Alagoano vai estudar reação no cérebro dos cariocas diante do som de /t/ e /d/

Publicado em 21/12/2023, às 13h23
Ascom Ufal
Ascom Ufal

Por Manuella Soares/Ascom Ufal

Teve sotaque nordestino alcançando nota máxima no mestrado mais concorrido do país na área de linguística. Pedro Henrique Sousa dos Santos, egresso do curso de Letras da Ufal em Arapiraca, conquistou o primeiro lugar no Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) defendendo um projeto que busca entender como os nativos do Rio reagem ao som de /t/ e /d/ diante de /i/ quando é falado de forma diferente.

O projeto tenta relacionar as áreas de sociolinguística e neurociência da linguagem durante o estímulo de um fenômeno chamado palatalização, que é a modificação do som sofrido pelas consoantes e vogais. “Quero analisar como as pessoas reagem a uma variedade diferente da sua e se há algum tipo de assinatura elétrica no cérebro correspondente a essa percepção. Então, por exemplo, quando um carioca me ouve falar ‘tia’, ‘dia’, acontece alguma coisa no cérebro deles, alguma assinatura elétrica específica para isso? A minha hipótese é de que talvez seja uma onda elétrica que é chamada de MMN e ela acontece de 80 a 150 milissegundos”, explica Pedro, que vai precisar utilizar um eletroencefalograma disponível no laboratório da UFRJ para captar essas ondas elétricas na sua pesquisa.

Agora imagine um nordestino, “matuto”, como ele se autodenomina, fazendo a arguição do tema para uma banca rigorosa, de sotaques variados. Sim, ele deu show! “Rodou os corredores na UFRJ. Eu era ‘o menino de fora que tirou 10 em linguística’”. Pedro gabaritou, tirou 10 em todas as etapas e vai virar cidadão do Rio pelos próximos anos. O menino que até ano passado nunca tinha saído de Arapiraca já vislumbra uma carreira de sucesso nos grandes centros, falando “tia” e “dia” como um bom alagoano.

“Eu tinha um sonho, quando entrei na graduação, de ir pra UFRJ estudar com a professora Aniela Improta França [sua futura orientadora]. Mas também tinha o sonho de estudar no MIT, que é o Instituto de Tecnologias de Massachusetts, porque lá tem um pessoal bem legal que estuda linguagem. Eu tenho muita vontade de fazer doutorado fora, estudar com outras pessoas e também eu gostaria de expandir mais o conhecimento da área para pessoas de outras áreas”, planeja.

As aulas na UFRJ iniciam em março. O filho de um agricultor e de uma cozinheira, morador do sítio Lagoa Cavada, numa rua que não tem nem CEP, ainda está processando o que o futuro está prometendo daqui por diante.

“Eu acho meus pais estão no estado de negação de que eu vou embora, minha avó tá com raiva porque eu vou embora de Arapiraca. Eu não sei muito fazer as coisas sozinho. Eu sou bem matuto, só sei mais estudar! Viver sozinho é um negócio que estou aprendendo ainda”, brinca Pedro, mas com a coragem suficiente para encarar o que o mundo lhe oferece.

Entusiasta dos estudos - Morar no “interior do interior”, como ele fala, e numa rua sem CEP nunca foi um problema para Pedro enxergar os estudos como oportunidade. Com berço em escolas públicas, ao longo da vida escolar foi notado por professores que viram nele um potencial que não poderia ser parado no meio do caminho.

Pedro ganhou bolsa para estudar num curso de redação preparatório no Ensino Médio, tirou nota no Enem suficiente para passar em Medicina, curso com maior ponto de corte do Sisu, e se dedicou por inteiro a fazer uma excelente graduação em Letras na Ufal.

“Eu tentei entrar em tudo quanto é canto de projetos. Eu fiz três iniciações científicas com a professora Elyne Vitório, que foi uma pessoa essencial na minha carreira acadêmica, que me ajudou a enxergar melhor o mundo científico e também a ter práticas mais assertivas. Fiz monitoria, fiz iniciação à docência, e participei de um monte de eventos, então foi assim, uma jornada acadêmica que eu considero muito rica”, explanou Pedro sobre o caminho natural que perseguiu para conquistar os espaços que hoje está ocupando.

E é retórica. Pedro e mais um exemplo de que por trás um aluno promissor, tem sempre uma combinação de perseverança, orientação docente e gratidão: “ Eu gosto imensamente da Ufal porque tem muitos programas que ajudam os estudantes a se desenvolverem e eu tenho certeza que se eu não tivesse esse auxílio dos meus professores do curso, eu não teria conseguido essa aprovação e não estaria indo para o Rio estudar”.

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