decisões tomadas pelo governo. Após cinco anos de vida militar, foi estudar sociologia na Georgetown University.
Anderson, 33, formou uma empresa sem fins lucrativos para desenvolver o aplicativo e levantou US$ 750 mil no último ano, incluindo doações de iniciativas ligadas ao Google e da Fundação Obama, do ex-presidente americano. Sua equipe tem hoje nove funcionários, e ele pretende dobrar de tamanho nos próximos 12 meses.
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