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A publicidade de alimentos está repleta de slogans como "é impossível comer um só". As propagandas criam a ideia de que esses produtos são tão saborosos que é muito difícil comê-los com moderação. As peças publicitárias não estão erradas: os alimentos hiperpalatáveis, parte do grupo de ultraprocessados, são realmente produzidos com o objetivo de criar uma "explosão de sabores".
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Refrigerante, macarrão instantâneo e bolacha recheada são alguns exemplos. Além de apresentam baixo teor de fibras alimentares, proteínas, vitaminas e minerais, podem gerar efeito viciante a longo prazo, segundo especialistas.
POR QUE É TÃO DIFÍCIL COMER POUCO?
A alta quantidade de açúcar, sal e gordura presente nesses alimentos cria neles um sabor acentuado.
"É uma combinação perfeita, que resulta de um processo que envolve muita tecnologia industrial. Os produtos não são muito salgados ou muito doces, nem deixam uma sensação gordurosa na boca", diz Maria Alvim, nutricionista e pesquisadora do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo).
A especialista também destaca que é muito difícil encontrar um alimento in natura que seja rico nesses três nutrientes.
Porém, os ingredientes-chave dos hiperpalatáveis são os aditivos alimentares, substâncias acrescentadas sem qualquer objetivo nutricional. Trata-se de substâncias alimentares que não são encontradas na cozinha doméstica, como os óleos hidrogenados e proteínas hidrolisadas.
"Os aditivos são empregados para modificar a cor, a textura, o sabor e o cheiro, tornando o produto mais palatável", explica Laís Amaral, coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). "Se não fosse pelos aditivos, os ultraprocessados provavelmente nem seriam comestíveis", acrescenta.
De acordo com o nutricionista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Alisson Machado, outro aspecto que torna os hiperpalatáveis potencialmente viciantes são as embalagens. "Muitas vezes, o próprio formato do pacote induz a pessoa a comer todo o conteúdo, e não apenas uma porção. Também é uma embalagem que permite comer o alimento na rua ou em qualquer lugar", destaca o especialista.
Um estudo recente da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, revelou que os hiperpalatáveis têm vínculos com a indústria do tabaco, o que poderia explicar seu potencial viciante. A pesquisa aponta que houve uma enorme disseminação desses produtos no país durante os anos em que essas empresas se tornaram donas de marcas de alimentos, de 1980 a 2001. Trata-se do período em que as companhias enfrentavam uma crescente regulamentação e, por isso, passaram a investir no ramo da alimentação.
"Os ultraprocessados estão inseridos na lógica do capital e do lucro. Não são produtos pensados para alimentar as pessoas, mas, sim, commodities, que tem por objetivo fazer o consumidor comprar cada vez mais", afirma Maria Alvim.
Como identificar esses alimentos?
Para identificar os ultraprocessados, os especialistas aconselham que os consumidores fiquem atentos aos rótulos. É importante saber, porém, que embora a hiperpalatabilidade seja a proposta por trás desse tipo de produto, ela não serve como parâmetro de classificação e não pode ser identificada nas embalagens.
"O conceito traz um componente subjetivo: o que eu considero palatável pode não ser o que outra pessoa considera. Temos percepções diferentes do que vai dar a explosão de sabores, mas, sem dúvidas, a hiperpalatabilidade é a intenção do fabricante", esclarece Alvim.
Ao analisar o rótulo, é recomendável ler a tabela nutricional. Os primeiros ingredientes que aparecem na lista são aqueles encontrados em maior quantidade no produto. Caso açúcar e gordura estejam no topo, vale ligar o sinal de alerta. Uma dica para identificar a adição de açúcar mais facilmente é ficar de olho em termos como "xarope de milho" e "xarope de glucose".
Via de regra, quanto menor a lista de ingredientes, melhor. Além disso, os aditivos alimentares, como aromatizantes e corantes, costumam ser os últimos itens da lista. "Se existe ali um nome estranho, de um ingrediente que não é usado normalmente para cozinhar, é provável que estejamos diante de um aditivo", orienta Amaral.
Outro recurso útil é a rotulagem nutricional frontal: a lupa preta na embalagem dos alimentos, que indica se há excesso de sódio, gordura ou açúcar.
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