André Martins e Lucas Musetti Perazolli / Folhapress
O técnico Mano Menezes foi apresentado oficialmente nesta sexta-feira (29), no Parque São Jorge, após assinar contrato com o Corinthians até dezembro de 2025. Ele descartou "rifar" os jogadores mais velhos do Timão.
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Reformulação: "Não vim para tirar jogador pois está com 38 anos ou ficar porque tem 21. Vim para escolher o melhor para o Corinthians".
Intensidade: "Existe uma confusão generalizada sobre intensidade. Intensidade é fazer bem feito aquilo que se propõe a fazer, não é correria maluca".
Cruzeiro: "Quando eu dirigi o Cruzeiro com muitos jogadores acima dos 32 anos e ganhamos a Copa do Brasil com acima de 30, tínhamos que escolher uma maneira, e pode não ser a do meu sonho, mas funcionou por um bom tempo".
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Convite: "Prazer estar aqui. Quando a gente recebe pela terceira vez o convite para dirigir um clube do tamanho do Corinthians? É uma satisfação estar aqui, do orgulho de voltar pela terceira vez a uma casa como essa. Dizer que o que certamente me levou a aceitar, depois do convite e retorno ainda esse ano, que não era a minha ideia, foi o tipo de relacionamento e respeito que construímos nas outras duas vezes que passei. Esse comprometimento que temos, essa gratidão mútua que temos, me fez voltar aqui e assumir novamente esse desafio de dirigir essa grandeza que o Corinthians é, mesmo faltando três meses para o fim da temporada. Recebi com surpresa, não esperava, nenhum presidente contrata treinador pensando em interromper trabalho. Toda direção quando estabelece contrato é bom levar até o fim, mas às vezes o futebol toma caminhos diferentes. Quando recebi a ligação, primeiro uma consulta e é sempre assim antes de negociação, fui pego de surpresa".
Convite em abril e declaração em 2016 sobre arbitragem: "Eu recebi uma consulta na outra oportunidade, que é como se faz sempre antes de qualquer coisa. Quando a gente recebe consulta, diz estar aberto ou fechado para início de negociação. E eu estava fechado, em meio a um trabalho e não largaria pela metade, pelo menos da minha vontade no Internacional".
"Declarações pós-jogo como essa acontecem das mais variadas vezes, às vezes boas, não tão boas, infelizes. Estamos envolvidos nos jogos, queremos ganhar, eu visto a camisa e o torcedor sabe bem que visto aqui e faço o mesmo tipo de declaração com outra camisa, defendendo meu lado e com todo empenho e dedicação, assim que é o futebol. A gente que concede 15, 20, 30 entrevistas por semana fala bobagem mesmo, escapa, e segue a vida. Somos que nem vocês".
Terceira passagem mais difícil com fogo amigo: "Eu não acho que as coisas se repetem. Todas as situações são diferentes. Essa situação pode ter traços semelhantes, mas será vivido agora. Conversamos muito, eu, presidente, Alessandro, sobre estabelecer relação capaz de sustentar no futebol as eventualidades de ano político, eleição, como há em qualquer clube. Procuramos evitar que isso entre no futebol, são duas coisas que não combinam bem. O presidente trata de questões políticas e eu das técnicas".
Sete trocas de técnicos e resposta rápida: "Eu acredito muito em ideia e conceito de jogar. Os jogadores todos estão sempre precisando disso. É o papel principal do técnico, o que eu quero fazer em curto prazo, com traços bem simples e objetivos. Não dá para fazer coisas complexas em pouco tempo. Esses traços simples são para os jogadores terem consciência do que queremos fazer em cada uma das partidas, para fazer bem feito o que queremos fazer. Se eu não deixar muito claro, haverá confusão, e confusão é prato cheio para as coisas não andarem bem. Que os jogadores saibam direito o que fazer em cada momento do jogo".
Remanescentes da última passagem: "Não gosto desse contato direto treinador e jogador, acho que o jogador tem muitos direitos e não deve ir além desses direitos ao ligar para treinador, nem o contrário quando está em outro clube. Não me sinto bem e não faço isso. É bom ter quem trabalhou com a gente, a defesa quase toda com exceção do Lucas Veríssimo. Ajuda porque temos questões de padrão defensivo que se repete, ter conhecimento do que o treinador gosta encurta caminho. Estamos mais velhos um pouco e não podemos esquecer. Então temos que ter atalhos e experiência para contrabalançar com a juventude que perdemos um pouco. Equipe tem qualidade técnica boa, faz Sul-Americana que surpreendeu e que coloca o clube numa possibilidade de final na terça. Se jogou um jogo parelho contra adversário parelho e montado há um tempo, dirigido há três anos pelo mesmo técnico. É o objetivo maior, mas o clássico não é menos importante. Um jogo de cada vez, pensar o clássico contra o São Paulo amanhã, começamos a trabalhar um pouco, vamos trabalhar mais e tomar decisões. Três jogadores fora por suspensão. Esses três não estarão e os outros só amanhã quando passarei publicamente, mas os jogadores saberão hoje como vamos escolher".
