O assalto frustrado de cinco falsos policiais militares marcou o primeiro dia de outubro na capital alagoana. As cenas que pareciam criadas em um roteiro de filme, com tiros, correria e rendição de bandidos vestidos de agentes de segurança, assustaram quem passava pelas proximidades da Praça do Centenário, no bairro Farol, no início da tarde dessa terça-feira (1º). Uma pessoa que estaria a trabalho no edifício empresarial alvo dos criminosos foi baleada durante a confusão e socorrida com vida.
A reportagem do TNH1 esteve no local do tiroteio e da prisão do grupo, e confirmou que os assaltantes já estavam sendo monitorados pelas forças de segurança do estado, como também usavam fardamento semelhante ao utilizado pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar. O plano era se passar por policiais, entrar no empresarial e roubar uma joalheira situada em um dos andares.
Abaixo, você confere os detalhes da ação. Da denúncia de um grande assalto até a prisão dos suspeitos, assim como as informações colhidas pelo serviço de inteligência da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL) antes e depois da detenção do grupo.
Tiroteio e prisão
Os homens vestidos com uniformes parecidos com os utilizados pelo Bope foram presos em flagrante depois da troca de tiros após investida da polícia alagoana. O grupo criminoso reagiu à abordagem e efetuou os primeiros disparos, e na sequência, houve o revide. Logo depois, os bandidos foram rendidos.
Os cinco falsos policiais são de Rio Largo e planejavam entrar no Centenário Office, que fica em frente à Praça do Centenário, como policiais e roubar o estabelecimento que comercializa joias.
"Nós estávamos atrasados para o cursinho, eu precisava comer. Eu estava na pracinha. Quando a gente se dirigiu para o prédio, tinha cinco pessoas com a roupa do Bope, fardados e levando enquadro. Achamos estranho aquilo. No começo, pensamos que se tratava de um treinamento, porém alguns policiais pediram para a gente se afastar. Quando entramos no prédio, onde fazemos cursinho preparatório para o Enem, havia várias pessoas nervosas. Uma menina teve crise de ansiedade. Quando perguntamos o que havia acontecido, nos disseram que aquelas pessoas com fardamentos do Bope não eram policiais e que estavam tentando roubar a galeria do prédio e o estacionamento", disse um estudante, em entrevista ao TNH1.
Vídeos mostram a movimentação
Imagens compartilhadas com o TNH1 mostram os agentes fazendo um cerco ao prédio, bloqueando a entrada principal e o acesso ao estacionamento do empresarial. A ação dos policiais é rápida e pouco tempo depois eles conseguem acessar o interior do prédio e interceptar os criminosos.
Uma câmera de segurança flagrou um dos suspeitos do grupo criminoso tirando a farda que usou para se disfarçar de militar e pulando um muro para tentar fugir da polícia. Ele aparece fugindo pela lateral do prédio, onde usou um andaime, que seria de um obra, para saltar sobre o muro do local.
Antes de pular a divisória, o homem tirou o fardamento usado como disfarce e ficou apenas de cueca. Ele foi encontrado próximo da Igreja dos Capuchinhos. Uma foto (confira abaixo) obtida pela reportagem mostra o homem algemado e sendo conduzido por agentes da Polícia Civil e da Rotam.
| (Crédito: Cortesia ao TNH1) |
Após a prisão dos suspeitos, algumas cápsulas de balas deflagradas ficaram espalhadas na rua de acesso ao prédio empresarial. Veja a seguir:
| (Crédito: João Arthur Sampaio/TNH1) |
Segurança Pública acompanhava carro suspeito há 10 dias
De acordo com a SSP/AL, o serviço de inteligência das forças de segurança teve o conhecimento do planejamento dos criminosos por meio de uma denúncia anônima feita ao canal Disque-denúncia. A informação era de que eles, que estariam no município de Rio Largo, tramavam ataque a um grupo rival, ou um grande assalto em território alagoano.
Ao tomar conhecimento dessa denúncia, as equipes de inteligência iniciaram os trabalhos de investigação a fim de identificar as pessoas envolvidas nessa ação. Rapidamente foi identificado o veículo, um Ônix de cor prata e placa JYN-7760. Foi verificado que a placa era fria e o carro passou a ser acompanhado pelas equipes de inteligência.
Nessa terça-feira, os agentes perceberam que o veículo se deslocou de Rio Largo para Maceió, e parou próximo ao Centenário Office. Por ser um prédio comercial, as equipes suspeitaram de que poderia ser algum tipo de assalto e, assim, foi feita a abordagem interceptando a atividade criminosa.
"Há cerca de dez dias recebemos uma denúncia anônima de que um grupo teria encomendado uniformes similares aos usados pela Polícia Militar e, juntamente com esses uniformes , eles estariam fortemente armados. Ou eles praticariam ataque a uma facção rival, ou um grande assalto. A partir disso, conseguimos identificar o carro que eles estavam utilizando. A Secretaria de Segurança Pública, com o apoio de diversos órgãos, fizeram o monitoramento desses criminosos. Na tarde de hoje, acompanhamos esse veículo, eles foram até Rio Largo, voltaram, pararam nas imediações do prédio empresarial. Por se tratar da informação de que eles possivelmente fariam um assalto naquele empresarial, a equipe da Rotam abordou esses criminosos", detalhou o delegado delegado João Marcelo, que está à frente das investigações, em entrevista à reportagem da TV Pajuçara.
