Volta de Lars Von Trier, rixa com Netflix e feministas devem dar o tom em Cannes

Publicado em 07/05/2018, às 09h52

Redação

O Hotel du Cap-Eden-Roc é um resort de luxo incrustado numa rocha que brota do mar da Riviera Francesa. Foi num de seus 118 quartos que a atriz italiana Asia Argento afirma ter sido estuprada pelo produtor Harvey Weinstein enquanto o Festival de Cannes de 1997 transcorria, a poucos quilômetros dali.

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A partir desta terça-feira (8), quando começar a 71ª edição da mostra de cinema mais importante do mundo, o espectro de Weinstein e as campanhas feministas Me Too e Time"s Up devem provocar debates inflamados na cidade.

A organização do festival está no centro de controvérsia com esses novos movimentos, conhecidos pela forte pressão que fazem contra homens acusados de crimes sexuais.

O júri que dará a Palma de Ouro neste ano tem maioria feminina -sob a presidência da atriz Cate Blanchett-, mas não passou batido pelas feministas o fato de que, dos 21 filmes em competição, 3 são de cineastas mulheres.

Thierry Frémaux, diretor artístico da mostra, rebate as críticas: "Não escolhemos filmes por critério de gênero".

Neste ano, a seleção de diretores conta com nomes como os de Terry Gilliam, que já chamou o movimento Me Too de "turba", e Lars von Trier, acusado de assédio sexual pela atriz e cantora Björk.

As declarações de Frémaux encontram respaldo nas do diretor alemão Tom Tykwer, presidente do júri no último Festival de Berlim. Em fevereiro, o cineasta disse que o debate sobre assédio deveria deixar de apontar o dedo para indivíduos e se concentrar em questões maiores, como ética e abuso de poder.

Vale lembrar que Cannes fica no mesmo país em que Catherine Deneuve e outras francesas assinaram um manifesto condenando estupros, mas alertando contra o "denuncismo" das colegas americanas.

São visões de europeus que colidem com o que impera do outro lado do oceano, em Hollywood, onde homens outrora poderosos caíram um a um sob o peso de acusações individualizadas, personalizadas. Processos judiciais correm em paralelo, e em outro ritmo.

A própria decisão do festival de receber de volta o diretor Lars von Trier, sete anos após ele ter sido banido por dizer que compreendia Hitler, vai nessa mesma linha de separar o artista do homem.

Também revela uma tentativa por parte do festival de usar a polêmica como arma para se manter sob holofotes numa era em que a sala de cinema perde espaço para a TV (mais especificamente as plataformas de streaming).
Estima-se que o mais poderoso estúdio de cinema, a Disney, valha atualmente US$ 150 bilhões. Mas a

Netflix, o poder emergente que está remodelando a lógica de produção e distribuição da indústria, já chegou à cifra de US$ 138 bilhões e é cotada para ultrapassar a casa do Mickey no futuro.

A Disney levará a Cannes o novo "Han Solo". Já a Netflix rompeu com o festival francês ao rejeitar a exigência de projetar seus longas nos cinemas após exibi-los na mostra.

Diretor de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos afirmou à revista Variety que Cannes precisa "se modernizar".
"Escolhemos ser o futuro do cinema", disse à publicação americana. "Se o Festival de Cannes está escolhendo ficar atolado na história do cinema, então tudo bem."

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