Silva Haidar/FolhaPress
Aumento da flacidez, ressecamento e surgimento de linhas finas são as principais mudanças que ocorrem na pele da mulher quando ela entra no climatério, período que compreende toda a fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo.
LEIA TAMBÉM
Essa etapa da vida, que começa por volta dos 40 anos e vai até os 65, é caracterizada pela diminuição progressiva da produção dos hormônios sexuais, especialmente o estrogênio. É quando os médicos consideram que a mulher tem a pele madura.
A dermatologista Maria Paula Del Nero, membro da SBCD (Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica), explica que os fibroblastos, células responsáveis pela síntese de colágeno, têm receptores para o estrogênio.
"Esse hormônio atua como se fosse um alimento para essas células. Conforme a quantidade de estrogênio vai caindo, os fibroblastos vão ficando enfraquecidos e fabricam menos colágeno. Por isso a pele fica mais flácida", diz.
A queda do estrogênio também afeta os glicosaminoglicanos, componentes da matriz extracelular que promovem a hidratação. "Isso faz com que a pele se torne mais ressecada a partir dos 40 anos. E todas essas alterações em conjunto provocam o afinamento da derme, e assim aparecem as rugas", afirma a dermatologista.
"O estrogênio é um santo remédio para a pele. Quando a paciente pode fazer reposição hormonal, é ótimo. Porque ajuda muito nesse aspecto estético também", ressalta Del Nero.
O hipoestrogenismo, que é a redução dos níveis de estrogênio circulante, age como um catalisador no processo de envelhecimento e da queda na produção de colágeno que começa muito antes, por volta dos 25 anos, observa Luiz
Francisco Cintra Baccaro, professor livre-docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), membro da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e da Comissão de Climatério da SBRH (Sociedade Brasileira de Reprodução Humana).
Mas a reposição hormonal precisa ter a indicação correta. A recomendação do tratamento é feita por meio de diagnóstico clínico, quando há presença de sintomas vasomotores, como fogachos, sudorese excessiva e taquicardia, síndrome geniturinária, com ocorrência de secura vaginal, infecções urinárias recorrentes e dor nas relações sexuais, para a preservação da massa óssea, quando há risco de osteoporose, e quando ocorre a menopausa precoce, ou seja, a interrupção da menstruação por mais de 12 meses consecutivos antes dos 40 anos.
Mesmo assim, reforça o médico, é preciso avaliar as contraindicações. Entre as principais estão as neoplasias hormônio-dependentes, como câncer de mama, de útero (endométrio e musculatura lisa) e de ovário, predisposição para trombose, AVC (acidente vascular cerebral), doença arterial coronariana, entre outras condições.
"Estudos observacionais mostram que a pele melhora com o estrogênio, mas faltam dados de ensaios clínicos para comprovar que isso acontece. De qualquer forma, alterações na pele não são uma indicação primária para reposição hormonal se não houver sintomas vasomotores, por exemplo", reforça Cintra Baccaro.
Para melhorar as alterações que a queda hormonal causa na pele, o ginecologista aconselha que as pacientes procurem um dermatologista.
A especialista Maria Paula Del Nero afirma que o uso de cremes nutritivos, com princípios ativos como peptídeos purificados, proxylane e ácido hialurônico ajuda a manter a pele madura hidratada e com mais viço.
Além do skincare em casa, procedimentos feitos em consultório e realizados por médicos habilitados reduzem a flacidez e as rugas.
"Os principais são os bioestimuladores de colágeno, que são injetados na região desejada e tornam a pele mais firme. De todos os tratamentos, são os que têm mais estudos científicos comprovando sua eficácia", diz a dermatologista.
Mas tecnologias como ultrassom microfocado, lasers e radiofrequência também têm bons resultados na estimulação do colágeno e na redução de rugas e linhas finas. "Essas máquinas proporcionam maior firmeza e melhoram a qualidade da pele."
Já o ácido hialurônico mais fluido, chamado de skinbooster, auxilia na hidratação e reduzem rugas e linhas finas.