Mandado judicial falso
Também foi encontrado em poder dos criminosos um falso mandado de busca e apreensão, o que demonstra que eles, para terem acesso de forma mais fácil ao edifício e cometerem o assalto, se passariam por policiais que iriam cumprir um mandado.
| (Crédito: Divulgação/SSP) |
No falso documento, é possível ver que os bandidos colocaram que ele tinha sido expedido pela 17ª Vara Criminal da Capital. E também havia a frase "Cumprido ao dia 23 de agosto de 2024" escrita de caneta.
Integrante de facção no Rio passou orientações aos assaltantes
Um integrante da facção Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do país, orientou o grupo de assaltantes. Segundo informações repassadas pelo órgão, o trabalho investigativo e de inteligência da polícia demonstrou a vinculação dos cinco criminosos presos com a facção criminosa fluminense. O grupo, que foi preso usando fardas falsas do Bope, teria confessado à polícia estar recebendo orientações para o cometimento do assalto em Maceió de outro criminoso da facção, que estaria no estado do Rio de Janeiro.
O TNH1 teve acesso às imagens dos suspeitos presos pelas autoridades alagoanas. Os fardamentos, que apesar de terem tonalidades parecidas com as do Bope de Alagoas, não são originais da corporação alagoana. A reportagem pesquisou e a loja estampada no material é do Rio de Janeiro.
De acordo com o delegado João Marcelo, os criminosos têm passagens pela polícia e todos são do estado de Alagoas
"Eram cinco criminosos, cada um com uma pistola. Eles têm passagens por diversos crimes, entre eles roubo, tráfico de drogas, organização criminosa, tentativa de homicídio, homicídio. Além disso, todos são aqui do estado de Alagoas. É uma situação bem grave. Lojas não podem vender fardamentos da polícia para pessoas que não sejam da segurança pública. As investigações vão continuar para tentar identificar onde eles conseguiram esses fardamentos", explicou.
Homem ferido é socorrido
O homem ainda não identificado foi ferido na troca de tiros durante tentativa de assalto. A informação inicial foi de que a vítima seria funcionária do local e não teria envolvimento com os bandidos, apenas estava na região no momento do confronto.
A reportagem apurou que o homem estava consciente no momento do socorro e, ao chegar no HGE, conseguiu sair andando da viatura, aparentemente com um ferimento na região do abdômen. O hospital não passou detalhes sobre o estado de saúde da vítima.
“Não tinham postura de policiais”, diz testemunha
Ao TNH1, a farmacêutica Mary Ferreira contou que foi para uma consulta no prédio e, quando subiu, ouviu as pessoas falando sobre o tiroteio que houve no local.
“Os homens eram uns gordos e outros mais magros, todos os rostos cobertos. Não tinham postura de policiais. Todo mundo ficou tenso, nervoso, fecharam a porta e ninguém entrava ou saía”.
Mary conta ainda que a polícia teria chegado rápido ao local e rendeu os suspeitos, fazendo com que tirassem a farda do Bope. Depois, uma equipe da PM ainda foi à joelheira, que seria o alvo dos homens, para saber se tinham conseguido entrar.
O prédio ficou trancado por alguns minutos mesmo após a saída dos policiais. Alguns pais de alunos de um cursinho no local reclamaram da maneira como a situação foi "resolvida" depois da ação policial.
"Teria passado no meio do tiroteio 5 minutos antes", diz estudante
O estudante Rodrigo de Almeida Passos, de 17 anos, e o amigo Lucas, que estudam em um cursinho da região, contaram que pararam para comer uma marmita na hora do almoço. O atraso, segundo eles, foi providencial para evitar o confronto entre policiais e bandidos.
"Se não fosse por conta do atraso dele (o amigo Lucas), por conta de comer a marmita na pracinha, a gente teria passado no meio do tiroteio cinco minutos antes. Chegamos cinco minutos atrasados, se tivéssemos chegado na hora, teríamos caído de cara com o tiroteio", relatou Rodrigo.
Os presos foram encaminhados sob escolta para o Centro Integrado de Segurança Pública, no Benedito Bentes. Veja abaixo a nota da Polícia Militar.
"A Polícia Militar de Alagoas (PM-AL) informa que atendeu a uma ocorrência no início da tarde desta terça-feira (1°) em um empresarial localizado nas proximidades da Praça Centenário, no Farol.
Cinco homens armados entraram no local, em direção a uma joalheria. Fardados com uniformes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), eles simularam que estavam cumprindo um mandado judicial. No entanto, tiveram a ação delituosa frustrada pela Polícia Militar, que por meio de um trabalho de inteligência, já monitorava as ações do grupo.
Com a chegada das guarnições e a ordem de parada para abordagem, a quadrilha efetuou disparos, vindo a atingir um homem que trabalha no local. Ele foi socorrido e encaminhado para atendimento médico.
As equipes das Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam) reagiram aos disparos, cessando a ação e efetuando as prisões. A ocorrência foi encaminhada à Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco). Com eles, a PM apreendeu cinco pistolas de diversos calibres".