Reeducandos cadeirantes sofrem sem acessibilidade em presídio de Alagoas, aponta relatório

Publicado em 12/10/2022, às 13h15
Foto: Reprodução/MNPCT -

Redação

O relatório feito em sete unidades do Sistema Prisional de Alagoas, divulgado na última sexta-feira, 07, pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), com apoio de integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB-AL), apontou superlotação e uma péssima estrutura predial na Penitenciária Masculina Baldomero Cavalcanti de Oliveira, que fica localizada em Maceió. 

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A unidade prisional conta com reeducandos cadeirantes, que, segundo o relatório, estão expostos a condições degradantes de higiene e imersos a uma convivência diária com a ausência de acessibilidade no local. 

"Considerando a superlotação da cela onde estão alojados, as pessoas que dormem no chão acabam atrapalhando a circulação dos cadeirantes, que precisam transitar com suas cadeiras, dentro da cela, quando precisam ir ao banheiro. Alguns cadeirantes afirmaram já ter se acidentado em razão da falta de adaptação estrutural para suas necessidades. Também não há nenhum tipo de acessibilidade para essas pessoas usarem o banheiro com suas cadeiras de rodas, muito menos autonomia para fazerem suas necessidades fisiológicas no local. O vaso sanitário é revestido de concreto, dificultando que essa pessoa possa sentar-se. A descarga do vaso sanitário e o registro do chuveiro estão localizados numa posição que não permite o acesso por essas pessoas.

Ainda segundo o relatório, alguns reeducandos cadeirantes relataram (veja aqui o relatório completo) que já precisaram fazer suas necessidades em sacos plásticos, situação classificada pelos inspetores como desumana. 

"Nos foi relatado que muitas vezes os reeducandos cadeirantes precisam fazer suas necessidades em sacolas e contam com a ajuda das outras pessoas para que seja dado o devido descarte. Observamos ainda que os cadeirantes simplesmente não têm acessibilidade ao banheiro, devido à estreita largura de passagem, que não permite a sua entrada com a cadeira de rodas. São situações que afrontam a dignidade da pessoa humana e configuram tratamento cruel, desumano e degradante". 

"Estive pessoalmente no Baldomero Cavalcanti, e é inacreditável a situação encontrada dos reeducandos nesta unidade prisional. Não tem acessibilidade. Também não tem módulos especiais para cadeirantes e para a população LGBTIA+, ou seja, todos ficam em celas comuns. Endossamos todo os aspectos apontados pelo relatório e continuamos acompanhando a situação nos presídios de Alagoas", disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AL, advogado Roberto Moura.

Relatório faz recomendações após inspeção - O relatório faz 87 recomendações às autoridades do Estado, entre elas que seja realizado concurso público para reposição do quadro de Defensores Públicos, equipes de saúde, psicossocial e administrativas das unidades prisionais. À Secretaria de Estado de Ressocialização e Inclusão Social (Seris), o relatório recomenda também que "seja estabelecida imediatamente a separação das pessoas presas, provisórias e condenadas nas unidades, respeitando o que estabelece o art. 84 da Lei de Execução Penal".

O que diz a Seris - Diante da série de denúncias relatadas pelos reeducandos da Penitenciária Masculina de Baldomero Cavalcanti de Oliveira, a Secretaria de Estado de Ressocialização e Inclusão Social (SERIS) disse (veja abaixo) que as recomendações feitas pelos órgãos serão acatadas.

"A posição da SERIS é de que as recomendações serão acatadas e a Secretaria está empenhada em seguir com as medidas de reintegração social e melhoria da gestão do sistema. 

A incorporação de cerca 300 novos PPs (policiais penais) será um dos diferenciais positivos.

O outro, ainda mais importante, será a entrada em operação do novo presídio, que fará com que Alagoas torne-se o primeiro estado brasileiro a não ter mais superlotação carcerária".

Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - O Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) faz parte do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, de acordo com a Lei nº 12.847, sancionada no dia 2 de agosto de 2013. O órgão é composto por 11 especialistas independentes (peritos), que terão acesso às instalações de privação de liberdade, como centros de detenção, estabelecimento penal, hospital psiquiátrico, abrigo de pessoa idosa, instituição socioeducativa ou centro militar de detenção disciplinar. Constatadas violações, os peritos elaborarão relatórios com recomendações às demais autoridades competentes, que poderão usá-los para adotar as devidas providências.

Sua instituição atende a compromisso internacional assumido pelo Estado brasileiro em 2007 com a ratificação do Protocolo Facultativo à Convenção Contra Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes da Organização das Nações Unidas – ONU.

O sistema conta ainda com um Comitê Nacional de Combate à Tortura composto por 23 (vinte e três) membros, escolhidos e designados pelo Presidente da República, sendo 11 (onze) representantes de órgãos do Poder Executivo federal e 12 (doze) de conselhos de classes profissionais e de organizações da sociedade civil.

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