"A paciente deve passar em consulta médica para saber quais são as suas reais necessidades e quais técnicas são mais indicadas. Geralmente, os melhores resultados são obtidos com uma combinação de tratamentos", observa Del Nero.
A advogada Ivone Machado, 53, começou a sentir fogachos, irritabilidade e insônia neste ano e logo iniciou a reposição hormonal.
Como ela sempre cuidou da pele preventivamente, conta que os impactos do climatério, como flacidez e ressecamento, foram menores. Mesmo assim, reforçou os tratamentos com bioestimuladores de colágeno, radiofrequência e ácido hialurônico.
Ivone também faz atividade física ao menos três vezes por semana e mantém uma alimentação equilibrada.
Para ela, além da atenção com a saúde, é importante ter uma boa autoestima. "Eu gosto de sorrir, gosto da vida, gosto de mim. Essa é a base de tudo, o resto vem só como complemento", diz.
ENTENDA COMO OS PROCEDIMENTOS FUNCIONAM
Com diferentes nomes comerciais, os bioestimuladores de colágeno são derivados de substâncias como o ácido poli-L-lático (Sculptra) e a hidroxiapatita de cálcio (Radiesse).
Essas substâncias são aplicadas com cânulas sob a pele e geram uma reação inflamatória controlada no local, o que estimula os fibroblastos a fabricarem mais colágeno.
Os bioestimuladores são indicados para tratar flacidez e melhorar a qualidade da pele quando ela é muito fina e enrugada.
Os produtos demoram cerca de um mês para fazer efeito, atingem o auge da ação três meses depois do procedimento e os resultados duram até dois anos.
O equipamento emite ondas de ultrassom que atingem diferentes camadas da pele e geram uma resposta inflamatória que estimula a produção de colágeno. Os efeitos começam a ser vistos um mês após a sessão e duram até um ano.
Dependendo de cada paciente, podem ser indicadas de uma a três aplicações, com intervalo de 30 dias.
As ponteiras do aparelho são manipuladas pelo profissional de modo que a frequência chega a uma área chamada fáscia muscular, fazendo esse tecido contrair e levantar, promovendo um efeito lifting.
Os lasers atuam na pele por meio dos cromóforos, que são moléculas capazes de absorver luz. Os aparelhos utilizados atualmente na dermatologia são os fracionados, o que significa que seus feixes de luz são divididos em vários microfeixes, permitindo atingir camadas profundas da pele de modo menos agressivo.
Para tratar flacidez, são usados tanto os lasers ablativos como os não ablativos. Os ablativos, como o de CO2, removem as camadas superficiais da pele e geram um efeito de alisamento. Por isso, precisam ser aplicados com anestésicos tópicos e requerem um tempo maior de recuperação —a pele descasca e demora cerca de dez dias para se regenerar. Já os não ablativos preservam a epiderme.
Os dois são capazes de estimular a produção de colágeno e melhorar a qualidade. A partir de uma avaliação médica, o profissional vai decidir qual é o mais indicado para a paciente e quantas sessões são necessárias.
O aquecimento gerado pela radiofrequência atinge as camadas mais profundas da pele e estimula os fibroblastos, que vão produzir colágeno.
É um procedimento não invasivo e indolor. O calor da máquina é controlado e não provoca queimaduras.
Para que ocorra a estimulação das novas fibras de colágeno, deve-se respeitar o intervalo de pelo menos 20 dias entre as sessões —geralmente, são indicadas três para obter bons resultados..
O ácido hialurônico em sua versão mais fluida tem a capacidade de melhorar a qualidade da pele quando é injetado superficialmente sob a derme. O produto é conhecido como skinbooster, promove a hidratação e suaviza linhas finas ao redor dos olhos, da boca, no colo e no pescoço.
Assim como o colágeno, o ácido hialurônico também já existe no nosso organismo. Mas também é reproduzido em laboratório para que possa ser aplicado em maiores quantidades, por meio de seringas e cânulas, promovendo volume e sustentação a algumas áreas da face, além da hidratação na pele.
O material é reabsorvido naturalmente pelo organismo e dura por volta de oito meses.
LEIA MAIS