Daniel Avelar/Folhapress
A vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidencial deve promover uma reorientação radical na política externa do Brasil.
"Libertaremos o Brasil e o Itamaraty das relações internacionais com viés ideológico a que fomos submetidos nos últimos anos", afirmou o capitão reformado em discurso após a divulgação dos resultados eleitorais no domingo (28).
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Ademais, o assessor econômico do presidente eleito, Paulo Guedes, afirmou o que o Mercosul, eixo central do comércio exterior do país, "não será prioridade".
Ainda no domingo, Bolsonaro recebeu parabéns, via telefone, de quem deve ser um de principais aliados internacionais: o presidente americano, Donald Trump. Em comum, ambos possuem uma retórica verborrágica e um programa populista de direita, que rechaça o multilateralismo.
Ao longo da campanha eleitoral, Bolsonaro viajou aos Estados Unidos e bateu continência para a bandeira americana, e prometeu abrir a economia brasileira para investimentos do país, principalmente nos setores agrícola e extrativista.
As ameaças verbais de Bolsonaro à China, principal parceiro comercial do Brasil, põem lenha na guerra comercial declarada por Trump contra a potência asiática. Não está claro, porém, até que ponto Bolsonaro pretende acirrar os ânimos de Pequim, o que poderia prejudicar ainda mais a já combalida economia brasileira.
Outro provável aliado de Bolsonaro é o recém-eleito presidente da Colômbia, Iván Duque. Ele compartilha com o brasileiro um programa antiesquerdista -se opôs, por exemplo, ao acordo de paz firmado em 2016 com as Farc (antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Ambos deverão liderar a resposta regional à crise humanitária na Venezuela, não sendo descartada uma empreitada intervencionista contra o regime do ditador Nicolás Maduro.
Além disso, Duque e Bolsonaro devem desenhar juntos uma política regional para lidar com o fluxo sem precedentes de refugiados venezuelanos, considerado um dos principais desafios da diplomacia sul-americana.
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, também deverá estar alinhado a Bolsonaro, que prometeu transferir a embaixada brasileira para Jerusalém e romper a aproximação com a Autoridade Palestina.
O capitão reformado viajou a Israel durante a campanha, onde se batizou nas águas do rio Jordão. A relação amistosa entra Bolsonaro e Netanyahu deve aprofundar a cooperação militar entre Brasil e Israel, além de agradar a base evangélica do militar reformado, que vê Israel com bons olhos.
Na Europa, o presidente eleito deverá se manter próximo ao ministro do Interior e homem-forte do governo italiano, Matteo Salvini, um dos primeiros líderes internacionais a celebrar a vitória de Bolsonaro.
"Até no Brasil os cidadãos mandaram a esquerda para a casa!", disse Salvini, líder da Liga, legenda ultradireitista e xenófoba, em rede social.
Salvini pode vir a pressionar a União Europeia para coibir declarações e sanções contra o Brasil diante de eventuais violações ambientais e de direitos humanos associadas ao governo Bolsonaro. Além disso, o capitão reformado deve encontrar em Salvini um ponto de apoio entre os países desenvolvidos para sua retórica antiliberal.
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