Planalto classifica situação de Dilma como "dramática"

Publicado em 18/04/2016, às 07h27

Redação

Ministros e a cúpula do PT avaliam que será muito difícil reverter o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no Senado, mas já começaram a ofensiva para barrar a deposição no plenário da Casa. Embora a autorização para abertura do processo não tenha pego o Palácio do Planalto de surpresa, o tamanho da derrota impressionou o governo.

O Planalto dá como certa a admissão do processo na Comissão Especial a ser instalada no Senado nas próximas 48 horas e considera a situação "dramática". Nesta segunda-feira, 18, no plenário do Senado, o governo tem 28 votos, mas na primeira votação precisa de 41.

"Eu vou lutar até o fim", afirmou Dilma, de acordo com relato dos que estiveram com ela, no Palácio da Alvorada. "A luta continuará até o último instante nas ruas, na Justiça e no Parlamento. Não podemos descansar. Quem pensa que eu vou renunciar pode tirar o cavalinho da chuva", emendou a presidente. Ela acompanhou a votação no Alvorada, onde se reuniu com Lula - que ontem completou um mês de nomeação suspensa na Casa Civil - e com ministros do PT.

O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, escalado como porta-voz do governo após a votação, disse que Dilma não vai renunciar e que ela fará um pronunciamento hoje. O ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner classificou a decisão como "retrocesso". "Acreditamos que o Senado, que representa a Federação, possa observar com mais nitidez as acusações contra a presidenta, uma vez que atingem também alguns governadores de Estado."

Apesar da declaração de resistência do governo, nos bastidores o Planalto avalia que a guerra será ainda mais dura. Em conversas reservadas, dirigentes do PT diziam ontem que a única chance de sobrevivência de Dilma reside na ampliação do desgaste do vice-presidente Michel Temer.

Na noite de domingo, 17, quando a votação do impeachment na Câmara já indicava a derrota, o comentário no Alvorada era que Temer "não vai ter paz" de hoje em diante. Dilma mostrou inconformismo com o fato de a sessão ser conduzida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e réu da Operação Lava Jato.

"Mesmo que Temer venha a ser um presidente interino, não vai aguentar três meses no cargo. Ele é sócio de Cunha e nós vamos expor toda sua fragilidade. Vamos infernizar", disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). "De inferno o PT entende, mas nós queremos o contrário. Queremos o céu", rebateu o senador Romero Jucá (PMDB-RR).

O governo aposta agora no presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para evitar que prazos de tramitação do processo sejam atropelados.

Auxiliares da presidente admitiram, porém, que a situação ficou mais difícil por causa da larga margem de votos com que o impeachment foi aprovado na Câmara. Na prática, ocorreu o que o Planalto temia, uma goleada de "7 a 1". Até recentemente, quando acreditavam ser possível reverter o processo, ministros afirmavam que um governo sem 172 votos na Câmara - número que era necessário para barrar o impeachment - não teria mesmo condições de administrar o País.

Na última hora, o Planalto apelou para as ausências - que contariam a favor de Dilma. Esperava de 20 a 30 faltas, mas apenas dois deputados não apareceram.

Eleições

Na coletiva no Palácio do Planalto, ao ser perguntado sobre a proposta de convocar novas eleições, José Eduardo Cardozo disse que a presidente está disposta a "dialogar com setores da sociedade que querem encontrar saídas para a crise dentro das regras constitucionais."

A tese tem respaldo de integrantes do PT, por acharem que poderia beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também é uma forma de alvejar Temer. "Qual a legitimidade terá um vice-presidente que não foi eleito pelo voto popular?", perguntou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT-MG), que reassumiu o mandato de deputado para votar contra o impeachment. "Qualquer governo que nasça de golpe não é reconhecido pelo PT", disse o presidente do partido, Rui Falcão.

Bicicleta

No dia em que seria votado o destino de seu mandato, Dilma fez a sua pedalada matinal, só que um pouco mais tarde do que de costume. Saiu por volta das 7 horas, mas preferiu encurtar o passeio de bicicleta, que durou 45 minutos. No trajeto, manteve a passagem pelo Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer.

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