UFAL e USP se unem para fortalecer a educação básica alagoana

Publicado em 26/07/2024, às 10h03
Uma das atividades mais diferenciadas do semestre foi o curso presencial de Análise de Dados | Divulgação/Equipe Cátedra Sérgio Henrique Ferreira/IEA-RP -

Assessoria

Dez municípios de Alagoas receberam um conjunto de formações e participaram de uma atividade presencial em Maceió para analisar os dados educacionais de suas redes de ensino, buscando traçar planos de ação que melhorem a aprendizagem dos estudantes. A série de atividades é resultado de parceria entre a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.

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O trabalho conjunto foi estabelecido no Termo de Cooperação Técnica, assinado pelo titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos, e o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo. O objetivo é contribuir para a qualidade da aprendizagem com equidade, nos municípios de Atalaia, Jundiá, Feliz Deserto, Cacimbinhas, Olho D’Água das Flores, Quebrangulo, Pão de Açúcar, Piranhas, Pilar e Paripueira. As atividades formativas deste ano ocorrem para: formação de técnicos das secretarias de Educação para análise de dados (saiba mais abaixo); formação de secretários e secretárias municipais em promoção de políticas de educação antirracistas; e formação de diretores e diretoras em competências de lideranças escolares.

“Estamos proporcionando um importante espaço de articulação, mostrando que as universidades públicas brasileiras têm muito a contribuir com as redes de ensino. Não obstante os inúmeros esforços realizados, podemos avançar mais quando somamos forças”, analisou Mozart. “Os profissionais da Universidade Federal de Alagoas e de todos os municípios participantes estão dando um exemplo de colaboração, e ainda temos o apoio da B3 Social, garantindo que as ações sejam disponibilizadas de forma acessível.”

Para a reitora honorária da Ufal e atual responsável pela parceria com a Cátedra no Estado, Ana Dayse Dorea, a formalização da parceria viabiliza a organização dos trabalhos e acrescenta um fator de motivação aos envolvidos. “No ano passado já realizamos algumas ações em conjunto, com apoio da Associação dos Municípios Alagoanos, e agora podemos institucionalizar uma equipe para ampliar o contato entre a Universidade e as redes de ensino”, afirmou Ana Dayse. “Considero que nós na Universidade temos responsabilidade: em Alagoas o analfabetismo ainda é muito alto, mas somos nós que formamos os alfabetizadores. Precisamos conhecer melhor os desafios reais das escolas e saber ajudar para termos resultados de qualidade”, defendeu.

De acordo com ela, existem outros grupos de pesquisa na Ufal que também podem realizar atividades alinhadas ao que a Cátedra está procurando fazer, trabalhando com municípios, e agora é possível ampliar pontos de contato, articulando trabalhos e ampliando o alcance. “Se a cada momento tem uma pessoa da Universidade procurando uma mesma rede de ensino, isso também pode gerar confusão ou sobrecarga. Quando a gente se conhece e organiza as ações, consegue ser mais efetivo”, propõe, destacando que já foi procurada por profissionais de Pedagogia, Psicologia, Letras, Economia e até áreas da saúde. “Todos estão maravilhados com o trabalho, esse contato com a educação básica realmente faz falta.”

Curso de Análise de Dados

Uma das atividades mais diferenciadas do semestre foi o curso presencial de Análise de Dados, voltado para técnicos das secretarias. No final de junho, as equipes receberam materiais teóricos disponíveis em aulas assíncronas, preparadas pelos profissionais da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira em busca de sistematizar o conhecimento sobre os principais conceitos utilizados no curso. Depois de conhecer o conteúdo, os 25 técnicos se deslocaram de seus municípios até Maceió, para passar por três dias de trabalho prático, conhecendo novas ferramentas e realizando análises concretas para interpretar dados educacionais.

“Por termos enviado um conteúdo preparatório antes, conseguimos avançar mais na prática e isso foi muito bom. Quando chegamos lá, alguns deles já estavam usando os termos mais apropriados e já sabiam identificar melhor suas próprias dúvidas ou dificuldades. A partir daí, a imersão foi extremamente importante para conseguirmos trabalhar nas necessidades específicas do grupo”, contou a pesquisadora e analista de dados da Cátedra, Larissa Maciel.

Ela explicou que os participantes puderam compreender melhor as metodologias estatísticas para realizar análise de dados e também conhecer outras ferramentas para apresentar os números em gráficos e tabelas, facilitando a visualização dos resultados. “Cada um identificou funções nos programas para acrescentar no próprio trabalho, e nos disseram que viram sentido para as atividades que realizam em suas redes”, contou Larissa. “Vimos pessoas que tinham grandes dificuldades no Excel, mas ao usar outras ferramentas conseguiram pensar novas formas de mostrar as informações para as secretarias. Isso permite mais autonomia, para não apenas repassar relatórios, e sim compartilhar interpretações próprias a partir dos dados.”

Além de Larissa, o coordenador do Núcleo de Ciência de Dados em Educação (NCDE) da Cátedra, Rafael Naime Ruggiero, e o analista de dados Pedro Sartori estiveram presentes para apresentar as aulas e orientar os participantes nas dinâmicas. “Fazer esse curso presencialmente agrega muito, porque enquanto um de nós passava as informações, os outros circulavam entre a turma tirando dúvidas assim que surgiam. Estar ao lado deles possibilita maior interação e também confiança, para que eles nos digam o que é mais difícil para eles”, relatou Sartori. Segundo ele, ao apresentar a forma como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) deve ser calculado, alguns participantes declararam que não costumavam fazer da maneira mais correta, porque não sabiam que era preciso fazer a média ponderada entre os componentes (desempenho e fluxo).

“Era algo intuitivo, que alguns deles faziam como foi passado por outra pessoa, mas sem o conhecimento completo. Eles se dedicaram muito ao curso, realmente se empenharam em aprender e nos disseram que vão retornar para seus municípios mais preparados e empenhados em fazer a diferença”, resumiu Sartori. “Isso também só foi possível graças à atenção que a Ufal deu à formação, nós tivemos todo o suporte e uma parceria que foi fundamental.”

A responsável pelas atividades da Cátedra na Ufal, Ana Dayse, resume: “Foi uma mudança de paradigma. A interação presencial promove experiências compartilhadas e trocas profundas, os professores auxiliando com muita dedicação e as equipes dos municípios com 100% de compromisso, inclusive para se ajudar uns aos outros, numa verdadeira rede”, analisou. “E eles sabem da responsabilidade: tiveram uma oportunidade, agora é socializar os aprendizados, colocando em prática no dia a dia dos municípios. Eles estão entusiasmados”.

Até o final do mês, os participantes entregarão relatórios com propostas de aplicação do que aprenderam, e já foi criado um grupo de WhatsApp para manter um canal de trocas, em que novas dúvidas podem ser esclarecidas e outras informações compartilhadas. “Até nossa equipe já recebeu uma sugestão muito boa por meio desse grupo, é importante manter a relação especialmente nesse campo. Não adianta apenas passar conhecimento uma vez, é preciso seguir praticando, fazendo novas tentativas, estabelecendo rotinas de análise de dados para avançar no dia a dia”, defendeu Sartori.

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