A representação de Dom Pedro I em trajes militares, montado em um cavalo alazão e cercado por uma numerosa guarda, imortalizada na obra “O brado do Ipiranga”, do artista plástico Pedro Américo, é uma referência em nossa memória quando se fala do 7 de setembro de 1822..
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A pintura, encomendada por Dom Pedro 2º numa época em que os ideais republicanos ameaçavam a monarquia brasileira, segundo o jornalista Laurentino Gomes, apresenta uma série de mitos em relação ao evento.
Laurentino diz que a cena real foi “bucólica e mais brasileira do que a retratada por Pedro Américo”.
O portal UOL levantou alguns mitos, verdades e curiosidades desse episódio da História do Brasil, conforme relatados por Laurentino Gomes e pela professora de história do Colégio Mopi, Marina Carvalho:
“Dom Pedro estava vestido de príncipe?
Mito. Segundo Laurentino Gomes, autor do livro 1822, que revela o cenário político no Brasil de D. Pedro, o monarca não estava vestido como um príncipe real e sim como um tropeiro, por conta da viagem que fazia.
Dom Pedro estava montado em um cavalo?
Mito. D. Pedro estava em São Paulo, voltando de Santos, no litoral, para conter manifestações e acalmar os ânimos dos descontentes com o então cenário político. Segundo testemunho do padre Belchior Pinheiro, que integrava a comitiva, D. Pedro recebeu de mensageiros uma série de cartas que o deixaram com raiva. Ele amassou os papéis, pisou sobre eles e os deixou na relva — então não estava sobre o cavalo. Além disso, segundo a historiadora e escritora Lilia Schwarcz, viagens de longa distância eram feitas em lombo de burro ou mula.
A Independência foi realmente proclamada às margens do Ipiranga?
Verdade. A Independência realmente foi proclamada às margens do Ipiranga. E há relatos de que a célebre frase ‘Independência ou Morte’ realmente foi dita. No entanto, o terreno na região não era tão elevado — mas, para elevar a cena, a pintura de Pedro Américo colocou D. Pedro no alto de uma colina.
Uma guarda honra acompanhava Dom Pedro?
Mito. ‘A guarda de honra, que faz um semicírculo ao redor de Dom Pedro no quadro, não existia na época’, afirma Laurentino. ‘O quadro [Independência ou Morte], na verdade, retrata a ideologia conservadora do fato, uma vez que foi feito a pedidos de políticos do partido conservador no auge da crise da monarquia do país’, explica Marina.
Dom Pedro estava com dor de barriga no momento do grito de independência?
Provavelmente. ‘Segundo uma testemunha da cena [o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, futuro Barão de Pindamonhangaba], Dom Pedro estava com dor de barriga’, conta Laurentino. O príncipe-regente possivelmente comeu algum alimento estragado no dia anterior, em Santos, ou bebeu água contaminada das bicas que abasteciam as tropas. O fato é que, neste momento histórico, Dom Pedro estava com disenteria.
A independência sempre foi comemorada em 7 de setembro?
Não. Segundo Laurentino, na época, a grande discussão era se a independência do Brasil deveria ser comemorada em 7 de setembro, 12 de outubro (dia da aclamação de Dom Pedro 1º) ou 1º de dezembro (dia da coroação de Dom Pedro 1º). ‘Falar que a independência foi historicamente celebrada desde sua implantação é outro mito. Ela passa a ser exaltada no dia 7 de setembro somente no segundo reinado, reforçando a centralidade de Pedro 2º, isto é, o comando do Estado brasileiro por uma única pessoa’, conta Marina.
Dom Pedro compôs o Hino da Independência no dia 7 de setembro de 1822?
Mito. ‘Isso não aconteceu. Você imagina um jovem príncipe cavalgando numa mula, empoeirado, cansado e quando chega a seu destino ainda é capaz de compor um hino de composição elaborada, como o Hino da Independência’, afirma Laurentino. Segundo ele, o hino já estava pronto e Dom Pedro já teria partido do Rio de Janeiro com a música que seria executada àquela noite.
A independência trouxe profundas mudanças ao Brasil?
Mito. A realidade social do Brasil continua a mesma do período colonial. ‘A aristocracia rural escravagista decidiu embarcar em um projeto de manter Dom Pedro no trono, manter a monarquia, impedir que o Brasil se tornasse uma república e não abolir a escravidão. A estrutura social se mantém inalterada, nada aconteceu [após a independência]’, explica Laurentino.”
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