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Cada cara fofinha é um flash. Antigamente, enchíamos álbuns com fotos dos filhos, hoje em dia são feeds de redes sociais. Em tempos em que documentamos cada detalhe de nosso dia a dia no Instagram e no Facebook, é muito comum aqueles pais ou mães que publicam várias fotos e vídeos das peripécias do filho. De acordo com uma pesquisa da Karpersky Lab, empresa russa de softwares de segurança digital, 66% dos pais dividem com a rede imagens de suas crianças. O hábito pode, no entanto, colocar os pequenos em perigo. Pessoas mal-intencionadas podem adquirir informações pessoais ao reparar em pequenos detalhes das imagens, como uniforme escolar e a toalha de mesa do restaurante que a família frequenta.
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A Universa conversou com especialistas sobre como você pode estar colocando seus filhos em perigo ao expô-lo na internet:
Você revela os locais que seu filho frequenta
Fazer check-in dos lugares que você vai com seu filho e até mesmo marcar a localização da sua casa pode expor os lugares em que a criança sempre está. "As redes sociais acabam entregando de bandeja todas as informações que pessoas mal-intencionadas precisam saber", fala Simone Markenson, especialista em segurança na internet e coordenadora do curso de Ciência da Computação do Centro Universitário Augusto Motta, no Rio de Janeiro (RJ). A profissional diz que a melhor medida é evitar falar onde você está no momento e, talvez, compartilhar informações apenas bastante tempo depois de ter saído do local.
Thiago Valadares, especialista em comportamento digital e sócio-diretor da SEVEN Grupo Digital, pontua, ainda, a importância do uso das ferramentas de privacidade das redes sociais. "No Facebook, por exemplo, você pode evitar que outras pessoas que não sejam de um grupo restrito vejam as suas publicações", explica o profissional. Deixar as publicações "públicas", para qualquer pessoa que entrar em seu perfil poder ver, é perigoso. "Por isso, é importante checar qual é a configuração de privacidade você está usando atualmente".
Você pode dar informações sobre rotina e estilo de vida
Não é só por meio de ataques cibernéticos que fraudadores podem ter acesso a informações pessoais da sua família. De acordo com Simone, existe uma tática chamada engenharia social. "É o roubo de informações sem o uso de tecnologia, mas com questões sociais", explica ela. "A vítima vai dando informações sobre rotina e vida por meio de indução".
Assim, criminosos podem usar as redes sociais para traçar a sua rotina com a criança. Por exemplo, uma foto de seu filho com o uniforme escolar pode "entregar" onde ele estuda, assim como fazer "stories" da chegada de seu filho da escola pode dar pistas sobre qual o turno em que ele frequenta a instituição. "Isso vale para toda a família. Se o pai publica uma foto mostrando que está viajando, você deixa seu filho vulnerável, porque um sequestrador pode ir até a escola da criança na hora da saída com a desculpa perfeita para levar a criança", aconselha Simone.
O ideal, segundo a especialista, é dar o mínimo de informações possível, inclusive sobre qual o estilo de vida que você leva. "Não publique qual o modelo de carro que você usa ou algo que dê a entender que você tem posses. Isso pode atrair pessoas que queiram fazer um pedido de resgate. Chama a atenção de que ali tenha um possível ponto de interesse".
Fotos do seu filho podem cair em mãos erradas
Em 2016, a ONG SaferNet, que trabalha por um ambiente virtual mais seguro para as pessoas, recebeu 56.924 denúncias anônimas de 17.645 páginas diferentes sobre pornografia infantil, distribuídas em 55 países de cinco continentes. Assim, a exploração sexual da imagem de uma criança é um problema que todos os pais devem levar em consideração quando vão publicar uma imagem de seu filho.
"Por isso, é bom evitar fotos em que a criança pode ser identificada ou aparece de roupa de banho ou só com roupas íntimas", aconselha Simone. Ela é a favor de que as imagens sejam compartilhadas apenas com familiares e pessoas confiáveis, em comunicadores como o Whatsapp. "Fazer uma perfil no Instagram fechado apenas para a família melhora bastante a segurança da criança, mas não evita todos os tipos de problemas", explica. Isso porque é preciso que os seguidores tenham uma orientação para não compartilhar as fotos fora daquele ambiente. "Você não sabe quem pode 'printar' a tela e explorar a imagem da criança", diz.
Seu filho pode, um dia, não ficar nada feliz com o tipo de foto dele que você publica
Thiago Valadares lembra que todo mundo que cresceu anteriormente aos anos 1990 deve ter uma foto tomando banho quando era criança. "E eu não publicaria essa foto hoje em dia. Você acha que seu filho, quando crescer, vai gostar das fotos que você publica dele?", pergunta o especialista. O bom senso é importante na curadoria das imagens que vão ao ar, para não constranger a criança futuramente. "Não exponha seu filho em situações que um dia ele pode ficar magoado".
Simone é defensora da ideia de que não há benefícios em publicar imagens da criança. "Não traz nada de positivo. Ela não vai receber nada por isso nem se sentir mais querida ou amada, então, por que colocá-la em risco por causa de meia dúzia de 'likes'?", justifica a profissional. "Na verdade, a criança nem gostaria de que uma foto dela fosse publicada. Ela não autorizou aquilo".
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