Adoçante faz mal à saúde? Veja o que diz a ciência

Publicado em 22/05/2023, às 11h06
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Por Folhapress

Na última segunda-feira (15), a OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou uma nova diretriz indicando que adoçantes não devem ser usados para controle de peso. A publicação levantou dúvidas sobre a segurança do produto. Não há consenso científico sobre os riscos atrelados ao uso, mas a comunidade internacional tem se debruçado em pesquisas que associam o consumo a chances aumentadas de doenças do coração, diabetes tipo 2, trombose e câncer.

As novas diretrizes da OMS já eram observadas pela instituição pelo menos desde 2022, quando a entidade publicou uma revisão de estudos e dados sobre os efeitos dos adoçantes sem açúcar.

A entidade destacou a falta de consenso científico sobre a eficácia dos adoçantes na perda e controle de peso no longo prazo e que há muitos efeitos colaterais negativos envolvidos. As diretrizes se referem a qualquer composto (natural ou sintético) não nutritivo, nem classificado como açúcar, utilizado como adoçante.

Isso inclui aspartame, ciclamato, sacarina, sucralose, derivados de estévia, acesulfame K, advantame, ciclamatos, neotame, e todos os ativos do tipo vendidos separadamente e encontrados em alimentos e bebidas.

O nutricionista Dennys Esper Cintra, coordenador do Laboratório de Genômica Nutricional da Unicamp (Universidade de Campinas) e consultor da Asbran (Associação Brasileira de Nutrição), diz que são fracas as evidências que indicam que os benefícios dos produtos não superam os riscos.

O profissional também pontua que o objetivo da OMS é sinalizar aos países a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas voltadas para consumo de alimentos mais saudáveis, redução do consumo de açúcar refinado e de alimentos ultraprocessados, além da regulamentação devida desta indústria.

"Essa recomendação é destinada para quem faz uso disso para controle de peso, mas não para pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 pré-estabelecido. É diferente de ‘pare de consumir adoçante’, precisa ficar claro, porque se não causa um temor na população", diz Cintra.

Um estudo publicado na PLoS em 2022 verificou a associação entre o consumo de adoçantes e o risco de câncer.

O levantamento considerou resultados de 102.865 adultos acompanhados por 7,8 anos. A ingestão dietética e o consumo de adoçantes pelos participantes foram obtidos por meio de registros alimentares diários e incluíram marcas de produtos industrializados.

O trabalho conclui que adoçantes artificiais (especialmente aspartame e acessulfame-K), usados em muitas marcas de alimentos e bebidas em todo o mundo, foram associados ao aumento do risco de câncer.

Outro artigo, publicado em agosto de 2022 na Revista Cell, mostra que o uso de sucralose e suplementação de sacarina prejudica a resposta glicêmica em adultos saudáveis.
Os 120 participantes do trabalho consumiram sachês de sacarina, sucralose, aspartame e estévia por duas semanas em doses menores do que a ingestão diária aceitável. Um grupo de controle recebeu sachês de glicose veicular ou nenhum suplemento.

De acordo com os autores, o consumo de adoçantes não nutritivos alterou "distintamente as fezes, o microbioma oral e o metaboloma plasmático, enquanto a sacarina e a sucralose prejudicaram significativamente as respostas glicêmicas."

Em 2016, pesquisadores indianos questionaram se adoçantes artificiais como substitutos do açúcar eram mesmo saudáveis, além de avaliar se poderiam ser considerados seguros para diabéticos.

Publicado na Indian Journal Pharmacology, o estudo considerou seis agentes (aspartame, sacarina, sucralose, neotame, acessulfame-K e estévia) reconhecidos à época como seguros pela FDA (agência americana reguladora de medicamentos e alimentos), e mais dois ("swingle fruit extract" e o advantame).

Os autores concluíram que mulheres grávidas e lactantes, crianças, diabéticos, pacientes com enxaqueca e epilepsia representam "uma população suscetível aos efeitos adversos dos produtos contendo adoçantes não nutritivos e devem usar esses produtos com o máximo cuidado."
Para os demais, o uso permanecia inconclusivo.

Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela USP (Universidade de São Paulo) e membro da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), afirma que há pelo menos cincos anos a comunidade científica já aponta que adoçantes aumentam o risco de câncer, entre outras doenças, sem sequer conseguir o efeito principal de saciedade dado pelo açúcar.

"O açúcar consegue fazer a liberação de substâncias no cérebro. O uso de adoçantes pode levar a pessoa a comer mais, até que fique compulsiva atrás de açúcares verdadeiros como doces e carboidratos", diz Barca.

Sua orientação para substituir os adoçantes não-nutritivos é, além de dieta e exercícios, procurar açúcares de baixa caloria e álcool de açúcar, como eritritol e o xilitol, não citados pela OMS.

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