Pesquisadores investigam acidente ecológico no 'fim do mundo' da Rússia

Publicado em 05/10/2020, às 19h09
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Igor Gielow / Folhapress

Uma grande quantidade de animais marinhos, como polvos, crustáceos e peixes, surgiu morta em praias perto da capital de Kamtchaka, um dos lugares mais ermos da Rússia.

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Segundo a filial russa do grupo ambientalista Greenpeace, a água na região da baía de Avacha registrou níveis de contaminação com petróleo e fenol, elemento usado na indústria química, até quatro vezes acima do normal no fim de semana.

"É uma catástrofe ecológica", disse o grupo, em nota.

O problema parece ter começado antes. "Os surfistas reclamavam já há algumas semanas que a água estava com um cheiro diferente, e alguns disseram ter ficado com irritação nos olhos", disse Iuri Buriokov, morador de Petropavlosvki-Kamchatski, a capital local.

No Instagram, um desses surfistas, Anton Morozov, descreveu ter visto peixes mortos boiando e a água com aspecto oleoso e gosto amargo.

As autoridades locais, que no sábado (3) haviam negado o problema, nesta segunda (5) abrirarm uma investigação formal sobre o episódio.

Segundo o governador Vladimir Solodov disse à agência de notícias Tass, três hipóteses são consideradas: alguma anomalia envolvendo algas, um vazamento tóxico provocado por humanos ou alguma atividade sísmica inusual que possa ter liberado substâncias venenosas.

A região tem 160 vulcões, 29 deles ativos, e tem uma dos regimes geológicos mais ativos do planeta. Há erupções, gêiseres, lagoas termais. Não é incomum que haja regiões afetadas por gases tóxicos saindo do solo.

É um dos maiores paraísos ecológicos do planeta e, desde que foi aberta para o público depois do fim da Guerra Fria em 1991, um destino de turismo de aventura único.

Além de todos os atrativos geológicos e uma beleza considera a maior de toda a Rússia, a natureza é pujante: os rios são ricos em salmão vermelho e há a maior população de ursos do país. A estátua que simboliza a região, junto ao aeroporto de Ielizovo, não por acaso é de um desses grandes mamíferos com um peixe na boca.

O incidente preocupa também porque Kamtchatka, que tem meros 322 mil habitantes (o mesmo que Guarujá, em São Paulo), tira seu sustento da indústria pesqueira. O caranguejo gigante da região é famoso em toda a Rússia, sendo semelhante ao centolla chileno.

Segundo Buriokov, como não houve nenhum relato oficial de vazamento de petróleo ou produtos químicos, os moradores suspeitam ou de algum petroleiro que tenha tido problemas na região ou de alguma das indústrias secretas do complexo militar da península.

Dada sua localização distante e estratégica, já que a curvatura da Terra a coloca relativamente próxima ao Alasca nos EUA, Kamtchatka sediou unidades da Frota do Pacífico russa desde os tempos do império.
Fechada ao mundo exterior durante os anos soviéticos (1922-1991), a península tem base de submarinos e diversas instalações industriais de defesa. Ao norte, o campo de provas de Kura é alvo de mísseis balísticos intercontinentais que são disparados 6.000 km a oeste dali, da região de Arkhangelsk.

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