A influência da publicidade em nossas escolhas alimentares

Publicado em 06/10/2023, às 14h48
Foto: Freepik
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Por Ministério da Saúde

A alimentação adequada e saudável é promotora da saúde e vai ainda mais além. Ela deriva de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável. Isso significa dizer que basear a alimentação em alimentos in natura e minimamente processados faz bem não só para o indivíduo e sua saúde, mas para todo o contexto no qual ele está inserido. Inclusive  preservando a sua cultura e fortalecendo a economia local. 

Por outro lado, existe a indústria dos alimentos ultraprocessados fazendo um trabalho na contramão disso.  A manufatura, distribuição e comercialização de alimentos ultraprocessados são potencialmente danosas para o ambiente e, conforme a escala da sua produção, ameaçam a sustentabilidade do planeta

Entre alguns obstáculos para a  adoção de hábitos saudáveis , está a publicidade de alimentos ultraprocessados. Ela domina os anúncios comerciais de alimentos, frequentemente veicula informações incorretas ou incompletas sobre alimentação e atinge sobretudo crianças e jovens.

De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, os brasileiros de todas as idades são diariamente expostos a diversas estratégias utilizadas pelas indústrias de alimentos na divulgação dos seus produtos. Comerciais em televisão e rádio, anúncios em jornais e revistas, matérias na internet, amostras grátis de produtos, ofertas de brindes, descontos e promoções, colocação de produtos em locais estratégicos dentro dos supermercados e embalagens atraentes são alguns dos exemplos mais frequentes dos mecanismos adotados para a sedução e o convencimento dos consumidores.

A situação fica ainda mais grave quando essa publicidade, além de incentivar o consumo diário destes alimentos, ainda o faz em grandes quantidades e especialmente voltado para crianças e adolescentes. Para adultos, o consumo desses alimentos também é muito grave, mas para os pequenos possui um agravante diferente. As crianças estão em um processo especial de desenvolvimento e sozinhas ainda não conseguem compreender muitos dos elementos do mundo adulto. 

Com base nos que veem nos comerciais, as pessoas são levadas a acreditar que os alimentos ultraprocessados têm qualidade superior a dos demais ou que tornarão as pessoas mais felizes, atraentes, fortes, “supersaudáveis” e socialmente aceitas ou, ainda, que suas calorias seriam necessárias para a prática de esportes.

Além disso, até os 2 anos de idade, conforme explica o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, as crianças não devem consumir açúcar (ingrediente frequentemente encontrado nos alimentos ultraprocessados) de nenhum tipo  : branco, mascavo, cristal, demerara, açúcar de coco, xarope de milho, mel, melado ou rapadura. Também não devem ser oferecidas preparações que tenham o ingrediente, como bolos, biscoitos, doces e geleias. Nem mesmo o suco natural deve ser ofertado nessa idade. O açúcar também está presente em grande parte dos alimentos ultraprocessados (refrigerantes, achocolatados, farinhas instantâneas com açúcar, bolos prontos, biscoitos, iogurtes, sucos de caixinha, entre outros). Esse é um dos motivos pelos quais eles não devem ser oferecidos para crianças pequenas.

O motivo para isso é que as crianças estão formando o seu paladar nessa fase, que já é naturalmente mais favorável ao doce. Então prejudicaria a introdução de outros alimentos, especialmente os in natura e minimamente processados, como verduras, legumes e outros alimentos saudáveis. Esses dois primeiros anos são muito importantes, por ser um período intenso de desenvolvimento de todo o sistema nervoso e cognitivo dos pequenos. É o período em que a criança está moldando uma série de aspectos do seu desenvolvimento, Não ofertar açúcar e produtos que contenham esse ingrediente nos 2 primeiros anos de vida contribui para a formação de hábitos alimentares mais saudáveis.

Conforme explica o Guia Alimentar, a publicidade dirigida a crianças usa elementos de que elas mais gostam, como desenhos, heróis, brinquedos, jogos e outros aspectos que fazem parte do seu universo. Além disso, a publicidade utiliza recursos que fazem os ultraprocessados serem associados ao bom crescimento e desenvolvimento na infância, o que pode induzir os pais e cuidadores a acharem que são alimentos saudáveis, mas não são.

Isso sem falar que esses alimentos estão presentes nos espaços de convivência da criança, como escolas, espaços públicos, parques e restaurantes. Sendo assim, o Guia Alimentar ainda relembra que cada vez mais precocemente as crianças se constituem no público-alvo da publicidade de alimentos. Isso por conta da influência que exercem na escolha das compras das famílias e também porque estão formando hábitos de consumo que poderão se prolongar pelo resto de suas vidas.

Quem vê cara, não vê embalagem

Um outro artifício estratégico da publicidade é passar a ideia de que um produto é saudável, mesmo ele não sendo. Isso acontece com versões reformuladas de um produto que antes não agregava tanto valor à saúde. É o exemplo dos produtos light, diet ou os enriquecidos com vitaminas, fibras, etc. 

De acordo com o Guia Alimentar, a reformulação frequentemente não traz benefícios claros. Por exemplo, quando o conteúdo de gordura do produto é reduzido à custa do aumento no conteúdo de açúcar ou vice-versa. Ou quando se adicionam fibras ou micronutrientes sintéticos aos produtos, sem a garantia de que o nutriente adicionado reproduza no organismo a função do nutriente naturalmente presente nos alimentos. 

O problema principal com alimentos ultraprocessados reformulados é o risco de serem vistos como produtos saudáveis, cujo consumo não precisaria mais ser evitado. A publicidade desses produtos explora suas vantagens diante dos produtos regulares (“menos calorias”, “adicionado de vitaminas e minerais”), aumentando as chances de que sejam vistos como saudáveis pelas pessoas.

Como superar o obstáculo da publicidade?

Superar o obstáculo da publicidade envolve ações regulatórias do Estado, por meio da imposição de regras e restrições para esses anúncios, principalmente os direcionados para crianças, mas também passa por um esforço coletivo dentro e fora de casa. Pais e educadores podem limitar a quantidade de tempo que a criança passa exposta aos comerciais, além de esclarecer para os pequenos que aquilo são apenas estratégias para vender mais. 

Uma estratégia importante é brincar com a criança. Atividades como dançar, cantar, correr e jogar estimulam mais o desenvolvimento do que ficar olhando uma tela. Quanto mais a criança brincar ativamente e interagir com objetos e pessoas, melhor.

Individualmente, é possível tornar-se mais crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais. Conforme explica o Guia, a remoção de obstáculos demanda, sobretudo, que as pessoas reflitam sobre a importância que a alimentação tem ou pode ter para suas vidas e concedam maior valor ao processo de adquirir, preparar e consumir alimentos. 

Sobre o Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde

O Guia Alimentar para a População Brasileira é um instrumento para apoiar e incentivar práticas alimentares saudáveis no âmbito individual e coletivo. Foi feito para todos os brasileiros e brasileiras! Ele reúne um conjunto de informações e recomendações sobre alimentação que contribuem para a promoção da saúde de pessoas, famílias e comunidades e da sociedade como um todo, hoje e no futuro. Acesse agora para consultar todas as orientações e garantir mais saúde e qualidade de vida.

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