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O que deveria ser uma simples viagem para dar continuidade a tratamentos de saúde ganhou contornos de pesadelo na rotina de pacientes e motoristas de vans que prestam serviço a prefeituras do interior: o trajeto até hospitais de referência na cidade do Rio de Janeiro virou sinônimo de perigo. Veículos que fazem esse tipo de transporte vêm sofrendo assaltos constantes, principalmente em vias expressas. Pelo menos cinco casos foram registrados nos 11 primeiros dias de setembro. Motoristas calculam que cerca de 150 furgões foram alvo de criminosos desde janeiro deste ano.
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As abordagens são feitas por homens armados. Geralmente os bandidos estão em motos que, após o roubo, escoltam os veículos. Em 5 de julho, o alvo foi uma van que prestava serviços para a prefeitura de Saquarema, na Região dos Lagos. O motorista transportava dois pacientes — uma criança, que havia passado por uma cirurgia na véspera, e um adolescente — e os pais deles.
— Estava na Linha Vermelha, na altura do Jardim América, quando apareceram seis (bandidos) em três motos. Uma das motos me fechou. Quando vi já tinha uma arma apontada para a van. Aí foi o “perdeu, perdeu”. Um deles entrou e assumiu a direção. Foi aquele horror — contou ele.
‘Em plena luz do dia’
O profissional disse que, minutos depois, os criminosos retiraram todos da van. Os bandidos seguiram em direção ao Morro da Quitanda, na Pavuna, Zona Norte do Rio. Eles conseguiram chamar a Polícia Militar.
— Estava todo mundo fisicamente bem, mas abalado demais. A mãe do menino não parava de chorar. O que me deixa indignado foi que tudo aconteceu às 11h40, em plena luz do dia. Eu fui assaltado numa sexta-feira. Na terça seguinte, outro colega, de Cabo Frio (também na Região dos Lagos), foi roubado — lamentou ele.
Ainda em julho, outro caso aconteceu, mas na Avenida Brasil:
— Estava na altura de Bonsucesso, seguindo para o Centro. De repente, só ouvi uma batida no vidro e, quando virei o rosto, tinha o cano de uma arma. Estava com cinco passageiros que iam passar por consultas médicas. Tivemos que sair da van. Eram quatro caras no total, todos armados, apontando para nós. Uma passageira teve uma crise nervosa, chorava e se tremia toda — disse o motorista, que também prefere não se identificar.
Outro profissional, que toda semana sai do Sul Fluminense para levar pacientes até o centro do Rio, disse que passou a evitar a Avenida Brasil.
— Agora saio da Dutra na Pavuna e só venho pela Linha Vermelha. Muitos colegas estão sendo atacados por bandidos na Avenida Brasil, entre a saída do Trevo das Missões e a Penha — contou.
Há quem conte com a sorte. Um motorista relatou ter escapado de três assaltos este ano. O último há três meses, na Estrada Rio do Pau, na Pavuna, na Zona Norte do Rio:
— Saí da Baixada de madrugada. Levava pacientes para o Rio quando homens em motocicletas nos renderam. Um deles bateu no meu vidro com uma arma e pediu a van. Disse que tinha gente no carro que não podia andar. Ele abriu a porta e viu um paciente deitado. Aí, desistiu do assalto.
Os episódios se repetem: no dia 11 de setembro, uma van que prestava serviços para a prefeitura de São José do Vale do Rio Preto, na Região Serrana, foi roubada na Avenida Brasil, na altura de Ramos. No dia 5 foi a vez de outro veículo do mesmo tipo, vindo de Paraíba do Sul, na altura da Penha. Já no dia 2, duas vans da Fundação Rio Saúde, que transportavam insumos, foram roubadas nas imediações do Sambódromo, no centro do Rio.
Levantamento do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Rio de Janeiro (Sinfrerj), que engloba as 33 maiores associadas do setor, mostra que o problema é bem maior.
— O roubo de vans está insuportável no Rio de Janeiro. De 2019 até 2024, tivemos 65 roubos de veículos de associadas. No pior ano, em 2020, foram 19 registros. Em 2024, já são 14 — disse João Henrique de Paula Fonseca, presidente da entidade.
A Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (DRFA) tem investigação em andamento sobre roubos de vans. Já a Polícia Militar afirmou que o Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) faz patrulhamento dinâmico motorizado com viaturas e motos.
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