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Como jogador do Ajax e da seleção da Holanda, Quincy Promes recebia mais de R$ 15 milhões por ano (fora os contratos de publicidade). Muitos até hoje se perguntam por que o atleta em ascensão decidiu arriscar tudo e enveredar no mundo do crime.
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Promes tinha uma vida secreta fora dos campos, conforme concluiu uma longa investigação da polícia holandesa. Agentes interceptaram mensagens do início de 2020 que mostram o jogador finalizando a importação de um carregamento de cocaína que chegava a um porto na vizinha Bélgica.
"Meus garotos estão a caminho de Antuérpia", escreveu Promes.
Seus registros telefônicos foram obtidos pela polícia holandesa e foram usados para condená-lo por tráfico de drogas em um tribunal de Amsterdã este ano.
Promes pagou intermediários — seus "soldados", como ele os chamava — para garantir 1,3 tonelada de cocaína que tinha acabado de chegar do Brasil num contêiner cheio de "sacos de sal".
A atuação de Promes fora dos campos chegou até a intrigar outros traficantes.
"Ele é mesmo aquele jogador de futebol?", perguntou um deles, segundo a polícia.
O crime organizado inflitrado no esporte, especialmente no futebol não é algo incomum. FBI (polícia federal dos EUA) e Interpol costumam agir em operações que têm como alvos utoridades esportivas corruptas, investidores criminosos que se infiltraram em times esportivos profissionais para lavar seu dinheiro ou reputação, ou apostadores que buscam manipular partidas.
Mas quando investigadores começaram a vigiar Promes, descobriram que ele era um alvo incomum: um atleta de elite que parecia obcecado em se tornar um gângster. Seu sucesso em campo só intensificou seu apetite por um tipo diferente de poder nas ruas de Amsterdã, segundo avaliaram, observando o comportamento do atleta.
Em uma linha grampeada em julho de 2020, um amigo perguntou a Promes: "Você ganha mais dinheiro jogando futebol ou fazendo negócios", aparentemente se referindo ao tráfico de drogas. "Fazendo negócios", respondeu Promes.
A sedução da criminalidade consta de centenas de páginas de documentos judiciais que incluem mensagens de texto de Promes, bem como entrevistas com policiais e autoridades do futebol, contou reportagem no "Washington Post".
Apesar de se declarar inocente, Promes foi condenado em fevereiro deste ano a seis anos de prisão. Àquela altura, ele já tinha ido embora. Ele havia deixado o país para jogar pelo Spartak Moscou, um time da primeira divisão da Rússia, onde se tornou um artilheiro, e estava fora do alcance das autoridades holandesas. Mas algumas semanas depois ele reapareceu em Dubai (Emirados Árabes Unidos), onde foi brevemente detido após as autoridades holandesas entrarem com pedido de extradição.
No mês passado, com esse pedido ainda pendente, Promes anunciou outra reviravolta na história: enquanto lutava contra a extradição, sem poder deixar o país do Oriente Médio, ele jogaria futebol profissional pelo United F.C., um time da segunda divisão em Dubai.
Pessoas ao redor de Promes o viam como um "investidor rico", disseram os investigadores, alguém apaixonado por "gângsters" cujo dinheiro poderia ajudar a assinar acordos envolvendo drogas. Por causa de um aumento na cocaína chegando aos portos holandeses, grupos que antes estavam envolvidos em crimes de baixo nível na Holanda agora se dedicam ao tráfico de grandes quantidades de drogas ou estão tentando forçar a sua entrada no negócio em expansão. Promes, apontam as investigações, está no segundo caso.
Durante anos, Promes vinha cultivando um alter ego nas músicas de rap que ele gravou. Ele parecia querer que seus fãs acreditassem que ele vivia uma vida dupla. Ele fazia rap sobre sua proximidade com o crime e a violência e se apresentava com homens que mais tarde seriam condenados por assassinato e sequestro.
"Não tememos balas. Vemos homens correndo para a morte", escreveu Promes numa canção.
Com o passar dos anos, as alusões ao tráfico de drogas se tornaram mais explícitas.
"Todos esses recipientes, como um presente, devem ser desembrulhados", ele disse na gravação de "Wicked Man".
Suas letras não passaram despercebidas por autoridades e se tornaram parte das investigações que culminariam na condenação de Promes.
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