Características do Corinthians: "Só vocês ficam mais novos, a gente olha para a plateia e sempre tem mais jovens, mas alguns velhinhos do meu tempo. A vida vai ensinando um monte de coisa, podemos melhorar em uns aspectos e piorar em outros. Ficamos mais amargos, sem paciência, mas não adianta brigar pois é perder tempo. Vamos estabelecer diálogo, tentar tirar dúvidas dentro da linha que eu gosto. As consequências disso podem ser críticas ou elogios com respeito e vamos nos entender bem. Se for com falta de respeito, vamos nos entender mal. Todos precisamos nos respeitar porque somos importantes para o segmento. 80% de futebol é posicionamento, os times são parecidos tecnicamente falando. Raramente há jogadores fora de série no Brasil, são poucos. A diferença de um time para o outro é ideia, conceito, execução, entrosamento da execução. Alongando o trabalho, há entrosamento melhor. E se a diferença técnica individual não é grande, coletiva faz diferença. É o que dá para fazer em pouco tempo, sem inventar, porque não funcionaria".
Contrato longo: "Quando eu voltei na segunda vez, fizemos um ano de trabalho e, quando estávamos alinhavando algumas coisas, prometi entregar nova equipe montada até o fim do ano. A gente conseguiu fazer a nova equipe, só olhar lá atrás e ver como iniciamos e como terminamos a temporada. O time estava ficando pronto, veio a eleição, opção justa de quem quer trabalhar, mas para quem montou é ruim. Porque na hora de usufruir, se vai embora. Saí de trabalho de um ano e quatro meses, passei um semestre esperando a janela para contratar com qualidade, não quantidade. Me expus, tomei porrada para caramba no primeiro semestre, mas vocês veem o time montado. Chegaram três jogadores indiscutíveis de seleção. Para quem monta é ruim. É uma tentativa de que as coisas sejam mais justas".
Reformulação: "Não, não gosto da palavra laboratório. Acho quase desrespeitoso. Sempre fazemos avaliação. Quem pensa que avalia em dezembro não entende nada desse negócio. Seria injusto para todos avaliar no último mês, quem vive momento pior fica para trás, quem está bem faz contrato longo e não tem continuidade. É constante, complexo, e eu não vim para tirar jogador pois está com 38 anos ou ficar porque tem 21. Vim para escolher o melhor para o Corinthians. Não existe história de tirar todos e só começar com jovens o ano, não se sustenta em lugar nenhum, muito menos aqui. Será feito de forma comedida. Tenho nada contra a idade, tem jogador com 42 anos sendo o melhor da posição. O que importa é performance e constância da performance. É o que mais importa".
Preparação física: "Nós já estamos com dois assistentes, Sidnei e Cauan, que acabou de chegar. O clube vai contratar um preparador físico e vamos trabalhar nesse sentido nos próximos dias. É um cuidado importante para o trabalho ter relação harmoniosa hoje. Não existe mais preparação física separada como antes, é tudo muito próximo. Os trabalhos cabem a todos os profissionais sem trabalhar separado, não há tempo. É tudo muito interligado. Os profissionais precisam ser mais completos do que eram antes e é o que vamos fazer".
Parte emocional e continuidade do trabalho: "Não dá para avaliar ainda sobre como estão ou deixam de estar. Tivemos um treino e contato superficial. Vamos aprofundar a partir de agora e precisamos de mais tempo para falar isso ou aquilo. Encontrei um grupo disposto a trabalhar, é sempre o passo mais importante. Não temos referências de ninguém sobre problema com fulano, esse ou aquele indisposto a trabalhar. Vimos isso nos jogos anteriores, se olha e vê, a gente entende de comportamento, estamos acostumados. Luxemburgo fez trabalho muito bom em grau de dificuldade grande. Trabalho se encerra e faço segundo momento. As comparações não existem por nossa parte, não é elegante, cada um tem seu estilo de conduzir, montar, é imcumbência do treinador e temos capacidade de fazer".
Missão mais difícil: "É a mais emergencial. Se vai ser mais ou menos difícil, só o tempo vai dizer. Já assumi em meio de temporada, assumi trabalho do Vanderlei no Cruzeiro em 2015, em mês muito próximo, acho que setembro. Sempre encontrei trabalho bem posto para fazer o que precisa ser feito a curto prazo. Lá as coisas bem encaminhadas, grupo bem trabalhado em questões técnicas e físicas. A base está aí para o treinador que chega fazer o que acha melhor para o momento".
