Vítima de injúria racial desabafa após agressor ser denunciado à Justiça: 'Luta diária'

Publicado em 20/04/2022, às 18h40
Jovem denunciou caso em novembro do ano passado | Foto: Reprodução/ TV Pajuçara -

Theo Chaves

Em entrevista ao TNH1, na tarde desta quarta-feira, 20, Luís Felipe Ferreira Mesquita, 27, vítima de injúria racial em novembro do ano passado, desabafou sobre a denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) à Justiça, contra o ex-professor Lauro Farias Júnior, suspeito de praticar o crime em um shopping de Maceió.

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O idoso de 68 anos foi denunciado pelo MPAL dois meses após o indiciamento da Polícia Civil. A promotora de Justiça Amélia Adriana de Carvalho Campelo entendeu que a materialidade e a autoria do crime estão configuradas através dos depoimentos das testemunhas e da vítima, mas citou que o professor, em depoimento à autoridade policial, negou a injúria. 

Luis Felipe, agora ex-funcionário de uma loja de esportes, destacou a importância de denunciar casos de racismo, para que o crime não fique impune. À época, diante da negativa de alguns colegas de trabalho em ajudá-lo a investigar o caso, o jovem foi em busca da identidade do autor e acabou ajudando nas investigações.

“Após eu tomar a iniciativa de denunciar o caso, várias pessoas vieram falar também se sentiram representados. Esse é um tipo de crime que deixa feridas na alma! Eu venho em uma luta diária pra tentar me recompor, sabe?! Porque sinto que eu perdi um pouco do Felipe esperançoso, do Felipe confiante na lei. Eu comecei a me olhar no espelho e ter medo. Poxa, calma aí…como pode a minha pele me definir? Portanto, é de suma importância que as pessoas entendam que isso é crime, e que todos somos iguais. Posso ser negro, gay, gordo ou magro, posso ser quem eu quiser. Eu tenho lugar, eu tenho voz e assim é isso que eu acho que tem que ser. Eu sou humano. Eu sou igual a você! Não sou minoria. Essa empatia é muito importante falar sobre isso. A gente precisa falar e também agir. Foi o que eu fiz!", relatou

“Eu estava sofrendo racismo há quatro meses. Foram quatro meses de perseguição, ameaça e agressão. As lojas do shopping não tem banheiro e, nós funcionários, tínhamos que compartilhar os mesmos banheiros que o público. O meu encontro com o Lauro foi sempre nas minhas idas ao banheiro. Nesses encontros infelizes, ele sempre fazia gestos de faca e tesoura, como se fosse cortar o meu cabelo. Até que um dia eu fiquei cansado e perguntei: cara, você me conhece? Ele me respondeu que sim, que eu era o amigo macaco dele que trabalhava naquela loja. Passou algum tempo, ele entrou no na minha loja e me pegou por trás, de costas e pegou aqui na minha nuca. Ele cravou as mãos no meu cabelo, puxou pra perto dele e falou que se tivesse fósforo iria tocar fogo em mim ”, continuou.

Luís Felipe também descreveu o passo a passo para conseguir a identidade do possível autor. “Após confrontar esse professor, eu chamei um segurança de imediato. Contei pra ele e a outras pessoas, mas ninguém de nada fez nada. Senti-me acuado diante de tudo… das agressões… me senti realmente sozinho. Fiz um boletim de ocorrência, fiz reclamações e nada. Mas ele já tinha feito compras por ali e na fatura do cartão, no pagamento do cartão, eu vi quem ele era. Tive que fazer isso, porque, até então, como ninguém estava me ajudando ou estava do meu lado, eu me senti no direito de investigar quem ele era pra me proteger”, contou.

Após descobrir que Lauro Farias Júnior era professor, o jovem relatou que se sentiu ainda mais ferido. “Após pesquisar sobre ele, descobri que o mesmo era professor. Diante disso, me perguntei: como um homem formado, professor é capaz de fazer isso? E o pior que, tipo, me feriu mais ainda, sabe?! Uma pessoa como ele fazer isso é ser desumano”, desabafou.

Durante a entrevista, Luís Felipe confirmou ao TNH1 que acabou deixando o emprego, após ter uma crise de pânico. Ele também disse que, diante do acontecido, não conseguia mais ficar naquele ambiente.

Educador nega - Procurado pela reportagem, o advogado do ex-professor, Thiago Dória, comunicou que já se manifestou nos autos do processo e reforçou que o cliente negou categoricamente a prática da injúria racial, com base no depoimento das testemunhas, que, segundo a defesa, em nenhum momento, confirmaram o crime.

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