Ronda no Bairro devolve hábitos simples tirados da população pela violência

Publicado em 11/01/2018, às 14h47

Redação

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Em apenas seis dias de atuação no bairro do Jacintinho, em Maceió, o Ronda no Bairro já devolveu hábitos simples à população que vivia enclausurada por causa da violência. Moradores, comerciantes, feirantes, todos aprovam o Programa implantado pelo Governo do Estado e pedem a permanência das ações.

Após concluir os afazeres domésticos, dona Ana Maria da Silva, 67 anos, tomou banho, vestiu-se, perfumou-se, pendurou nas orelhas dois lustrosos brincos e se aboletou na calçada, toda radiante. Ao lado da vizinha e amiga Nazaré Ribeiro, 62, técnica em enfermagem aposentada, ela engatou uma conversa animada para falar das amenidades da vida, da rua, do bairro.

Conversas assim, ao ar livre, eram cada vez mais raras no Jacintinho, conta dona Ana. O toque de recolher imposto pelos criminosos imperava e para “tomar uma fuga” a aposentada recorria ao claustro do quintal.

“A minha casa é coberta com telha Brasilit, muito quente e não da pra ficar lá dentro o dia todo. Como sou muito medrosa eu deixei de ficar na calçada pra me refrescar no quintal, mas não era a mesma coisa. Aqui na calçada, a gente conversa mais à vontade; o policial passa e fala com a gente, pergunta se está tudo bem. A gente se sente mais segura e aquelas ‘figuras’ (criminosos) não aparecem mais por aqui”, disse dona Ana, à sombra e ao ar fresco, na calçada de casa.

Perto dali, jovens batiam bola num disputado “racha” na quadra da Praça do Mirante, onde foi lançado, no dia 4 de janeiro, o Ronda no Bairro, com a presença do governador Renan Filho. O Programa obedece ao modelo de “polícia de proximidade”, que proporciona interação e cria empatia junto à comunidade.

Feirinha

O Jacintinho é o segundo bairro mais populoso de Maceió com mais de 86 mil habitantes. A Feirinha é o espaço geográfico mais representativo desse adensamento. Ali, o movimento de pessoas fervilha num vaivém frenético. Sobre bancas de madeira, frutas e verduras – dentre outros produtos - são oferecidas à clientela, que serpenteia pelas ruas apertadas. O burburinho só é sobreposto pelas ondas sonoras que invadem os ouvidos, vindas de carros de som, cujos sistemas amplificados anunciam desde pomadas milagrosas a cultos.

O feirante Miguel Januário da Silva, 64, é um dos feirantes do Jacintinho. Antes do Ronda no Bairro, chegava a dormir junto à banca, encoberta por uma grossa lona, com medo dos furtos. Hoje, estende o horário de atendimento até as 19 horas e vai pra casa, tranquilo, descansar. “Até o trânsito melhorou aqui no Jacintinho. A gente não vê mais aqueles motoqueiros pra cima e pra baixo, correndo como uns doidos”, afirmou Januário.

O Ronda no Bairro está sob a responsabilidade das Secretarias de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), da Segurança Pública (SSP), da Assistência Social (Seades) e da Ressocialização e Inclusão Social (Seris). Tem por base os seguintes eixos de atuação: segurança de proximidade, abordagem social/comunitária, atenção à população em situação de vulnerabilidade social e articulação para a requalificação de espaços de convivência mútua degradados.

Camisa do CRB pendurada no ombro, boné, óculos escuros e calçando sandálias de dedo, lá estava o padeiro Leonardo Gomes da Silva, 67, numa das esquinas da Rua Bonfim, uma das mais movimentadas do Jacintinho, contígua à Avenida Cleto Campelo.

Leonardo é de pouca conversa. Desconfiado, demora a estabelecer diálogo, mas, aos poucos, vai se sentindo mais à vontade e puxa da memória um Jacintinho que já não existe mais, em que a tranquilidade reinava absoluta.

“Eu conheci sossego aqui na década de 80. O Jacintinho mudou muito de lá pra cá, a droga acabou com tudo e a violência tomou conta. Apesar de ainda ser muito cedo pra falar alguma coisa, no meu ponto de vista, o Ronda no Bairro combateu mais a violência, porque o bandido pensa duas vezes antes de fazer alguma coisa com a polícia na rua”, ponderou Leonardo Gomes.

Sessenta policiais militares da reserva e da ativa atuam na área comercial do Jacintinho, nos dois turnos de serviço. As patrulhas realizam rondas a pé, de moto e de bicicleta, na área comercial, no trecho compreendido entre a TV Ponta Verde até a Madeireira Malta. Todas as abordagens realizadas pelas patrulhas são filmadas e armazenadas num servidor do Instituto de Tecnologia em Informática e Informação (Itec).