Base: "Eu sempre trabalhei com jogador jovem, por onde passei. Dentinho e Lulinha em momento difícil, Série B, muita pressão. Na segunda passagem, Malcom com 17 anos e foi titular com Guerrero. Arana com 17 anos? Sempre, onde passamos, colocamos jogadores e trabalhamos na formação final deles. Não basta colocar, é difícil, vai oscilar, é jovem e ainda sem maturidade. Só esperam que rendam e não errem, é crucificado pelo erro. É a realidade dos clubes brasileiros de um modo geral. À medida em que os jovens podem preencher bom percentual do elenco, estamos guardando dinheiro para fazer investimento diferenciado em 2, 3, 4 ou 5 para sustentar os da base. Vai ser assim".
Clássico antes da decisão - poupar?: "O grau de dificuldade é esse, ter grande adversário pela frente, empolgado pelo título, torcedor eufórico. Enfrentaremos esse ambiente, o treinador também precisa ter cuidado para ver quem colocar, é muito fácil tirar um e expor outro. Vamos colocar o melhor, sem correr risco de desgaste excessivo. Vamos botar o que o jogo exige, o campeonato é duríssimo".
Diferença do Corinthians: "Quem não conhece o Corinthians no dia a dia imagina que internamente é um turbilhão que se enxerga lá fora. E não é. O Corinthians é um dos clubes que mais dá tranquilidade para o profissional trabalhar. É uma marca diferenciada há uns anos. Imaginam ambiente ruim, mas essa tranquilidade dá condição de fazer o trabalho e cobrar quem tem que cobrar por desempenho e dedicação. São as condições ideais para um bom trabalho, na minha opinião".
Onde foi mais feliz?: "Gosto muito de estar aqui, me sinto muito bem, certamente por onde eu passo eu encontro um corinthiano que me trata muito bem e é grato como sou grato. Essas questões ajudam no pontapé inicial. Partir desse sentimento sempre é bom em um lugar. Depois tem que confirmar com bom trabalho, isso não dura. É mais ou menos como lua de mel, tem que continuar retribuindo, sem se acomodar pela construção do passado. É um sentimento que ajuda muito a iniciar".
Bruno Mendez: "Eu também utilizei como lateral, tem um jogo em Santos que faz gol de empate como lateral-direito. Bruno tem essa versatilidade, muita mobilidade para um zagueiro, tem força. Não é exatamente um lateral de apoio, obviamente, no sentido de ultrapassagem, mas pode apoiar movimentação de um atacante mais agudo, dando sustentação. Com um time mais baixo, podemos ganhar um lateral mais alto. Pode fazer as duas funções e temos que equilibrar estatura, é fundamental. Gil, Veríssimo são bem altos e Bruno pode compor pelo lado esquerdo ou direito da zaga central. Não vejo problema para trabalhar com ele. Entrega tudo que precisamos sobre comportamento e contagia a todos. Um jogo pode precisar desse temperamento".
Adversidades: "A gente não cai de pára-quedas sem estudar possibilidades. Sempre trabalhamos para o bom, não para o ruim. Não podemos ficar preocupados por antecipação. Podemos intervir até o jogo do São Paulo para um bom resultado, depois intervir no processo do jogo de terça e é o que vamos fazer".
Renato Augusto: "Eu penso que um grande jogador, diferenciado, tem que jogar o maior número de vezes possível. Se um jogador se apoia em quem tem qualidade e ele não está, a equipe sente. Vamos administrar, talvez poupar durante os jogos para não ficar ausente em outros jogos. Quando chegamos aqui da outra vez, Renato vivia situação parecida, havia terminado temporada com poucos jogos, dificuldade. E nas duas temporada seguintes foi muito participativo e importante como agora. Vamos pensar nisso para ele e todos, precisamos de mais gente para assumir responsabilidade. Não podemos ter protagonismo em um ou dois. Vamos trabalhar para a equipe estar mais próxima, assim correndo menos e ficando mais com a bola. Ficar com a bola é mais gostoso que correr atrás dos outros, os jogadores técnicos se desgastam muito quando ficamos sem bola. Como conceito de jogo, vamos tentar trazer fundamentos para o resultado final ser bom para todo mundo".
