Sobre a sucessão na Câmara dos Deputados: “Na política brasileira, tudo pode mudar em questão de dias”

Publicado em 09/09/2024, às 15h00 - Atualizado às 15h44

Redação

A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados passou a ganhar outros personagens no curso desta semana.

Pelo que se avalia, o deputado federal Arthur Lira (PP/AL) passou de protagonista a expectador, de acordo com os episódios dos últimos dias.

A explicação é do jornalista Wilson Lima:

“A política brasileira é feita de lobos, leões e raposas. E Nicolau Maquiavel, no distante século XVI em O Príncipe, já ensinava: ‘Sendo obrigado a agir como um animal, deve o príncipe valer-se das qualidades da raposa e do leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas, e a raposa não consegue defender-se dos lobos. É preciso, portanto, ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para afugentar os lobos.’

LEIA TAMBÉM

Arthur Lira, desde o início do ano, tentou agir como uma raposa ao comandar a própria sucessão na presidência da Câmara dos Deputados. Ele conhecia bem as armadilhas, tentou afastar todos os lobos e rugia para manter a sua influência entre seus pares. O plano, no entanto, parece ter ido por água abaixo. A questão é que, assim como ele, existem outras 512 raposas naquela mesma Casa, que sabem exatamente como funcionam esse jogos de poder em Brasília.

Talvez o erro de Lira tenha sido justamente esse: subestimar seus caros colegas. A entrada do líder do Republicanos, Hugo Motta, na disputa pela presidência da Câmara embaralhou o jogoe denota uma clara derrota para o então poderoso Lira.

O plano de Lira era simples, embora ousado: ele endossaria uma candidatura, dava sinal de forças ao Palácio do Planalto, fazia uma transição tranquila e sem sobressaltos e ainda saia do processo com a titularidade de um ministério – provavelmente o das Cidades. Tudo em casa. Esse movimento, diga-se, foi adiantado por Crusoé ainda no primeiro semestre de 2023.

Mas as coisas saíram dos trilhos porque faltou combinar com os russos. Leia-se Gilberto Kassab – presidente do PSD, Lula, Ciro Nogueira – presidente do PP e Marcos Pereira – presidente do Republicanos.

Há aproximadamente duas semanas, Lira conversou com líderes parlamentares e com Lula indicando que iria endossar a candidatura de Elmar Nascimento. Era a senha que os demais precisavam para correr atrás de um nome alternativo e que fosse palatável ao Palácio do Planalto. Lula nunca engoliu o nome de Elmar. O petista tinha receio de que o parlamentar baiano endurecesse as relações entre Planalto e Legislativo, reduzindo ainda mais o poder de influência do governo federal sobre os deputados.

Qual foi a solução? Lula incentivou Kassab a buscar uma alternativa e ele manterá a candidatura de Antonio Brito; Pereira reagiu e indicou Hugo Motta (Republicanos-PB) com as bênçãos de Ciro Nogueira, formando uma coalização de partidos como Republicanos, PP e até PL de Jair Bolsonaro.

Tudo isso sem o aval de Lira.

O atual presidente da Câmara ficou a reboque nesse processo e agora tenta dar as cartas e mostrar alguma força ao Palácio do Planalto. Lula, que sempre tentou negociar junto aos presidentes de partidos, tem uma oportunidade de ouro nas mãos. Caso a candidatura de Motta seja avalizada pelos demais partidos, Lula terá um alado no comando da Câmara e, o melhor, sem a obrigatoriedade de dar um ministério a Lira.

Lira tentou a todo o custo não repetir os erros de Rodrigo Maia. Até conseguiu por determinado momento. Agora, seu destino é absolutamente imprevisível. Até segunda ordem.

Afinal de contas, na política brasileira, tudo pode mudar em questão de dias.”

 

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Corpo de Bombeiros alerta para riscos no abastecimento de veículos elétricos em garagens no subsolo A pedra no sapato que impede a definição do futuro político do governador Paulo Dantas Casa da Indústria recebe hoje o “1º Workshop Sucroalcooleiro de Alagoas para Descarbonização da Mobilidade” Opinião: “Por que o Brasil bate recorde de recuperações judiciais, mesmo com a economia em crescimento”