Polvos gastam mais energia mudando de cor do que um humano correndo 20 minutos

Publicado em 22/11/2024, às 13h30
- Foto: Reprodução/Freepik

Revista Galileu

Graças à sua capacidade de trocar de cor, os polvos são grandes mestres do disfarce, e utilizam dessa habilidade tanto para assustar predadores quanto para criar armadilhas para suas presas. Embora os especialistas já saibam relativamente bem como esse processo ocorre, o custo energético dessas mudanças de coloração permanecia um mistério. Pelo menos, até agora.

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Um novo estudo sugere que, para realizar suas transformações tonais totais, esses animais queimam quase a mesma quantidade de calorias que um ser humano gastaria em uma corrida na esteira de 23 minutos. Os resultados encontrados foram publicados em um artigo científico, na segunda-feira (18), no periódico PNAS.

“Toda adaptação animal vem com benefícios e custos”, explica Kirt Onthank, um dos autores do projeto, ao site Live Science. “Sabemos muito sobre os benefícios do sistema de mudança de cor do polvo, mas até agora não sabíamos praticamente nada sobre o custo energético [disso]. Acredito que adquirir esse tipo de informação ajuda a ter uma melhor compreensão de que tipos de compensações os polvos estão fazendo para permanecerem escondidos”.

Mudança de coloração

Como outros cefalópodes, os polvos têm um conjunto especial de pequenos órgãos na pele chamados cromatóforos. Cada um deles representa um pequeno saco elástico de pigmento que contém raios de músculos presos a ele. Quando esses músculos estão contraídos, essas estruturas se esticam e sua cor interna pode ser vista.
 
Segundo os especialistas, é como se cada um dos cromatóforos fosse um pequeno pixel em uma tela. “Os polvos têm 230 cromatóforos por milímetro quadrado de sua pele. Para colocar isso em contexto, um monitor 4K de 13 polegadas tem cerca de 180 pixels por mm²”, diz Onthank.
 

Para mudar de cor, milhares de músculos minúsculos nesses órgãos semelhantes a pixels se contraem. Ao controlar seus cromatóforos com o sistema nervoso, os polvos podem criar camuflagens ou colorações muito elaboradas. Assim, para quantificar esse esforço, o novo estudo conduziu seus testes em 17 polvos-vermelhos (Octopus rubescens).

A ideia era medir o consumo de oxigênio durante a expansão e contração do cromatóforo. Eles, então, compararam esse valor com a taxa metabólica de repouso de cada animal.

Resultados da análise

No geral, os polvos utilizaram cerca de 219 micromoles de oxigênio por hora para mudar completamente de cor. Essa quantidade é aproximadamente a mesma quantidade de energia que ele usa para realizar todas as outras funções corporais quando em repouso, descobriu o estudo.

Ao ampliar seus cálculos para corresponder à área de superfície humana, Onthank estima que, se nossa espécie tivesse uma pele similar à do polvo, que muda de cor, queimaríamos cerca de 390 calorias extras por dia mudando de cor. Isso equivale a quase a mesma energia gasta por completar uma corrida de 23 minutos.

Existem diversos animais que conseguem mudar de cor, como peixes, répteis e anfíbios. Contudo, as transformações nessas espécies marinhas são muito mais rápidas e precisas. A maioria dos outros animais, como os camaleões, usam hormônios para controlar o sistema e os pigmentos dentro de suas células, o que leva a um processo mais demorado – mas, provavelmente, com menos gasto de energia.

Os pesquisadores esperam usar seu sistema para medir o gasto de energia em outras espécies de cefalópodes, bem como em polvos de águas profundas. Eles desejam entender melhor essas compensações energéticas e, por sua vez, obter novos insights sobre a biologia dos polvos.

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