Redação
Cientistas afirmam ter criado ratos saudáveis a partir de óvulos feitos em laboratório, usando apenas células da pele dos animais.
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O experimento marca a primeira produção de óvulos totalmente fora de um rato. A eventual reprodução do processo em humanos abriria caminho para a produção de óvulos artificiais sem necessidade de implantar células imaturas em ovários para desenvolvimento.
A pesquisa foi coordenada pelo biólogo em reprodução assistida Katsuhiko Hayashi, da Universidade Kyushu, no Japão, e descrita em artigo na revista científica Nature.
Os pesquisadores usaram células do rabo de um rato e as reprogramaram: de adultas elas foram transformadas em células ainda imaturas. Depois induziram essas células-tronco (com capacidade de se multiplicar e adquirir funcionalidade de qualquer tecido) a se transformar em óvulos.
Nem todos os óvulos criados saíram saudáveis ou foram viáveis para a pesquisa, mas os que foram considerados "úteis" foram usados em uma fertilização in vitro.
Quando esses óvulos fertilizados foram colocados no útero de uma ratazana adulta, eles se desenvolveram em 26 filhotes aparentemente saudáveis, e conseguiram, inclusive, se reproduzir.
Especialistas acreditam que o estudo poderá oferecer esperança a casais em tratamento de fertilidade, para que possam usar óvulos artificiais. Mas reconhecem que experimentos em humanos ainda demandarão anos de pesquisa.
Barreiras
Cientistas já haviam conseguido produzir espermatozoides em laboratório, mas para esse experimento eles usaram uma célula-tronco ainda embrionária e imatura, conhecida pela capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula.
Mas especialistas admitem que usar uma célula já adulta e transformá-la em óvulo é ainda mais desafiador e alertam sobre barreiras para emprego do método em humanos.
Alguns desses obstáculos são técnicos, mas outros envolvem segurança e questões éticas. Falhas nos óvulos artificiais, por exemplo, poderiam ser transmitidas a gerações futuras.
A técnica usada pelos cientistas japoneses ainda demanda a coleta de algum tecido dos embriões para apoiar os óvulos artificiais enquanto eles amadurecem no laboratório.
"Um dia esse método poderá ser útil para mulheres que perderam a fertilidade em idade ainda jovem, assim como para melhorias em tratamentos de fertilidade mais convencionais", disse o professor Richard Anderson, do Centro de Saúde Reprodutiva da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
"Mas a própria análise cuidadosa desse estudo demonstra a complexidade do processo e como está longe de ser otimizado."
Para o professor Azim Surani, da Universidade de Cambridge, que vem estudando como transformar células de pele humana em percursoras de espermatozoides e óvulos, ainda estamos "muito distantes do uso em humanos".
"Não podemos ter certeza que o mesmo vai acontecer com células humanas. Eticamente, a questão ainda tem que ser discutida entre cientistas e a sociedade".
"Essas discussões ocorreram no passado, e ainda continuam em alguns órgãos regulatórios. Esse é, de fato, o momento correto de começar o debate e envolver toda a população nessas discussões, antes mesmo de o procedimento ser viável em humanos", avaliou.
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