Pausa para a leitura: E afinal, o que é o Carnaval?

Publicado em 11/02/2024, às 07h56
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POR FERNANDA VAN DER LAAN*

O carnaval, esse assombro de desvarios e despedidas, é o prelúdio de um espetáculo paradoxal onde a liberdade se confunde com a fuga. Nesse palco efêmero, as almas se vestem de sonhos ou se despem de realidades, embriagadas pela ilusão de que, sob o manto da fantasia, a verdadeira essência pode ser resgatada ou, quem sabe, esquecida.

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É uma época em que o calendário se dobra sobre si mesmo, marcando não apenas a passagem do tempo, mas a transição de estados: da euforia ao lamento, da visibilidade ao anonimato. O carnaval torna-se, assim, uma metáfora viva da existência humana, onde a busca por significado é ofuscada pelo brilho fugaz da alegoria.

Neste caos planejado, onde a ordem é a subversão profana, a despersonalização coletiva se apresenta como um elixir mágico para a monocromia do cotidiano. Sob o pretexto da liberdade, a transgressão da moralidade é normatizada e relativizada. As pessoas, embaladas por sambas-enredo que se assemelham em sua diversidade e improficuidade, entregam-se a uma simulação de alegria tão convincente quanto as fantasias de Carnaval.

A felicidade é perseguida com a mesma intensidade frenética com que se corre atrás de um trio elétrico - uma busca incessante, por vezes desesperada, por algo que sempre parece estar um pouco além do alcance. E nessa corrida, a ironia cruel é que, ao tentarmos escapar de nós mesmos, acabamos nos encontrando nas mesmas multidões de onde tentamos fugir.

O Carnaval não é apenas uma festa; é um espelho que reflete as mais profundas inquietações humanas. A licença poética concedida nos dias de folia permite não apenas o uso de máscaras, mas também revela as que usamos no cotidiano. Máscaras de felicidade, de contentamento, de normalidade - todas elas desesperadas por ocultarem a verdadeira face da nossa vulnerabilidade.

E se as escolas de samba são levadas a sério, com a mesma paixão e comprometimento que poderíamos dedicar à nossa evolução pessoal, talvez resida aí uma lição. Que as estruturas e disciplinas que resplandecem nos desfiles possam inspirar nossa marcha através da vida. Que possamos aprender a desfilar nossos corpos e destilar nossas alegrias não apenas nas avenidas, mas no palco soberano da existência, onde cada dia é um ato, cada escolha é uma nota, e cada momento é parte de um enredo maior.

O carnaval - cacofonia e caos - com seu apocalipse festivo, nos lembra que, no final, todos somos foliões na escola da vida, buscando nosso lugar no desfile, escrutinando olhares de aprovação, tentando entender a letra da música que nos é dada. Talvez, então, a verdadeira sabedoria esteja em saber que, mesmo quando a música termina e as fantasias são guardadas, a dança continua – silenciosa e absoluta como a Quarta-Feira. Que sempre será cinza.

► *FERNANDA VAN DER LAAN É PSICÓLOGA / @fernandissima

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