A pandemia do novo coronavírus já tornou realidade o isolamento social em muitos países. Segundo relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde alguns grupos da população são mais suscetíveis à Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Entre esses conjuntos mais vulneráveis estão idosos, diabéticos, hipertensos, quem tem insuficiência renal, doenças respiratórias ou cardiovasculares crônicas. Desse modo, as autoridades médicas já indicaram que é de suma importância a permanência desses indivíduos em casa enquanto a disseminação não for controlada.
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Apesar de prejudicial a todos, a falta de contato social pode ser de gravidade ainda maior quando se trata daqueles com idade mais avançada, os quais tem menos familiaridade com recursos de interação virtual e, muitas vezes, uma saúde debilitada que requer monitoramento, de modo a dificultar a obediência às recomendações médicas de isolamento. “Os maiores riscos são o deterioro cognitivo e em alguns casos a presença da ideação suicida, que pode piorar de acordo com algumas faixas etárias. Uma pessoa que passou a vida inteira deprimida, por exemplo, tem chances de apresentar esse traço na velhice, particularmente os homens. Isso se aplica, nesse caso, em sair de casa ou se contaminar”, explica Cloves Amorim, professor da graduação de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), onde também ministra aulas sobre envelhecimento e saúde da pessoa idosa na pós-graduação.
Segundo o psicólogo, neste momento de quarentena é essencial que os familiares se atentem ao monitoramento da assistência básica, mesmo que de forma remota. “A presença do excesso de medicamentos dentro de casa pode fazer o idoso tomar remédios que não deveria ou se confundir com os horários se estiver muito tempo sozinho”, diz. Além disso, Cloves explica que o cuidado com a alimentação e a hidratação são críticos nesta tensa atmosfera. “É possível que comam demais ou então abusem do açúcar, o que torna aqueles que têm glicose alta e pré diabéticos ainda mais vulneráveis. Esquecer de tomar água também é comum, e algumas síndromes podem ser ocasionadas pela falta do líquido no organismo”, explica.
Tanto Cloves, quanto a psicóloga Regina Célia Celebrone, que coordenou o laboratório Luto e Envelhecimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) são unânimes em dizer que o maior risco da quarentena para os idosos é o desenvolvimento de doenças mentais como depressão, pânico e ansiedade ao carecerem de estímulos, contato e interação social. Em contrapartida, Regina defende a ideia de que esse contexto não precisa ser ameaçador. “O isolamento é social mas não tem que ser emocional. Inclusive, ele pode possibilitar a aproximação afetiva entre gerações. Esta é uma oportunidade de estreitar vínculos até então enfraquecidos e empoderar o diálogo”, afirma.
Neste cenário extremamente delicado para os idosos, os psicólogos apontam tecnologia, construção de rotina e acesso a informação como alguns meios de incentivar os mais velhos a permanecerem em casa e não se exporem a riscos provenientes tanto do ambiente externo quanto do próprio isolamento.
Veja 7 dicas compartilhadas pelos especialistas:
“Agora é um momento crucial para os idosos compreenderem as tecnologias”, afirma Regina. A psicóloga reforça a importância de ajudar os mais velhos entenderem ou estreitaram a familiaridade com os recursos tecnológicos a fim de manter seus vínculos sociais e familiares. “Vai precisar de um neto generoso, de alguém que tenha a iniciativa de ensinar a eles, por exemplo, fazer uma vídeo chamada”, diz. Regina ainda sugere que utilizem as redes sociais para criarem grupos de interesses e compartilhar o que sabem. “Não está dando para formar grupo físico, mas é possível fazê-lo pelo WhatsApp, por exemplo. Eles podem trocar receitas, afinidades, o que gostam na vida”.
Para Cloves, é ideal que haja um rodízio, ou seja, um revezamento organizado entre os familiares para que o idoso não se se sinta abandonado na quarentena. “Esse esquema pode ser com telefonemas e e-mails, entre outros. A ideia é manter uma rotina segundo a cultura daquela casa e família para que a pessoa não se sinta isolada emocionalmente”, diz o psicólogo.
“O que um idoso pode fazer para preencher seu tempo? É possível bordar, jogar jogo de mesa com os habitantes da residência caso não more sozinho, palavras cruzadas, ler, fazer receitas que demandarão tempo para preparar, assar, embalar e guardar, etc”. Esses são alguns exemplos dados por Cloves para alguém com idade mais avançada garantir seu bem-estar a partir da ocupação. “Quando se tem uma contingência ou um ambiente onde o sujeito está bem, principalmente se não tiver um declínio ou um deterioro cognitivo, com certeza essa estratégia facilita bastante permanecer em casa”, explica.
Regina indica que incentivar os idosos a escreverem é um método útil para que eles permaneçam saudáveis mentalmente na quarentena. “Escrever sobre seus sentimentos em um diário para deixar os registros às próximas gerações pode ajudá-los a sentirem-se protagonistas como testemunhas de um momento único na história”, diz.
Segundo Regina, existe um imaginário social que impulsiona os adultos a infantilizarem os idosos, de modo a preferir poupá-los de algumas informações. A psicóloga explica que por existirem poucas pesquisas e estudos sobre o envelhecimento com abordagem psíquica, de subjetividade, a tendência é reforçada, mas alerta para que este comportamento seja policiado, especialmente no contexto atual. “O desconhecido gera trauma, logo, é possível amenizar a angústia e a ansiedade, bem como transmitir uma segurança maior ao fornecer dados”, diz. Para Cloves, escutar ou assistir o noticiário também é uma forma de acessar o esclarecimento.
Segundo Cloves, a estrutura cotidiana também ajuda a garantir o bem-estar do idoso durante a quarentena. “É importante manter uma rotina para dormir, por exemplo. Se ficar deitado o dia inteiro, a noite não tem sono, o que pode fazê-lo ter insônia ou dormir mal”. Tentar acordar todos os dias no mesmo horário, não passar o tempo todo de pijama e ter um hábito de preparação para começar o dia também são práticas que contribuem para estruturar o cotidiano.
Manter-se em contato com a espiritualidade é outra prática que contribui para a saúde mental no isolamento, segundo Cloves. “Se a pessoa tiver alguma prática religiosa, ela pode fazer uma meditação durante o dia, fazer uma oração de acordo com a sua crença, ler um texto da Bíblia. Tudo isso ajuda bastante”, diz.
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