Receptividade

O 1º sargento da Reserva Remunerada (RR) Asteclínio Francisco Moura comanda uma das guarnições do Ronda no Bairro. Ele conta que a receptividade da comunidade ao Programa tem superado as expectativas.

“Por conta desse modelo de polícia de proximidade, a gente acaba estabelecendo e criando uma relação de confiança com a comunidade. Esse lugar aqui onde trabalho é um ponto crítico. Antes do Ronda no Bairro, os comerciantes fechavam os seus estabelecimentos uma, duas horas antes do horário normal com medo de assaltos. Agora, não”, revelou o militar.

De acordo com ele, nos primeiros dias de atuação no Jacintinho, o Ronda no Bairro frustrou dois assaltos: um contra uma casa lotérica e outro a transeunte, em um ponto de ônibus. “Estamos amando esse Programa, está ótimo! A loja era fechada às 18 horas, hoje vamos até às 18h40, 19 horas. A gente sente mais seguro”, afirmou a balconista Maynara Thamirys.

Ela trabalha na loja de bijuterias pertencente à comerciante Aparecida Gomes. A comerciante revela que entre os anos de 2011 e 2013 teve o estabelecimento assaltado quatro vezes. “É claro que todo mundo está aprovando o Ronda no Bairro. Com mais policiais nas ruas, todos ganham. É mais segurança. Nosso desejo é que seja um Programa permanente, que não acabe”, afirmou Cida, como é conhecida.

O Decreto de N° 57.008, de 2 de janeiro de 2018, instituiu o Ronda no Bairro. Os militares voluntários, que aderiram ao Programa, executam suas funções em período de folga, concorrendo a oito serviços, em concordância com a Lei Estadual N° 7.952, de 12 de dezembro de 2017, referente ao Serviço Voluntário Remunerado (SVR) de 8 horas.

Renan Filho garantiu que o Ronda no Bairro é um Programa de Governo, de caráter permanente.

“O Programa será permanente sim, por dois motivos: primeiro, porque a aceitação popular é gigantesca. Segundo, porque Segurança Pública é prioridade para o Governo do Estado. Desde o início do Governo, lançamos uma série de ações. Construímos os Centros Integrados de Segurança Pública (CISPs), instalamos o Força Tarefa, contratamos policiais por concurso público, disponibilizamos mais helicópteros, o sistema de radiocomunicação digital, o Laboratório Forense da Perícia Oficial; estamos construindo um novo IML, batalhões da PM e delegacias especializadas para a Polícia Civil”, declarou Renan Filho.

Êxito

O governador recorda que a ideia de implantar em Alagoas o Ronda no Bairro surgiu a partir de experiências exitosas implantadas em outros países, a exemplo dos Estados Unidos, especialmente em Nova York. Ele lembra, ainda, que alguns Estados brasileiros seguiram o mesmo caminho com excelentes resultados. De acordo com o governador, o objetivo é expandir o Programa a outras áreas da capital.

“O Ronda no Bairro começou no Jacintinho, mas vai chegar ao Benedito Bentes, ao Tabuleiro do Martins, sempre em áreas comerciais e de alto fluxo de pessoas. Chegará também aos bairros da parte baixa de Maceió, à Pajuçara, a Ponta Verde, a Cruz das Almas, à Avenida da Paz, de maneira que vamos fortalecer bastante a Segurança Pública em Alagoas”, afirmou Renan Filho.

O Ronda no Bairro atua, ainda, na mediação de conflitos urbanos e no enfrentamento ao Crime Violento Contra o Patrimônio (CVP) – caracterizado pelo furto, roubo e depredação de prédios e espaços públicos. Essas ações acontecem de forma conjunta com o Centro Integrado Operacional de Segurança Pública (Ciosp), com o videomonitoramento de Maceió, o Disque Denúncia (181) e o Serviço de Inteligência do Sistema de Segurança Pública.

Além das abordagens de proximidade realizadas pelas patrulhas, o programa possui uma Central de Abordagem Social composta por uma equipe multidisciplinar (psicóloga, assistente social e cientista social), responsável pelo reconhecimento e encaminhamento de pessoas em situação de vulnerabilidade social aos órgãos estaduais e municipais competentes.

A equipe também é responsável por organizar intervenções culturais em espaços de convivência mútua, criar parcerias para proporcionar atividades de lazer para a juventude carente local, bem como atuar como interlocutora junto às entidades a exemplo da Rede Acolhe, Anjos da Paz, Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas), Centros de Assistência Social (Cras) e Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD).

“Por orientação do governador Renan Filho, o nosso foco é ocupar o território e criar vínculos com essa comunidade para que ela se sinta protegida e acolhida pelos policiais que irão diariamente realizar o patrulhamento e por toda a equipe do Ronda no Bairro. É uma nova forma de fazer segurança. Queremos estar perto das pessoas”, concluiu o coordenador do Ronda no Bairro, coronel RR Maxwell Santos.

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