Folhapress
O reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Roberto Leher, afirmou na tarde desta quinta-feira (6) que a reconstrução do Museu Nacional, atingido por um incêndio que destruiu o interior do prédio histórico e parte do acervo no último domingo (2), dependerá da inclusão pelo governo federal de uma rubrica específica no orçamento de 2019 para esse fim.
O custo para a reconstrução do museu para que no futuro ele seja reaberto ao público já com um acervo renovado ainda não foi estimado.
LEIA TAMBÉM
Neste momento, a reitoria da UFRJ aguarda para a próxima semana a liberação, pelo governo federal, de uma verba emergencial de R$ 10 milhões para dar início aos trabalhos de proteção e retirada do que restou no museu. Muitas obras ainda estão debaixo de escombros e o local passou a ser uma espécie de sítio arqueológico. O trabalho, então, não será igual ao de outros rescaldos de incêndios, em que a retirada dos escombros pode ser feita com máquinas pesadas.
A Unesco irá trabalhar junto a equipes de arqueólogos da UFRJ e do Museu na retirada de materiais do prédio que pegou fogo.
Num primeiro momento, a verba de R$ 10 milhões será utilizada para contratação, com dispensa de licitação, de uma empresa que irá refazer a cobertura do prédio, além de reforçar a estrutura. A partir daí começam os trabalhos de escavação dos escombros em busca de obras que possam ter resistido ao fogo e aos desabamentos dos pisos do segundo e terceiros pavimentos que se seguiram às chamas.
Após esse trabalho, que deve ocorrer ao longo deste ano e do primeiro semestre do ano que vem, o Museu Nacional procederá o desenvolvimento de um projeto executivo que demandará recursos de R$ 5 milhões, no sentido de definir o modelo do novo museu que será instalado no prédio histórico.
A partir daí, haverá uma nova necessidade de recursos para dar partida à reconstrução efetiva do prédio bicentenário.
É nessa fase que haverá a demanda por recursos do orçamento do governo federal em 2019. Não se sabe ainda valores, mas Leher disse que o Ministério da Cultura já se comprometeu a incluir na LOA (Lei Orçamentária Anual) uma previsão de aportes específicos para a reconstrução do museu, estimada para ter início no segundo semestre do ano que vem.
O Congresso já aprovou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) em julho passado, em previsão que não contemplava ainda recursos para a reconstrução do museu. O governo federal tem até o dia 31 de agosto para enviar a LOA ao congresso.
"Não sabemos ainda de quanto estamos falando do orçamento que essa reconstrução irá demandar. Vamos nas próximas semanas junto a técnicos da Unesco, da Coppe e da nossa faculdade de arquitetura buscar estimar o custo e necessidades dessa reconstrução", explicou Leher, em entrevista concedida na tarde desta quinta-feira.
Questionado sobre o cenário eleitoral -líder nas pesquisas, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) já manifestou interesse em extinguir o ministério da Cultura- Leher evitou prognósticos. Disse apenas se preocupar com candidatos que abertamente negam a cultura como instrumento da educação e a história brasileira.
"Eu como cidadão fico preocupado com a fala de um candidato que chegou a dizer que os portugueses não precisaram pisar na África para escravizar negros", disse, sem citar o nome de Bolsonaro e sua fala em uma entrevista ao programa Roda Viva.
Leher afirmou que independentemente de quem assumir o país no próximo ano, a UFRJ irá manter sua autonomia e que a universidade não tem interesse de que o museu seja desvinculado da sua estrutura. Ele disse rejeitar ainda propostas de privatização da administração do museu.
"A UFRJ zelará por sua autonomia independentemente do governo que entrará. Temos diversos cursos que dependem do conhecimento e das pesquisas geradas nesse museu. Rejeitamos frontalmente qualquer projeto de privatização desse espaço", disse.
O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, afirmou que governos de diversos países já manifestaram interesse em doar acervos para a reconstrução do museu. Entre eles estariam governo da Alemanha, França, Portugal, Áustria, além da família real brasileira que prometeu enviar acervos próprios do período colonial.
Kellner disse que ainda é cedo para saber a extensão das perdas de acervo. No início da semana, a vice-diretora do museu, Cristiana Serejo, chegou a dizer que apenas 10% do acervo havia sido salva, mas voltou atrás.
Como nesse momento não é possível fazer qualquer trabalho nos destroços, não daria para saber o que teria sido de fato salvo. Kellner disse que é uma pessoa naturalmente pessimista, mas que nos últimos dias está otimista de que parte do acervo, mesmo com os desabamentos internos no museu, possa vir a ser recuperada.
Ele explicou que muitos armários ficaram intactos mesmo após o desabamento do assoalho do segundo e terceiro pavimentos.
"Não sou otimista, mas estou animado. Eu estive dentro do museu, abri algumas gavetas e armários e digo que dei alguns sorrisos", disse ele.
A perícia da Polícia Federal continua no prédio. Enquanto isso, pesquisadores não estão autorizados a circular dentro do prédio. Assim que a PF liberar o prédio e os R$ 10 milhões da União forem liberados, os trabalhos de escavação e regate de artefatos serão iniciados. A previsão é que até o final da semana que vem seja dado início a esses trabalhos.
LEIA MAIS