Reintrodução do sorotipo 3 da dengue no Brasil preocupa infectologistas alagoanos

Publicado em 14/03/2024, às 11h50
Arquivo/Fiocruz -

Ascom HEHA

O reaparecimento do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil é um dos fatores responsáveis pela epidemia da doença em diversas regiões brasileiras. Em Alagoas, por enquanto, há a predominância do sorotipo 1, mas a chegada do período de chuvas traz ameaças, uma vez que há mais de 15 anos não há circulação do sorotipo 3 e uma parte da população, por não ter entrado em contato com este subtipo de vírus, pode ser acometida pela forma grave da doença.

LEIA TAMBÉM

O vírus da dengue possui quatro sorotipos. A infecção por um deles gera imunidade contra o mesmo sorotipo, mas é possível contrair dengue novamente se houver contato com um sorotipo diferente. O risco do retorno do sorotipo 3 ocorre por causa da baixa imunidade da população, uma vez que poucas pessoas contraíram esse vírus desde as últimas epidemias registradas no começo dos anos 2000.

O anúncio do aumento de 53% do número de casos notificados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) é visto como alerta pelos especialistas em doenças infectocontagiosas. “Esta epidemia de dengue já vem sendo anunciada há mais de um ano pelos médicos e pesquisadores. Com transmissibilidade maior, o sorotipo 3 apresenta um perigo para nossa população uma vez que ela está mais suscetível. Outra preocupação é que com o calor excessivo e chegada do período chuvoso, a evolução do mosquito é mais rápida, as altas temperaturas aceleram o desenvolvimento de larva para insetos alados”, explicou a infectologista do Hospital Helvio Auto, Vânia Pires.

A temível mistura de altas temperaturas e início do período chuvoso contribui para a maior proliferação dos mosquitos, principalmente em áreas densamente povoadas. Com mais mosquitos, mais picadas e mais infecções com perigo de reintrodução do sorotipo 3. “Temos que lembrar que o Aedes aegypti não transmite somente a dengue. As coinfecções estão ocorrendo, inclusive com a transmissão de mais de uma doença por picada”, informou Vânia Pires.

Para o médico Fernando Maia, infectologista do Hospital Helvio Auto e professor da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), existe a necessidade de atenção para uma faixa específica da população: “O Ministério da Saúde priorizou a vacina da dengue para a faixa etária de pessoas com menos de 20 anos porque parte dessa população não tem imunidade para o sorotipo 3, e também por apresentar maior índice de hospitalização. Essa fatia populacional não era nascida no início dos anos 2000 quando enfrentamos outra epidemia de dengue. Sem falar na reinfecção, que é o principal fator de risco para desenvolver dengue grave”.

Quanto à prevenção, a infectologista Vânia Pires chama a atenção para as ações de cuidado simultâneas. “A vacina Qdenga é eficaz e segura, mas é importante perceber que mesmo que o SUS liberasse a vacinação para toda a população, o laboratório fabricante não conseguiria produzir vacinas em larguíssima escala, como se produz, por exemplo, um medicamento. Então as medidas de prevenção como limpeza de ambientes, eliminação de criadouros do mosquito devem ser atreladas à vacinação da população mais suscetível ao desenvolvimento da forma mais grave da doença”, concluiu a infectologista.

Gostou? Compartilhe

LEIA MAIS

Chikungunya matou mais até agosto deste ano do que em todo 2023, alerta Fiocruz Sono irregular pode aumentar risco de derrame e ataque cardíaco, diz estudo O que é a hidrolipo e quais os riscos do procedimento feito por mulher que morreu em clínica em SP Hospital da Mulher passa a agendar consultas para inserção do DIU