Diogo Bercito/Folhapress
As circunstâncias ainda pouco claras da queda do helicóptero em que estava o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, neste domingo (19), deixam em suspenso o futuro do país. Ele morreu na queda, assim como o chanceler Hossein Amirabdollahian.
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Um jurista de 63 anos, Raisi foi responsável por agravar a instabilidade política e econômica do país desde a sua eleição em 2021. É acusado, também, pela execução de milhares de dissidentes nos anos 1980.
Sua morte aumenta a incerteza em relação ao porvir. Raisi era um dos possíveis sucessores do aiatolá Ali Khamenei. A substituição do líder supremo, de 85 anos e saúde frágil, é uma das grandes preocupações imediatas do país e pode ficar ainda mais complexa.
Raisi nasceu em Mashhad, uma cidade próxima ao Afeganistão e considerada uma das capitais espirituais do país. Estudou em Qom, um dos centros de ensino teológico. Fez carreira como jurista e, aliado de Khamenei, entrelaçou-se ao tecido político.
Seu nome ganhou alguma projeção —e infâmia— quando participou da execução de milhares de prisioneiros políticos em 1988. Acredita-se que Raisi era um dos quatro responsáveis pelo apelidado "comitê da morte", que dava as sentenças de tortura e execução extrajudicial aos dissidentes. A estimativa de mortes oscila entre 2.800 e 3.800, mas o número exato é desconhecido.
Sua participação no comitê foi premiada, não punida. Na sequência, ocupou diversos postos de influência no Judiciário, incluindo o de procurador-geral de 2014 a 2016 e depois de chefe da Justiça de 2019 a 2021.Em 2021, na sua segunda tentativa nas urnas, Raisi foi eleito presidente do Irã. Assumiu o país em uma situação precária. O governo americano, sob Donald Trump, tinha decidido rever o acordo nuclear estabelecido em 2015 entre o Irã e os Estados Unidos. Era tarefa de Raisi estancar a sangria, naquele momento.
Do ponto de vista de potências como EUA e Israel, o acordo nuclear era uma maneira de impedir que o Irã tivesse a bomba. Para o Irã o acordo servia de incentivo político e econômico, aliviando sanções.
Raisi, porém, manteve seu perfil de linha dura e estancou as negociações. Com isso, agravou a crise econômica que assola seu país. Isso é em parte resultado de uma visão de mundo em que enxerga o Irã como uma força de resistência ao poderio americano —e prefere buscar maneiras de sobreviver sem depender de Washington.
O presidente iraniano também entrou em atrito com os EUA devido à morte do general Qassem Suleimani em um ataque americano em 2020. Raisi era próximo de Suleimani e, em mais de uma ocasião, prometeu vingar sua morte.
No meio-tempo, Raisi teve de lidar também com protestos por todo o país motivados pela morte de Mahsa Amini, 22, sob custódia policial, acusada de não vestir o véu islâmico da maneira exigida pelas autoridades religiosas. Foi mais um fracasso de Raisi, que não soube aplacar a ira de uma população cada vez menos conservadora e menos religiosa, descontente com o regime autoritário imposto pela revolução de 1979.
Raisi apoiava a segregação de gêneros no Irã e condenava as relações homossexuais, que já descreveu como selvageria. Representava, pois, visões radicais em declínio no país, em especial entre os mais jovens.
Somou-se a tudo isso a tensão recente com Israel, arquirrival do Irã. Israel crê que, em alguma medida, o Irã esteve envolvido no ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro, uma vez que Teerã apoia e financia a facção. Neste ano, Israel atacou uma representação diplomática iraniana em Damasco, e o Irã revidou lançando milhares de mísseis e drones. A situação segue tensa e pode envolver outros atores regionais.
Com a morte, este é o mundo que seu sucessor vai herdar. Com o vácuo político, a lei iraniana estipula que haja um pleito nos próximos 50 dias. Os olhos estarão fincados nas decisões que serão tomadas —ou seja, se vão agravar ou aliviar as agruras que a população do país vive.
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