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União Europeia barra fusão que criaria gigante mundial da fabricação de trens

| 06/02/19 - 23h02

A Comissão Europeia barrou, nesta quarta-feira (5), a aquisição da francesa Alstom pela alemã Siemens, fusão que criaria uma gigante no setor de equipamentos ferroviários.

O braço executivo da União Europeia disse que a operação poderia reduzir a competição no segmento, elevando preços de sistemas de sinalização e de trens de alta velocidade (que rodam a 300 km/h ou mais) e diminuindo investimentos em pesquisa e inovação.

"Essa concentração teria implicado um aumento de preços para sistemas de sinalização que garantiriam a segurança dos passageiros e das futuras gerações de trens de alta velocidade", afirmou a comissária europeia Margrethe Vestager.

Sindicatos de funcionários da Alstom temiam o fechamento de postos de trabalho em fábricas da firma francesa.

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As companhias ofereceram bens e licenças como moeda de troca pela fusão, mas a comissão não se convenceu de que isso bastaria para manter o equilíbrio do mercado europeu e a oferta ampla a compradores/consumidores.

Não é comum que o órgão bloqueie acordos dessa natureza. Dotado do poder de veto desde 1989, o departamento a cargo da política de concorrência no bloco só o utilizou cerca de 30 vezes até hoje. Em comparação, mais de 6.000 fusões foram aprovadas nos últimos 30 anos.

A fusão criaria a segunda maior companhia de equipamentos ferroviários, com receita combinada de cerca de € 15 bilhões (R$ 63 bilhões).

Os governos de França e Alemanha, que apoiavam a união de forças, já anunciaram que irão apoiar recursos que as empresas se disponham a apresentar à proibição.

Dos dois lados da fronteira, o temor é que a decisão dê ainda mais fôlego ao mastodonte chinês CRRC, líder mundial, criado em 2014 a partir da fusão de duas estatais. É preciso pensar no mercado global, não apenas no europeu, repetem empresários e governantes.

Segundo Bruno Le Maire, ministro francês das Finanças e da Economia, a companhia asiática fabrica anualmente 200 trens de alta velocidade, ante 35 do duo Siemens-Alstom. A diferença de escala se traduz nos faturamentos respectivos (em 2017): € 26 bilhões para a primeira, € 8 bilhões para a segunda.

A CRRC está presente nos trilhos de Boston, Los Angeles, Buenos Aires, Londres e Lagos, entre outros, e já começa a morder o mercado europeu, com contratos na Sérvia e na República Tcheca.

No Brasil, a Alstom está presente nos metrôs de Rio e São Paulo, além do sistema de trens de superfície de Porto Alegre.

Em 2008, a firma esteve no centro da revelação de um esquema de pagamento de propinas a políticos paulistas em troca da assinatura de contratos para a expansão do metrô na maior cidade do país.

A Siemens, também presente no Brasil, fechou um acordo de leniência após ser alvo de denúncia de cartel para fornecimento de trens ao metrô de São Paulo.