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Afinal, como foi a morte de Juscelino Kubitschek?

Em 16 de Fevereiro de 2025 às 14:26

Jornalista Karina Ferreira:

“Um sinistro de trânsito ocorrido há 48 anos, que vitimou o ex-presidente da República Juscelino Kubitscheck, poderá ser novamente investigado, por decisão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Presidente do Brasil entre 1956 e 1961, JK, alcunha pelo qual ficou conhecido, morreu em um desastre de trânsito em 22 agosto de 1976, na Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.

O acidente, por volta das 18h de um domingo, ocorreu na altura da cidade fluminense de Resende, envolvendo o Chevrolet Opala em que Juscelino estava com seu motorista, um caminhão e um ônibus da empresa Viação Cometa.

O automóvel seguia em direção ao Rio de Janeiro, assim como o ônibus, quando invadiu a contramão e bateu no caminhão carregado com 30 toneladas de gesso.

Dois dias após o sinistro de trânsito, se noticiava que a causa da colisão se mantinha um mistério. ‘Dois fatores aparecem como os prováveis entre as causas do acidente. O seu motorista teria sofrido um mal súbito, possibilidade sugerida pelas condições de seu corpo, ou o veículo teria sido abalroado por um ônibus da Viação Cometa apenas de leve, mas o suficiente para ficar descontrolado’.

Segundo o chefe de tráfego da empresa narrou à reportagem na época, o ônibus vinha atrás do Opala de JK, quando passageiros e o próprio motorista viram o carro ‘se desgovernar’ e atravessar o canteiro central que dividia a rodovia. Foi então que colidiu com uma carreta na pista contrária, que, segundo os relatos, trafegava a 80 quilômetros por hora.

Na época, sob regime militar, o presidente Ernesto Geisel foi criticado porque o governo demorou para decretar luto oficial, o que fez com que políticos comentassem o caso em discursos no Congresso. O luto de três dias foi decretado cerca de 13h do dia seguinte à morte, mas quase cinco horas após o presidente militar chegar ao Palácio.

O governo disse que, com a decretação do luto, o caso estava encerrado. Investigação na época apontou que a causa do acidente foi uma colisão do ônibus, conduzido por Josias Nunes de Oliveira, contra o Opala ao tentar ultrapassá-lo. Outras investigações, como da Comissão Nacional da Verdade em 2014, apontaram as mesmas conclusões.

Em 2013, o motorista do ônibus narrou à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo que dois homens ofereceram dinheiro para que ele assumisse a culpa no processo do qual foi réu.

 Para a Comissão e outros grupos de trabalho de universidades, JK pode ter sido vítima de um atentado político, por meio de envenenamento, sabotagem ou tiro.

Em 1996, o caso chegou a ser reaberto e o corpo do motorista de JK, Geraldo Ribeiro, foi exumado, mas as conclusões da nova perícia foram as mesmas da primeira investigação. Havia a suspeita de que o motorista do carro teria levado um tiro na cabeça, mas a perícia constatou que o objeto metálico encontrado em seu crânio era um prego do caixão.

Em 2021, o Ministério Público Federal (MPF) tirou o sigilo de um inquérito civil aberto em 2013, que apontou que, diferentemente do que o governo militar alegava, o acidente não foi causado pelo motorista do ônibus.

O documento se baseou num laudo produzido pelo engenheiro e perito especialista em transportes Sergio Ejzenberg. Ele analisou laudos feitos em 1976 e 1996 pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), que embasaram a tese oficial do choque, primeiro, do ônibus no Opala. O novo estudo demorou três anos para ser elaborado, sendo concluído em 2019.

‘O ônibus da Viação Cometa placas HX-2630/SP prefixo 3148 não estava trafegando com excesso de velocidade, e não teve qualquer participação causal nos fatos’, diz o laudo.

Ainda segundo o estudo, o caminhão desviou para a direita e reduziu a velocidade, enquanto o automóvel, mais ágil, ‘nem ante a iminência da colisão frontal frenou emergencialmente’.

‘Os laudos do ICCE registraram essas incoerências, mas não as estudaram, preferindo apontar uma causa que não se sustenta tecnicamente – contato não ocorrido do automóvel Opala com o ônibus Cometa’, apontou o perito.

O laudo diz ainda não ter sido possível mostrar o que causou a invasão do carro no outro sentido da pista, ‘mas pôde demonstrar, sem qualquer dúvida, as graves inconsistências técnicas que comprometem as conclusões dos Laudos do ICCE de 1976 e de 1996 e, consequentemente, as da CNV em 2014’.

Já a hipótese de sabotagem não pôde ser confirmada, porque o Opala foi desmantelado, ‘enquanto estava guardado no pátio da Delegacia de Polícia de Resende-RJ’ na época do acidente.

Diante dos fatos, o MPF concluiu que houve ‘falhas severas’ na investigação, que o regime militar monitorava JK, e que não era possível alcançar a verdade dos fatos do que realmente houve.

‘É impossível afirmar ou descartar que o veículo tivesse sido sabotado, ou mesmo que o motorista tivesse sofrido um mal súbito ou sido envenenado, vez que não há elementos materiais suficientes para apontar a causa do acidente ou que expliquem a perda do controle do automóvel’, diz o documento do órgão.”

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