Reprodução simulada de gari baleado por PM na Vila Emater é adiada; família faz denúncias contra militares

Publicado em 30/03/2023, às 09h00
Reprodução -

TNH1 com TV Pajuçara

A Polícia Científica de Alagoas precisou adiar a reprodução simulada do caso do gari Walquides Santos da Silva, conhecido como Everton, que seria realizada nessa quarta-feira, 29, na Vila Emater, em Jacarecica. O adiamento teria ocorrido devido às chuvas que caíram em Maceió. A reprodução é uma determinação da Justiça para investigar uma ação da Polícia Militar em janeiro de 2022, que culminou com o gari baleado e acusado por crimes que ele alega não ter cometido. 

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Walquides Santos foi alvejado durante uma ação da polícia na comunidade no dia 13 de janeiro de 2022 e ficou internado no Hospital Geral do Estado (HGE) por duas semanas. A reportagem do Cidade Alerta Alagoas, da TV Pajuçara/Record TV, esteve na Vila Emater e conversou com o advogado e um irmão de Walquides.

"Isso apenas vai concluir toda essa perícia que inocenta o Walquides de qualquer acusação que foi feita sobre ele", afirmou Gualter Baltazar, advogado da vítima. "O Walquides, durante esse período de 1 ano e 2 meses sofreu consequências da cirurgia para retirada da bala, ficou afastado do trabalho quase um ano, retornando agora na função dele, na coleta de lixo, em uma função de menor esforço, que ele não pode fazer ainda. Ele continua abalado, continua com medo, não pode ver um carro da polícia que se assusta", relatou a defesa. 

Um irmão de Walquides relembrou os fatos que aconteceram há um ano e reforçou a denúncia de que teria sofrido ameaças por policiais militares da Ronda Ostensiva Tática Motorizada (ROTAM). 

"Quando meu irmão foi para o hospital, eu fui lá para saber o que tinha acontecido e tudo. No hospital, nós fomos orientados a ir até a Central de Flagrantes para abrir boletim de ocorrência, e a viatura que esteve aqui, na época, perseguia a gente até lá. E, na volta, nós fomos abordados por essa viatura. Sofri ameaça de morte. Eles falaram que se nós não entregássemos a pessoa que eles queriam, nós iríamos morrer porque eles iriam matar a gente. Disseram que iam me levar, iam levar meu outro irmão para Cachoeira do Meirim. E que iriam jogar droga para cima de mim. Ele [o policial] pegou um tablete de maconha e jogou para cima dos meus peitos para eu assumir. Isso foi um fato na madrugada de quinta para sexta. No domingo, meu outro irmão foi abordado pela polícia, os mesmos policiais, e a gente deu que ele foi sequestrado porque eles começaram a rodar com meu irmão por Maceió e torturaram ele. Colocaram a cabeça do meu irmão dentro da água para entregar uma pessoa que nós não fazemos ideia de quem seja", disse um irmão da vítima à TV Pajuçara.

Segundo o advogado de Walquides, a audiência de custódia foi realizada à época sem a presença do gari, porque ele estava internado no HGE, algemado em uma cama do hospital. "Foi decretada a prisão preventiva. E em seguida, o juiz da 11ª Vara viu que algo não estava correto naquilo, viu indícios de erros no inquérito e revogou a prisão preventiva do Walquides", disse o advogado.

"Eu fiquei com muito medo, a ponto de ir embora daqui. Fui embora para outro país. Fiquei longe da minha família por medo. Depois eu voltei e agora, ultimamente, eles (policiais militares) estão vindo aqui basicamente todos os dias, a mesma equipe. Hoje, eles vieram aqui há pouco. Tem meia hora que eles estiveram aqui. Fizeram uma vistoria e foram embora", relatou o irmão de Walquides. 

O TNH1 entrou em contato com a Polícia Científica para saber para quando será remarcada a reprodução simulada. Leia a nota na íntegra:

"NOTA DE ESCLARECIMENTO - A Polícia Científica do Estado de Alagoas, por meio do Instituto de Criminalística, em relação a reprodução simulada referente ao inquérito policial que apura a abordagem policial ao gari Walquides Santos da Silva, a qual seria realizada no dia de ontem (29), mas que foi cancelada devido ao mau tempo, esclarece: 

Que no ano passado, a Chefia de Pericias Externas havia designado um perito criminal para realizar o referido exame pericial, mas que o mesmo pediu suspeição, conforme prevê o Inciso II do Art. 148 do CPC, tendo o referido exame voltado para o cronograma de reproduções simuladas, aguardando a designação de um outro(a) perito(a).

Que uma perita criminal foi designada para o caso, mas que essa atividade pericial é um procedimento demorado, que requer uma leitura minuciosa dos autos do processo, um planejamento complexo das ações que serão desenvolvidas no local para responder os requisitos das solicitações desse tipo de exame.

Que a realização desse tipo de procedimento esbarra ainda na escolha de uma data em que todos os agentes envolvidos possam participar (equipes da Polícia Civil, vítimas, testemunhas, suspeitos, advogados de defesa e acusação, e em alguns casos representantes do Ministério Público).

Esclarece também que outra dificuldade do órgão para o cumprimento das reproduções simuladas é a falta de equipes para a realização desse tipo de atividade. Dificuldade a qual a Polícia Científica espera resolver com a finalização do concurso em andamento, previsto para o segundo semestre deste ano. 

Esclarece ainda que mesmo diante de tal dificuldade, desde outubro do ano passado, a Chefia do Instituto de Criminalística vem se dedicando e trabalhando arduamente para acabar com a fila de pendencias das reproduções simuladas, tendo realizado neste espaço de tempo cinco reproduções simuladas.  

Por fim, informa que assim que for agendada uma nova data para a reprodução simulada do caso do gari Walquides Santos, será dada ampla divulgação".

A TV Pajuçara não conseguiu resposta da Polícia Militar sobre o posicionamento da corporação com relação às denúncias. A reportagem deixa o espaço aberto para os devidos esclarecimentos. 

Entenda o caso - Walquides Santos foi baleado durante uma ação da polícia na comunidade no dia 13 de janeiro de 2022 e ficou internado no Hospital Geral do Estado (HGE). Ele foi autuado em flagrante por suposta tentativa de homicídio, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo e, segundo a polícia, esteve em confronto quando foi atingido numa troca de tiros.

Já a versão da família de Walquides é de que ele foi preso injustamente. Parentes, amigos e vizinhos afirmaram que ele é trabalhador, que não houve a troca de tiros e que a PM teria usado de violência enquanto esteve na comunidade. Eles protestaram por algumas vezes na ocasião, cobrando ação das autoridades para investigar o caso. 

O juiz da 11ª Vara Criminal da Capital, Antônio José Bittencourt, assinou o alvará de soltura no dia 28 daquele mês, que deu permissão para que o gari, de 26 anos, retornasse para casa após receber alta médica do Hospital Geral do Estado (HGE), onde se recuperou de cirurgia. Ele foi baleado no intestino durante a suposta ação ilegal praticada por uma equipe de militares, na Vila Emater.

Após a decisão da Justiça, Walquides Santos da Silva, de 26 anos, foi recebido com festa por familiares, amigos e vizinhos na Vila Emater, em Jacarecica, na tarde daquele mesmo dia 28. 

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