Alagoano Vitor Pirralho mostra terceiro disco cheio de participações especiais

Publicado em 18/02/2019, às 14h31
Vitor Pirralho | Gabriel Moreira
Vitor Pirralho | Gabriel Moreira

Por Assessoria

A invenção é a mãe das necessidades inicia sua viagem pelo Brasil com a transmissão de uma rádio russa, a UVB-76, ditando códigos até hoje indecifráveis. Rádio que segue em funcionamento, mas não se sabe onde ou por quê. A conexão com a música é direta com a canção que segue no disco “Rumos e rumores”, com participação de Ney Matogrosso, em que um mensageiro do futuro manda por uma garrafa um pen drive com os detalhes do que acontecerá no mundo após o descobrimento do Brasil.

A música foi a primeira a ser lançada por Vitor Pirralho & U.N.I.D.A.D.E. e ganhou videoclipe que vem repercutindo muito bem desde que foi liberado no Youtube. Dirigido por Henrique Oliveira (Panan Filmes), o vídeo traz Ney Matogrosso como o pajé que recebe essas informações e vê como a luta dos índios será longa.  Confira aqui: https://www.youtube.com/watch?v=gowWMn6vUCE.

O álbum é o terceiro da carreira de Vitor Pirralho, o alagoano conseguiu transformar esta obra em uma amálgama completa de sons e histórias que se cruzam e se complementam. Escutar A Invenção é a mãe das necessidades é quase como que cair em um livro cheio de referências e entender melhor não só a cabeça de Vitor, mas também o país em que vivemos neste momento.

Na canção que se segue, por exemplo, “PQTRLV” (Pedro Quer Ter Renda Lucro e Vantagem), título homônimo ao bar que conheceu em Cachoeira, na Bahia, quando lá foi se apresentar, Vitor vai além e percebe que na verdade essa é uma sacada que os portugueses tiveram logo que chegaram à antiga Santa Cruz. Em “Homero”, ele e Pedro Luís cantam as farras da vida e é uma homenagem ao poeta grego escritor de “Ilíada” e “Odisseia” em ritmo de funk carioca. “Fuzarca de nowhere” traz o questionamento que todo balzaquiano fez na vida: “Será que vale a pena continuar nessa vida de fuzarca (curtição, baladas, bebedeiras)?”.

Muitos acabam deixando as aventuras dionisíacas de lado e escolhendo divertimentos mais leves, no caso de Vitor Pirralho foi o futebol, que canta na música “PESPALMA” com o parceiro Zeca Baleiro. A faixa também traz uma brincadeira com o cognato “pés palma” e é uma referência às histórias dos dois artistas, que quer dizer: Pernambuco (PE), São Paulo (SP), Alagoas (AL) e Maranhão (MA). Vitor foi criado em Pernambuco, mas nasceu em Alagoas, Baleiro nasceu no Maranhão, mas fez sua carreira em São Paulo.

As músicas subsequentes têm em comum o tema luta. Inspirada em Machado de Assis e no personagem Quincas Borba, que dizia “ao vencedor, as batatas”, o refrão da música “Batatas” versa algo parecido e tem a participação da cantora brasiliense, radicada em São Paulo, Ellen Olléria. Mais uma participação especial vem na canção “É noz”, que ganha um toque ragga com o alagoano Boby CH. A expressão “é nós” é conhecida no rap indicando um “tamo junto”.

“Pensando nisso, elaborei uma metáfora com a noz, como se os resistentes a todas as mazelas sociais fossem nozes, e os inimigos, aqueles que querem devorar o miolo das nozes, seu alimento preferencial, são esquilos”, conta Pirralho.

No refrão de “As aventuras de Pi” (Pi de Pirralho) temos o artista cantando: “lute pelo seu direito de brincar / mas não brinque com o seu direito de lutar / todo mundo quer dançar, todo mundo quer curtir / porque hoje vão rolar as aventuras de Pi”, numa homenagem explícita ao hip hop old school (anos 1980 e começo dos 1990) com aquela batida característica de base eletrônica.  Tanto é que a inspiração para a faixa vem da música “(You gotta) Fight for your right (to party)”, dos Beastie Boys.

Na canção “Coragem”, essa força para lutar fica ainda mais explícita, essa tem a participação de Tonho Crocco (Ultramen) e Luiz de Assis (vocalista da Vibrações, banda de reggae de Alagoas, que teve participação no programa SuperStar). Já “Na base”convoca as pessoas a dialogarem para se entender. Até porque as mentiras e fake news estão sendo espalhadas pelo mundo, algo que vimos muito de perto nas últimas eleições do país, tema que, de certa forma, também está presente em “Manifesto Pi”. A última faixa do disco, “Trecho em Obras”, tem uma pegada soul e ganha mais uma vez a voz de Tonho Crocco.

“Eu gosto de rap, mas antes de gostar de rap eu já ouvia Michael Jackson, black music de maneira geral, e música brasileira também (de Reginaldo Rossi a Chico Buarque, tudo da década de 1970, Secos & Molhados também estavam nesse bolo, vale ressaltar, tudo isso por influência dos meus pais). Depois rock, house, até aparecer Chico Science e o rap na minha vida. Por isso, eu sempre gostei de música como um todo, não apenas de um gênero. E concomitantemente sempre estudando as possibilidades da poesia. Por isso tudo, nunca me interessei em ser representante de um único estilo, não gosto de ser chamado de rapper ou MC, gosto de ser reconhecido como poeta, sou um antropófago, sabe?! Isso é o mais importante pra mim”, explica Vitor Pirralho.

As 13 faixas do disco A invenção é a mãe das necessidades, de Vitor Pirralho e U.N.I.D.A.D.E.,  foram gravadas no Sagaz Estúdio, teve produção e mixagem de Pedro Ivo Euzébio e masterização de Jair Donato. Todas as canções originalmente são de Vitor Pirralho em parceria com o supracitado Pedro Ivo Euzébio, algumas delas foram ganhando outros parceiros ao longo do processo de composição, como os já citados Zeca Baleiro, Pedro Luís e Ellen Olléria, por exemplo.  O álbum foi produzido com apoio da Prefeitura de Maceió (AL), pela Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC).


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