Qual a importância de ficar um tempo sem fazer nada? “Pessoas criativas têm esses momentos”, diz especialista

Publicado em 03/11/2024, às 10h21

Redação

Roberto Lent, neurocientista da UFRJ e do Instituto D´Or, está lançando um novo livro: “Existo, Logo Penso”.
Nessa obra ele resgata memórias pessoais para falar sobre novos estudos sobre o cérebro.
Lente concedeu entrevista a Roberta Jansen, do jornal “O Estado de São Paulo”:

 

“Em uma noite fria de junho de 1969, o estudante de Medicina Roberto Lent foi preso, levado por militares de sua casa, no Jardim Botânico, zona sul do Rio, até a Ilha das Flores, transformada em quartel pela ditadura. Embora a acusação que pesava sobre ele fosse vaga, o jovem de 21 anos foi jogado em um banheiro improvisado como solitária – e ficou incomunicável por 25 dias.

‘Sozinho, com os piores pensamentos, lutava para não enfraquecer. Resgatei uma estopa que achei ali e dediquei várias horas, de vários dias, a desfiá-la e refiá-la, transformando-a em um longo barbante que só serviria para conectar minhas emoções desarrumadas’, conta.

A história está no livro Existo, Logo penso: Histórias de um Cérebro Inquieto (Editora ICH), em que o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or parte de suas experiências pessoais para falar, de forma acessível, sobre os mais recentes trabalhos da neurociência.

À medida em que envelhecemos, nossos cérebros, sobrecarregados de informação, começam a esquecer com mais frequência – uma forma de abrir espaço para novos dados. Mas as memórias ligadas a fortes eventos emocionais dificilmente se perdem, explica o neurocientista.

O livro reúne estudos que tratam do cérebro em formação dos bebês ao cérebro sobrecarregado dos idosos, passando pelo cérebro em ebulição dos adolescentes.

São citadas pesquisas que falam da música, do sexo e da morte, sempre entrelaçadas a eventos biográficos resgatados por Lent. Além disso, ele discute como as novas mídias digitais podem embotar nossa imaginação e criatividade.

Os principais trechos da entrevista:

O que já sabemos sobre como pensam os bebês? Já nascemos com os cerca de 86 bilhões de neurônios que temos na vida adulta?

Essa é uma pergunta-chave. A gente sabe pouco porque o acesso é muito difícil quando bebê está dentro do útero. A gente consegue fazer ressonância morfológica, em que conseguimos ver o formato do cérebro, mas a ressonância funcional é mais difícil. E mesmo que a gente consiga fazer, é difícil interpretar. Mas temos alguns dados interessantes. Por exemplo, um estudo feito com bebês de famílias alemãs e francesas. Quando nasceram, cientistas investigaram as características sonoras do choro desses bebês. Descobriram que os bebês franceses choram em oxítonas, com peso maior na última sílaba. Já os bebês alemães choram em paroxítonos. É interessante porque revela que, lá de dentro do útero, já capturavam o que ouviam das famílias e, sobretudo, das mães.

Os bebês já nascem com sotaque?

Exatamente. A gente sabe que eles ouvem dentro do útero. Mas provavelmente não veem – até porque não há nada para ver. Sabemos também que sentem o tato em determinado ponto, mas não sabemos se sentem dor. Isso é fundamental por razões médicas e éticas. A questão do aborto, por exemplo, repousa no possível sofrimento do bebê.

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