Intensidade: "Existe uma confusão generalizada sobre intensidade. Intensidade é fazer bem feito aquilo que se propõe a fazer, não é correria maluca. Todos falam na terceira frase do futebol sobre intensidade, mas poucos sabem exatamente o que é. O mais importante que eu vejo é a equipe fazer bem feito o que se escolhe o que vai fazer. Todas são boas e podem ser ruins quando mal executadas. Se temos que ficar com a bola e escolhemos jogadores técnicos, temos que ficar com a bola, se não vamos sofrer. Sem bola, deixamos de ter intensidade no que nos propomos a fazer. Podemos escolher pressionar mais o homem da bola e estar compacto, porque podem escapar e estourar lá atrás. É executar bem a ideia. Quando eu dirigi o Cruzeiro com muitos jogadores acima dos 32 anos e ganhamos a Copa do Brasil com acima de 30, tínhamos que escolher uma maneira, e pode não ser a do meu sonho, mas funcionou por um bom tempo de acordo com as características. Depois para e temos que encontrar soluções. Futebol é a revolução das ideias, não podemos morrer abraçados com conceitos se o campo mostra outro caminho".
Pensamento vitorioso: "O título não dá um futebol diferenciado para equipe, mas dá confiança, rótulo de vencedor. E esse rótulo alivia essa pressão que acompanha todas as equipes pelas conquistas. Quando se fica um tempo sem vencer, os grandes jogos ficam mais difíceis, com mais pressão. Quando se conquista, há menos tensão nas decisões. Tendo jogador assim, não se diminui a fome de novas conquistas. É ótimo ser campeão e eles sabem esse gosto, estão preparados para o momento de tensão. Quem não está preparado, fica preso, arrisca menos, e o simples pode não ser suficiente. Esses jogadores estão acostumados com isso".
Confiança fora de casa e desempenho: "Eu gosto de desempenho bom, acho que sempre que puder aliar desempenho a vitórias é bom, todos trabalham para isso. Mas não pode ser menos importante ganhar do que jogar bem. Vencer é vencer. Vencer ajuda a ter desempenho melhor na frente. Vai ganhando conquistas, vai ganhando confiança, ganhando qualidade, mantendo trabalho mais tempo e isso tudo é ganho. Continua sendo muito importante vencer. Torcedor gosta muito de ganhar, principalmente o brasileiro. Sobre jogar fora de casa, é difícil para todos. Os times das primeiras competições também têm dificuldade. O ambiente ainda influencia muito no Brasil, América Latina como um todo. É muito difícil jogar contra o Corinthians na arena, às vezes nem joga bem e ganha. A equipe, de qualquer jeito, precisa ser mais consistente, e isso depende dos conceitos para fazer dentro e fora de casa as coisas padronizadas e bem feitas".
Bastidor: "Internamente, o Corinthians é muito tranquilo para desenvolver trabalho. Sempre que chegamos aqui encontramos ambiente disposto a trabalhar. Se estão dispostos a trabalhar, envolvidos em fazer o melhor, é trabalhar que as coisas acontecem".
Legado em 2014 sobre Guerrero e Moscardo: "Eu não gostaria de individualizar muito as análises por questões óbvias, treinadores valorizam o coletivo. Temos muitos jogadores jovens em potencial. Hoje vejo com outros olhos, mais detalhes, e vou conhecê-los pessoalmente. Conta muito e aponta para o desenvolvimento deles. Quando eu cheguei à época, jogava Romarinho pela direita, Guerrero e Sheik pela esquerda. O time tinha ganho tudo dessa maneira, era marcante, mas o sistema chegou em um momento que não funciona tão bem, adversários marcam melhor. Então deixei só dois atacantes e trouxe mais um ao meio-campo, com dois volantes, dois meias e dois atacantes. Tirei Guerrero de jogar só de costas e tomando pancada, e tomava muito. E gostou, parou de apanhar um pouco. Vi ele jogar Copa América pelo Peru assim. Resgatei essas informações, sentamos, conversamos e desenvolvemos outra maneira. Tinha mais espaço, não é que não atacava espaço, mas se mexia mais. Vamos pensar no Yuri Alberto da mesma maneira, já fez jogos melhores, às vezes é assim por perder sua referência em equipe nova, mudanças, e depois retoma. E vai crescer".
Conceito em pouco tempo e emergência: "Não serão três treinos completos. Os que jogarão contra o São Paulo não podem treinar normalmente no domingo. Preciso aproximar mais a equipe, estamos analisando desde ontem, olhando, a equipe está um pouco longe. E não dá para jogar estando tão longe por dois motivos: o primeiro é que a bola não chega na frente com qualidade, os atacantes sofrem. E quando se perde a bola, não há capacidade de retomar no campo do adversário. Vocês devem ter os dados, o Corinthians está entre as duas equipes que menos recuperam a bola na frente. E isso podemos fazer em pouco tempo".
Técnico com muitos jogos pelo clube: "Terceiro com maior número de jogos, não o maior, vamos evitar. É muito bom estar aqui, sinal de confiança no treinador, o treinador confia no clube. É sempre importante entender que o que foi feito é passado, referência. Tem que construir de novo, trabalhar todo dia, todo tempo para ser ainda melhor. É o que vamos fazer".
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